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Quando cheguei em casa, mostrei a minha mão para Cassian que ficou pasmo com a arte de Nuan, ele me chamou para o ringue para estrear o projeto e começar a me acostumar.
Já dentro da marcação, eu tirava meus sapatos, ainda estava de vestido e por mais que eu não gostasse muito, estava tão animada para lutar com o general que não fui me trocar.
Meus pés tocaram o chão gelado do ringue, enquanto Cassian colocava faixas de pano nos dedos para amortecer.
_ Pronta?_ ele perguntou.
_ Com certeza!_ eu sorri serrando os punhos, me posicionando.
O General levantou as sobrancelhas quando ouviu o barulho dos dedos mecânicos se fechando, estava distraído. Estiquei o braço esquerdo acertando seu rosto com um soco muito bem feito, o metal fez um barulho na cara de Cassian.
Ele voltou a posição assustado.
_ Caralho!_ sussurrou e deu um sorriso quase assustador.
O dia estava frio, o inverno estava se aproximando rápido, então as porradas que levei de Cassian doeram mais que o normal. Eu não estava depositando toda a minha força no ilyriano já que era só um treino, mas estavamos adorando ver como aquela prótese mecânica estava ligada ao meu corpo e obedecia meus comandos.
Nós afastamos para respirar um pouco e antes que pudesse continuar, um encantador de sombras interrompeu.
_ Quero lutar com você!_ ele disse em alto e bom som, eu levantei uma das sobrancelhas e o encarei, nunca lutei com Az.
_ Quer lutar comigo logo quando estou estreando minha prótese?_ perguntei brincando._ Estou tão animada com ela que poderia te deixar mal no final.
_ Estou tão curioso para ver como faria isso.
Respondeu entrando no ringue e se ajeitando, a maneira como ele e o general faziam as coisas eram bem diferentes, por mais que Az tenha uma aparência mais calma, Cassian é mais cuidadoso e delicado, já meu Espião é bruto e firme com quase tudo.
Meus pés tomaram a posição novamente junto com Az, ele é tão lindo e o jeito que me encara me deixa eufórica.
As lâminas nas pontas dos dedos fizeram um barulho agudo quando se rasparam, um pé na frente do outro ataquei Azriel com tudo, não usei minha mão nova agora, iniciei com uma braçada no seu rosto para me dar espaço no pescoço aí deixando um corte sútil com as lâminas alí, eu quase voei em cima do macho.
Ele cambaleou para trás tocando o pescoço, vi seus olhos se serrando com aquilo. Empunhou sua pequena espada de metal para treinos e avançou em mim querendo acertar o rosto, defendi com o braço devolvendo toda a força que ele tinha colocado no golpe para o mesmo. Era como lutar com uma espada sem uma espada, um ponto atrás do outro, nós rimos de vários finais de golpe, ouvindo as peças da prótese se movimentarem. Ofegantes, Azriel se afastou quando lhei dei uma cotovelada nas costas num momento de relaxo do ilyriano.
_ Já está cansado, amor?_ perguntei erguendo a minha postura.
_ Jamais!_ ele respondeu colocando a mão no meu último golpe._ Só acho que já vi o que você é capaz.
Eu ri da desculpa.
_ Vamos parar por aqui apenas porque quero comer!_ ele me deu um sorriso. Eu estava me virando para pegar meus sapatos e ir embora quando ele falou mais alto.
_ Antes de tudo.._ ele segurava um boneco de seu tamanho feito de aço pesado, era um manequim que as mulheres usavam para treinar as vezes, mas muito resistente. Azriel o colocou em posição de luta._ Ataque ele com o poder de seu braço.
A luz azul misturada com o dourado da prótese ainda estava ali dês de que eu coloquei na casa Nuan, era uma boa ideia usar agora para testar sua precisão.
Imaginei que o boneco fosse um dos soldados daquele general do Rei Kludd, um dos vários que usavam meu corpo durante as noites na masmorra do castelo. Desgraçados imundos.
Estiquei meu braço por completo na direção do oponente imaginário e atirei com gosto, o metal brilhou por alguns segundos, Azriel estava longe e eu agradeci por isso já que o boneco se estilhaçou em mil pedaços e logo depois derreteu até sumir. As pontas de coruja dos meus dedos estavam esticados imitando uma arma, só para fazer um charme.
_ Uau!_ disse Nestha boquiaberta._ Isso foi incrível!
Eu sorri para ela e peguei meus sapatos finalmente indo tomar um banho para almoçar, Azriel olhava o chão ainda tentando achar algo do manequim.

Devorei uma tigela de feijão com legumes depois de um banho, agora que podia usar todos os dedos, era como se eu quisesse fazer tudo com ele, até escrever no meu caderno de avanços era incrível.
Pensei que tinha que avisar a Rhys que agora eu poderia ser útil na sua tarefa na prisão, faria isso depois!
A tempos que não fazia algo sozinha, tipo caçar, mas isso deve ser por que eu sofri um acidente e ficar parada é uma coisa que não funciona para mim. A maioria das pessoas vai procurar o que fazer quando está entediada, e por mais que eu não sou muito diferente, quando tenho um estímulo produzo muito mais do que quando estou entediada, agora com meu braço posso fazer altas coisas legais.

Eu não sabia o que faria, mas peguei minhas armas de sempre, vesti meu couro ilyriano e atravessei até as florestas das terras humanas. Tudo tão frio e seco, as plantas sempre cheias de neve que caiam sem parar o tempo todo com o inverno mais próximo que nunca. Tão lindo, embora eu seja amante do sol quentinho tocando minha pele na primavera, a beleza de um lago congelado é tão fascinante!
Minhas orelhas estão sempre atentas a cada passo que eu dou, meu cetro em minhas mãos está quieto por enquanto. Lembro de minha mãe quando me deu o objeto metálico, estava frio como hoje, era meu aniversário e após comemorarmos com um bolo que a mesma fez, tirou o cajado de trás da porta e sorriu para mim. Lasky sempre foi muito carinhosa, no mesmo tanto que era corajosa, disse que via em mim muita grandeza e que o cajado representaria isso.
Ainda vou te vingar, Mamãe! Você é o que me faz querer continuar e ainda vamos aproveitar o Sol em nossos rostos num dia calmo, quando meu cajado tiver mostrado toda a minha grandeza aos mundos.

Atravessando todo aquele lago congelado, ouvi algo se mover entre a neve, passos largos de alguém que talvez ainda não me ouviu ou não liga para mim. Eu decididamente não quero assustar ninguém, então escondi as orelhas no capuz e continuei andando. Segundos depois os passos pararam e outro bem mais pesado iniciou, o alguém parou como se tivesse visto ou reconhecido algo, não parei de andar e comecei a ir na direção do indivíduo, era humano e estava suando. Pouco mais longe, um urso farejava o ar, também reconhecendo cheiro do humano pouco longe dele. Pude ouvir o humano engolindo seco, talvez pensando que corresse para qualquer lugar, uma vez que o urso já tinha notado sua presença, o animal correria atrás dele. Mas animais não atacam sem que algo os incomode, porém, ao observar mais além de onde estávamos, podia ouvir passos de outros 4 animais, os filhotes desse bicho, agora sentindo o cheiro era uma mamãe super atenta.
Eu estou muito longe de todos para que possam me notar, mas eu os ouço perfeitamente, cada passo da mamãe urso e o que o humano está fazendo para sua proteção, mas ele não quer fugir, não está se movimentando para lugar nenhum, mas está se armando. Com um arco e flecha enormes o humano se prepara pra atingir o animal. E seus filhotes já estão chegando perto, as coisas estão ficando apertadas, o urso ainda não fez como quem quer atacar o homem, está esperando. Se ele não atingir ela logo, mesmo que fuja, ela vai pegá-lo no seu primeiro movimento e se ele acerta-la, seus filhotes ficam sozinhos e morrem de fome.
O homem serra os olhos se preparando, dedos firmes no fio do arco e a ursa com seus olhos pretos ainda encara o homem, parece pensar em sua prole. O peito do humano desce soltando o ar que estava preso e dispara, a flecha é tão grande e fede a veneno, assim que entrar em contato com a pele do bicho, vai corroer na hora. A ursa não fica parada e corre na direção do homem dando um rugido, mostrando seus dentes pronta pra defender seus filhotes. Os dois vão morrer.
Meus dedos de metal da mão esquerda se levantam na hora em que a flecha está no meio do caminho até a ursa e ela quase pegando o homem.
A neve que antes caia com delicadeza do céu, parou, os passos rápidos no animal se diminuem de uma vez, a flecha está parada no ar envolvida em uma névoa azul que sai de meus dedos de metal fazendo as injustiças que aconteciam ali se congelarem.
O homem, pálido e com certeza com fome apenas tentando achar algo para levar para casa, não contava topar com algo que podia tirar sua vida ao menor dos movimentos.
A ursa, tem o instinto de proteger seus filhotes de homens irracionais que fariam casacos com suas peles e está tão assustada quando o humano e com certeza, também está na mesma situação de escassez de comida que ele.
Ambos não fariam mal um ao outro se conseguissem entender o que estão pensando.
Ando rápido até o humano que derruba um lágrima do rosto por puro medo. Seus cabelos castanhos claros tem neve nas pontas, suas roupas pesadas pelo frio, estão cheias de artefatos.
Encosto minha mão esquerda em sua testa gelada e sinto meus olhos arderem com o feitiço de transporte que aprendi nas minhas terras, mandaria ele para casa em segurança. O corpo dele se levantou um pouco do chão antes ser coberto pela luz azul e desaparecer da minha frente. Eu gostaria que a sua caçada tivesse rendido algo, mas voltar para casa vivo, talvez seja melhor que virar comida de urso. Pelo menos garanti que não se lembrasse da situação em que estava, ou então ele lembraria de mim e quem sabe uma nova lenda sobre os feericos surgisse pelas aldeias humanas.
O animal ainda estava parado com os dentes a mostra e uma pata na frente da outra. Andei até ela mas não faria ela ir para longe daqui como fiz com o homem, apenas a deixaria em paz. Peguei a flecha que se aproximava dela e tirei do ar guardando comigo junto do cetro para não acabar tocando no veneno.
_ Vá cuidar de seus filhotes!
Desfiz o feitiço que os deixavam congelados e atravessei de volta para Velaris.
A neve naquele lugar voltou a cair normalmente.

Corte de Amor e Caos - AzrielOù les histoires vivent. Découvrez maintenant