Amiga

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— Hum, hum, com licença — pigarreio colocando minha cabeça para dentro da sala. — Posso entrar?

— Claro, o Marshal já está de saída — Lara diz.

Noto em Marshal uma energia estranha e percebo que toda a sensação ruim que me rondou quando coloquei os pés aqui vem dele, franzo a testa e chego a conclusões das quais não gosto, o semblante da Lara parece meio triste e ela está tensa, imagino que tenha interrompido alguma discussão deles.

Cheguei bem na hora certa.

Abro a porta para que ele saia da sala, não me contamino por esses sentimentos ruins, são de raiva e rancor, mas o ignoro por completo, gente assim não merece um pingo de credibilidade, muito menos depois do que eu soube em relação ao que ele causou a ela. Lara se tornou uma amiga bem-vinda desde que a conheci no necrotério, ela estava lá e me segurou mesmo sendo uma completa desconhecida, ela me deu colo e tivemos uma conexão instantânea, sua alma é de uma pessoa justa e bondosa, sempre disposta a ajudar e dar seu melhor.

Ela é a melhor pessoa que eu já conheci em toda a minha vida.

Honesta, íntegra, justa.

É difícil encontrar pessoas que falam a verdade sem medo de julgamentos e ela é assim, nos dias de hoje isso vai muito além porque as pessoas se acostumaram muito a inventar mentiras para tirar vantagem das outras, Lara não, ela não é corrupta como a maioria dos policiais que conheci desde que comecei a colaborar com a corporação.

— Nossa, ele está bem carregado. — Passo a tranca na porta depois de fechá-la e vou até ela. — Ei, vem cá conterrânea, me dá um super abraço.

Lara é uma das poucas pessoas que eu conheço que amam meu país natal e talvez por isso tenhamos nos identificado de cara, ela me aperta e devolvo o abraço com força tentando passar tranquilidade, paz, sei que ela precisa. Não consegui ir a cerimônia de casamento dela, no dia a Quênia estava gripada, com febre, então não pude ir, mas pelo visto não perdi muita coisa.

De alguma forma me sinto um pouco enganada em relação ao Angus Marshal, ele sempre me pareceu de uma índole muito íntegra, contudo, agora percebo nele alguém do qual não merece a Lara em nenhum sentido. Ela começa a chorar e isso me deixa um pouco chateada, sei que não conseguiria impedir que nada acontecesse, mexer com a vontade dos outros e falar coisas das quais possa interferir em casos amorosos não é muito a minha praia.

Eu já vi traições em sonhos, homicídios em visões, eu conheço o caráter de muitas pessoas apenas em olhar para elas, mas não posso simplesmente jogar a merda no ventilador e expor isso a seus parceiros sem que seja pedido, exceto se isso colocar em risco a vida da pessoa de alguma forma.

Não é tão fácil na prática, principalmente quando se envolve pessoas do círculo familiar.

— Vai passar querida — garanto.

Falo passando a mão em suas costas, ela chora e chora, a conduzo para o sofá que fica próximo da janela da sala dela, daqui podemos ver o estacionamento de frente da delegacia e a rua movimentada, os carros de polícia, as motos e alguns policiais e agentes andando pelo lugar, Lara se senta e me sento de frente para ela, não para de chorar, não falo nada, sei que ela precisa por isso para fora nesse momento. Seguro suas mãos mandando boas energias.

"Ele a machucou bastante"

Sei disso, ela não merecia nada parecido, nada que chegasse perto de uma traição ou exposição tão grande, a bem da verdade eu posso reconhecer que Lara é de longe a pessoa mais severa que já conheci na minha vida, ela é bem do tipo de mulher parecida comigo, ela também não é muito de pensar antes de agir quando se trata de tomar decisões, mas não faz rodeios antes de jogar verdade na cara.

Atormentada * DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now