Capítulo 4

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Abri meus olhos devagar. Estava deitada na cama da prisão, ou melhor, um pedaço de madeira pregado com duas correntes na parede, contendo apenas um colchão e um travesseiro, sem esquecer dos lençóis brancos presentes em todas as celas.

Me sentei na cama, levantei e fui andando a passos arrastados até a pia, por um lado, eu ficava agradecida pelos banheiros serem 'privados', era a única parte da cela que ficava 'escondida'.

Os banheiros eram uma pequena cabine de madeira, com uma privada e pia. O cheiro não é nada agradável, eu gostaria de evita-lo o máximo possível, mas se a loura estivesse dizendo mesmo a verdade, eu não aguentaria ficar semanas sem usar o banheiro.

Lavei meu rosto e mãos, e fiquei ali, vendo a água escorrer, meu corpo estava todo dolorido, aquela cama não era nada confortável, e independente de tudo, a ideia de que ratos e outros insetos pudessem passar pelo meu corpo, exigiu que eu ficasse boa parte da noite de olhos abertos.

Desliguei a torneira e fui até o buraco na parede, procurando por Sfhia.

Meu rosto se transformou em uma expressão de surpresa quando olhei para o jovem na cela ao lado.

–Ei! – O rapaz se assustou, procurou pela voz e quando encontrou o buraco, continuou sentado, mas com a atenção em mim agora. Ele tinha cabelos castanhos escuros até o pescoço, sobrancelhas grossas e a barba parecia ter crescido recentemente.

–Quem é você?

Ele se levantou e se aproximou até que eu pudesse ver apenas seus olhos castanhos.

–Por que quer saber?

–Quando você chegou? Tinha uma mulher nesta cela até ontem.

Ele continuou me olhando, quieto, depois continuou.

–Eu cheguei essa manhã, mas se te deixa contente saber, ela estava vazia quando me prenderam aqui. – Ele se movimentou, tentando olhar dentro da minha cela.

Me afastei do buraco, e me sentei na cama.

–Por que está aqui? – Senti um tom irônico na sua voz.

–Pelo mesmo motivo que você, aparentemente. – Cruzei os braços e olhei grade a fora.

–Caçadora de recompensas? Suas vestimentas não escondem muito isso. Estava roubando o que? As bonecas da sua vizinha? – Ele deu um riso irônico, fungando pelo nariz.

–Só se forem as suas bonecas. – Não olhei em sua direção, mas não pude disfarçar minha cara de desgosto.

–Estou falando sério, roubo? Assassinato? O que? – O rapaz deu uma olhada geral pela minha cela.

–Não te interessa. – Peguei uma pedra do chão e fiz dois riscos na parede.

Quando as pessoas ficam presas, costumam perder a noção do tempo.

–Enfim. – Ele suspirou. – Você que puxou papo.

–Minhas perguntas já foram respondidas, pode voltar a fazer o que quer que seja que você estava fazendo. – Minha perna começou a tremer, impaciente.

–Tudo bem, se precisar de alguém para conversar, estarei aqui para nos divertimos um pouco. –Ele se afastou, fazendo de conta que estava com uma bebida na mão como se estivesse prestes a brindar.

Peguei do chão uma pedra grande, (aquela cela tinhas muitas coisas largadas no chão, como feno, pedras, sujeira, e no pior dos casos água suja que entrava pelas rachaduras da parede.) E a coloquei sobre o buraco da parede, não me agradava a ideia daquele homem ficar me observando de vez em quando.

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