Capítulo 15

32 17 2
                                    

–Atenção aos recados

Durante boa parte do trajeto, a voz continuou dando informações, a maioria não muito precisas.

–Podem retirar os cintos.

Clac clac

A maioria dos jogadores tirou o cinto, alguns ficaram apenas olhando para o chão.

Destravei o meu.

–Atenção, estamos próximos a ilha, logo a nave estará aberta.

Algumas pessoas começaram a se levantar.

–Apenas recordando, usem os aparelhos voadores para terem controle de onde desejam cair, e não se esqueçam dos paraquedas para amortecerem a queda.

Um monte de aparelhos voadores estava reunido no canto da nave.

–Outro aviso, lembrem-se que o jogo começara apenas depois que a sirene soar, qualquer jogador que dispare antes da sirene, será desqualificado.

A nave chacoalhou mais forte, me fazendo cair para frente.

–Sejam bem-vindos a Freedom. – A nave abriu devagar, aproveitei a deixa para me aproximar.

Uma ilha extremamente grande cobria meus olhos.

De cima era possível ver a ponta das montanhas, a água do mar indo e vindo sobre a areia, onde pequenas naves estavam pousadas.

O vento soprava forte, logo algumas pessoas se juntaram ao meu redor para ver a ilha.

Uma onda de adrenalina me invadiu, era estranho, mas eu me sentia livre.

A nave estava sobre a ilha agora.

–Jogadores que se sentirem prontos podem pular, já estamos sobre a ilha. – A voz ecoou.

Três pessoas pegaram os dispositivos voadores e se lançaram, uma quarta apenas pulou.

Algumas pessoas se encolheram no fundo da nave, outras esperavam pacientemente um lugar bom para saltar.

As outras naves apareceram, tendo a minha como centro, elas faziam uma fila, lado a lado.

Todas as naves estavam abertas, diversas pessoas começaram a saltar, enquanto outras ficavam observando.

O garoto de olhos escuros estava na nave ao lado, os cabelos dele voavam com o vento, ele não olhava para a ilha, mas sim para mim.

Eu não me sentia intimidada, porém não conseguia entender suas intenções, a questão é, quanto mais longe dele, melhor para ambos.

Aproveitei a oportunidade para saltar, o meio da ilha seria o ringue, metade cairia lá, o começo seria sangrento.

Então aproveitei que ainda estávamos no começo.

Peguei o dispositivo voador e saltei, com a mão esquerda apoiei sobre a prancha e me inclinei, o vento quase me impedia de continuar de olhos abertos.

A mochila nas minhas costas fazia leve pressão para trás, o que me desconcentrou, tive que me inclinar ainda mais para não perder o controle.

Alguns jogadores voavam do meu lado, o que era uma droga, eu teria que pegar uma arma antes deles se quisesse sobreviver.

Um homem estava cerca de 10 metros de mim, iriamos pousar no mesmo lugar.

Reuni toda força que tinha para mudar a trajetória do aparelho, minha ideia, era mudar completamente a rota, para que pousasse o mais afastado possível dos outros.

Primeiro eu tinha que me preparar para depois atacar.

Segurando forte, me inclinei o máximo possível para a direita, me afastando do homem. A precisão com a qual eu segurava, fazia o aparelho flutuar e não cair.

Na hora certa, larguei o aparelho e abri o paraquedas, o símbolo grande de um sol com rosto de mulher ofuscava minha visão vindo de cima, nuvens cobriam os cantos do paraquedas.

Pousei suavemente sobre as sombras de uma árvore, ao lado no qual se abria um grande terreno aberto.

Comparado com o barulho da nave, tudo parecia silencioso, eu ouvia o vento forte chacoalhar as árvores e alguns pássaros. Tudo parecia imenso demais e eu pequena demais.

Correr para campo aberto seria loucura, claramente minha opção seria me esconder entre as árvores.

Fiz uma vista grossa do local, as naves estavam longe agora, certamente alguns jogadores ainda saltavam, no lugar que eu estava, perdia total o sentido do tamanho da ilha.

Virei meu corpo e andei em direção a floresta, nessa parte, a mata era mais alta, algumas chegando na altura do meu joelho, a sombra por um lado não me tranquilizava, quantas coisas poderiam estar escondidas nesse exato lugar?

Com os pés, vasculhava todo o chão, armas poderiam estar escondidas também.

Passos.

Me virei rapidamente, ainda conseguia enxergar o campo aberto, no qual uma silhueta se movimentava.

No meio de todo aquele espaço, havia uma arma que eu havia ignorado, era perigoso demais se arriscar em um lugar aberto assim, a chance de aparecer outras pessoas era muito grande. E eu estava certa.

Continuei parada, estávamos consideravelmente longe um do outro, porém, se eu fosse avistada, ele me perseguiria.

–Atenção!

Uma voz surpreendentemente alta soou pelo lugar.

Movi apenas meus olhos pelo local, a procura do autofalante.

O homem agora se movia, um poste alto localizado ao seu lado.

Encontrei.

–Sejam bem-vindos a ilha Freedom jogadores, agradecemos a sua honrosa participação ao primeiro jogo de caça. Lembrando-os que o intuito do jogo é o teste das novas armas, pedimos atenciosamente que não hesitem em usá-las.

Eu continuava olhando o homem, que encarava o autofalante.

–As ordens foram dadas, os drones já estão a caminho. A partir de quando a sirene soar, vocês estarão autorizados a eliminar qualquer um que seja considerado adversário. Que vocês tenham sorte, e que os deuses os acompanhe.

Meu coração acelerava a cada palavra, eu continuava imóvel.

–Misericordioso seja o rei de Solis por dá-los uma nova chance, lutem com glória e honra. – Ela parou. – E ascendam.

Uma sirene soou, o homem atirou para cima.

Outra arma foi disparada do meu lado, no meio da floresta.

Corri para a direita, meus pés se enroscando na mata alta, outro tiro.

O ritmo das árvores começou a me atrapalhar, era difícil desviar de todas elas.

Passos.

Seriam os meus? De quem mais? Quantos?

Ao longe ouvi o som de água, eu sabia o que deveria fazer.

Continuei correndo reto, dessa vez com a certeza de que os passos não eram só meus.

Mais um pouco, só mais um pouco.

Desci disparada uma inclinação, a mata na parte baixa era mais densa, e mais alta.

Enquanto atravessava a mata, galhos arranharam meus braços, coloquei os mesmos protegendo meu rosto.

Encontrei.

A mata dava fim em um pequeno riacho onde a água escorria.

Parei apenas para me certificar de que não iria morrer, quando os passos começaram a se aproximar eu saltei.

A água estava extremamente fria, mas no momento eu sequer notei.

Uma silhueta grande apareceu lá em cima das rochas, eu segurei a respiração, uma bolha se quer, e eu estava morta.

A silhueta olhou ao redor, observando a água.

Fechei os olhos e me concentrei, eu não seria pega.

Esse é um jogo selvagem de sobrevivência, e eu sobreviveria. 

AutodestruiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora