Capítulo 5

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Anos antes

Eu estava na minha cama, deitada, olhando para as rachaduras no teto. Meus pais brigavam mais uma vez no andar de baixo.

'Volte para o seu quarto Kathleen', disse minha mãe, rígida, na última vez que desci as escadas enquanto eles brigavam.
Som de objetos sendo quebrados ecoava pela casa. Eu não conseguia mais dormir.
Sentei-me na cama, e pulei para o chão, eu era pequena demais para meus pés encontrá-lo.

Abri a porta do quarto devagar, o barulho vinha da cozinha, andar de baixo.

Enquanto andava pelo corredor, a madeira sobre meus pés rangia, os galhos batiam nas janelas e o vento causava barulhos estranhos.

Apoiei a mão sobre o corrimão da escada, e fui descendo devagar.

–Eu sabia que você faria isso! – Ouvi minha mãe gritar.

–Não me culpe, você sabe que a situação não está fácil para nós dois! – Meu pai disse, a flor-da-pele.

–Você não pode abandonar sua filha, ela precisa de um pai! – A voz da minha mãe falhava, suas cordas vocais pareciam prestes a se romper.

–Deixe-me leva-la então. – Eu estava agora nos últimos degraus, a cozinha ficava ao lado da sala de estar. Pude ver toda a cena.

–Você não vai tira-la de mim. – Minha mãe parecia pequena, frágil. – Eu sei a sua intenção. – Seu rosto aderiu uma forma raivosa. – Você quer leva-la, e depois deixar que outra mulher cuide dela, que ela chame outra de mãe.

Essa última palavra saiu tão alta, que tive que tampar meus ouvidos.

–Você está louca? Eu quem vou cuidar da minha filha!

–Da nossa filha! – Ela interrompeu. Mãos no peito, como se aquelas palavras doessem.

-Não há mais o que conversar Louise. – Meu pai passou a mão pelos cabelos, ele os havia cortado recentemente, eu lembro! E também havia feito a barba.

Ele tinha os olhos castanhos, seu nariz era bem marcado, igual aos traços de seu rosto. Ele tinha uma aparência cansada.

–James. –Minha mãe continuou, cansada. Seus olhos esverdeados inundados de lágrimas. – Não vá embora. – Seus cabelos loiros estavam despenteados, e sua boca quase seca.

–Eu não tenho outra escolha! Partirei assim que puder.

Nesse momento eu escorreguei. Meus pais olharam na direção das escadas. Corri para meu quarto, abandonado de vez meu medo do escuro, e me largando embaixo das cobertas.

A porta do meu quarto abriu devagar, rangendo.

–Está dormindo, minha querida? – Meu pai estava com metade do corpo dentro do quarto.

Eu abracei minha pelúcia com uma mão, e com a outra, tampava minha boca.

Ele fechou a porta em seguida, e logo, tudo ficou quieto.

Eles sempre brigavam, sempre discutiam.

Tudo ficou escuro, sinal que foram dormir, deixando apenas eu e a casa acordadas.

AutodestruiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora