Capítulo 6

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Com uma pedra em mãos, fazia o sexto risco na parede, logo iria fazer uma semana que eu estava ali e eu não aguentava mais olhar para todas aquelas grades.

Minha cela se abriu de repente.

–Vamos, entre aí. – Um dos guardas apontava com o queixo para a cela.

O garoto do repartimento ao lado, que eu tinha conversado há alguns dias atrás, entrou na minha cela.

–O que está acontecendo? – Eu me levantei depressa.

–Poucas celas, agora vocês terão colegas de quarto. –Ele disse enquanto trancava a cela por fora.

Não valia a pena descreve-lo, ele era como todos os outros guardas. Cabelo extremamente curto, barba feita, e trajes pretos.

Olhei para o garoto. Ele levantou os braços como se estivesse se rendendo.

–Ótimo. –Sibilei. – O que não tinha como ficar pior, ficou.

–Não é como se estar aqui fosse agradável. – O garoto retrucou.

Na cela da Hannah, foi colocado outro homem. Ela me olhou com desespero, como quem pede por ajuda.

Não podia fazer muita coisa, minha situação não era das melhores. Pelo menos o babaca do garoto não parecia querer me matar.

Meus pensamentos foram interrompidos por um grito vindo do final do corredor.

Os presos se chocaram contra a grade, curiosos.

Meu parceiro já estava próximo o suficiente da grade, me mantive afastada.

Um guarda passou correndo pelo corredor, gritando.

–O que houve? Oque aconteceu?

Um guarda ao longe respondeu.

–Tem um homem morto em uma das celas. A parceira o esfaqueou.

–Como que ela estava armada? Quem foi o imbecil que deixou um deles entrarem armados? – O homem da cela do lado esquerdo da Hannah fazia cara de paisagem. Eu o vi com uma faca diversas vezes.

O meu parceiro se virou lentamente, seu rosto estava indecifrável.

Eu estava de pé, parada.

Ele me olhava, de cima a baixo. Repeti o gesto, entendendo perfeitamente o que ele queria dizer.

Quando ele deu uma brecha, aproveitei para me aproximar da grade.

–Temos que tirar o corpo. – O corredor se tornou uma gritaria, apenas os guardas gritavam, os presos estavam calados.

–Vão matar a mulher? – Um dos presidiários questionou.

–O que vamos fazer chefe? – Um soldado alto perguntou ao mais baixo.

–Retirem o corpo, se certifiquem de que ela não esteja mais armada e só, não limpem, deixem que ela conviva com a bagunça.

De canto de olho, observei meu parceiro sentado, ele observava minhas marcações na parede. Quem me garantia que ele não estava armado? Eu não estava nem um pouco afim de conviver com sangue na minha cela.

Hannah estava parada, olhando para o chão, como se fosse a cela dela que estivesse manchada de sangue. O parceiro dela estava sentado, olhando para o chão.

–Como assim vão deixar ela se safar? – Um homem perguntou. – Ela pode muito bem fugir da cela dela e matar todo mundo! – Eu apenas o ouvia, mas sentia o medo em sua voz.

Os soldados o ignoraram. A correria recomeçou quando guardas passaram com um corpo envolvido em um saco.

–O homem era enorme. – Meu parceiro passeava os olhos pela cela.

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