Capítulo 14

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Anos antes

Com um livro em mãos, sonhava mais uma vez acordada.

Adorava me distrair com histórias e problemas que não eram meus.

Um ruído vindo do andar debaixo me tirou do transe.

Meus pais estavam discutindo de novo.

Deixei o livro aberto na página em que parei, o desenho de uma garota ocupando uma página inteira, e desci as escadas.

Primeiramente a visão me deixou confusa, meu pai estava com uma mala em frente a porta.

–Como você tem coragem? – Minha mãe a alguns passos de distância dele, chorava.

–Isso é para nosso bem Louise. – Meu pai abriu brutamente a porta.

–E nossa filha? – Minha mãe ousou se aproximar, mas meu pai recuou.

–Não a use como desculpa, você sabe que é melhor para ela do que ficarmos brigando todo os dias. – Os olhos dele refletiam, as lágrimas ameaçando descerem.

–Você enlouqueceu? Ela precisa do pai dela! – Louise juntou as mãos em volta do corpo, firmes.

–Eu sei Louise, mas eu irei a ver sempre! Nunca deixarei de amar vocês duas. – Seu rosto parecia repleto de compaixão.

–Mentiroso! Se nos amasse não faria isso! Se me amasse não faria isso! – Minha mãe tampou o rosto com as mãos, fungando.

–É o melhor para nós, você...

Ela o interrompeu. – Pare de dizer que é o melhor! Nós dois sabemos que isso é uma desculpa. – Ela caiu de joelhos, o rosto ainda tampado pelas mãos.

–Papai?

Os dois olharam imediatamente para mim.

–A quanto tempo você está aqui querida? – Minha mãe indagou, seu rosto agora com uma expressão surpresa.

–Querida... – Meu pai tentou se aproximar.

–Você vai embora? – Perguntei, meus olhos embaçando.

–Papai e mamãe não podem mais viver juntos, nós precisamos de um tempo. – Ele tentou se aproximar, eu continuei parada na escada.

–Você não ama mais a mamãe? – A boca de James se entortou um pouco, ele se recompôs.

–É claro que amo, mas as vezes casais precisam dar um tempo.

Eu não respondi, apenas olhei para baixo, torcendo para que fosse apenas um pesadelo.

–Você pode vim com o papai se quiser...

Minha mãe interrompeu.

Louise se jogou em minha direção, me segurando forte em seus braços.

–Nunca! Você nunca vai levar minha filha! – Seus braços me apertavam forte, suas lagrimas se misturando com as minhas.

–Sua filha não, nossa filha. – O tom de voz do meu pai aumentou.

–Se você acha que pode tirar tudo de mim está enganado. – Ela riu, minha mãe estava perdendo o controle.

–Louise as coisas não precisam ser assim. – Meu pai tentou se aproximar.

–Vai embora James, agora. – Ela me segurou mais forte ainda, me afastando dele.

–Mamãe... – Comecei a soluçar.

–Louise...

–Vai embora. – Ela gritou, alto demais, minhas lágrimas começaram a me sufocar.

James pegou as malas e se virou, saiu apressado, deixando a porta aberta sem olhar para trás.

Minha mãe caiu de joelhos novamente.

–James... – Ela gritou de novo.

Me desvencilhei de seus braços e fui para a cozinha pegar um copo de água, no calor do momento acabei derrubando-o, cortando minha mão.

Soltei um gemido baixo, e pressionei o corte.

Lembrei-me da situação e peguei outro copo, tomando cuidado para não pisar nos restos do outro.

Voltei para a sala, minha mãe estava sentada no sofá.

–Mamãe. – Estendi o copo para ela, que tomou apenas um gole.

Me aninhei ao seu lado, ainda soluçando.

Depois de um minuto de silêncio onde minha mãe encarava o chão ela disse.

–Seu pai foi embora Kathleen.

Ela demorou.

–E a culpa é sua.

AutodestruiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora