Capítulo 12

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Fomos levados para nossas celas, percebi tarde que nossos trajes tinham números, o meu estava representado pelo número 189.

Estava deitada sobre a cama dura, Aidan estava deitado sobre o chão, uma das mãos abaixo da cabeça.

–Queria tanto um cigarro agora. – Sua voz estava firme, mas ele parecia distante.

–Último pedido antes de morrer? – Meus olhos encaravam as rachaduras no teto, parecia ter mais do que nas noites passadas.

–Quem disse que vou morrer? – Ele tentou se manter firme, mas gaguejou.

Estava longe demais para responder. Só de pensar que faltava apenas algumas horas para eu cair de paraquedas em um campo de batalha, meu coração acelerava. Uma parte de mim queria lutar incansavelmente, por outro lado, queria apenas me render.

Meu estomago roncou pela quinta vez, depois que me prenderam, tinham decidido serem bonzinhos o suficiente para me deixarem comer.

Eu esperei o guarda se afastar o suficiente para devorar o prato de uma vez, engasgando.

–Na próxima vida... – Aidan falava sozinho, delirando. – Me lembre de se comportar ok? Quero ser um garoto bonzinho. – Com a mão livre, ele levou dois dedos a boca, inalou o ar e o soltou, como se estivesse fumando.

Na cela a frente, Hannah estava sentada perto da grade, o rosto entre os joelhos. Seu parceiro roncava na cama.

Era duro acreditar que uma garota como Hannah sobreviveria, o medo a tornava frágil, e pessoas frágeis não sobrevivem.

–...naquele dia eu soquei tanto aquele homem que ele esqueceu até o próprio nome... – Aidan ainda falava sozinho, algumas pessoas nas celas do lado resmungavam.

–Aidan. – Meus olhos continuaram fixos no teto.

–O velho era um idiota! Não servia para nada.

–Aidan! – Minha voz saiu firme.

Ele levantou o corpo para olhar em minha direção. – Oque?

–Vai dormir, tá? Não adianta ficar resmungando.

Ele assentiu devagar.

–Obrigado. – Ele virou-se para o outro lado.

Pela primeira vez, a não ser os murmúrios daqueles que queriam dormir, tudo estava quieto e silencioso.

Eu me sentia pressionada por saber que alguns faziam táticas imbatíveis de luta, enquanto eu tentava decifrar as formas das rachaduras.

Eu não tinha medo, eu era boa em sobreviver, estava tudo sobre controle!

O aperto em meu peito me mantinha acordada, EU NÃO ESTAVA COM MEDO!

Respirei fundo, qualquer som ecoava pelo silêncio mortal daquele corredor sem fim.

O silencio era tão alto...

Apenas precisava sobreviver, e tudo estaria bem. Talvez as pessoas ao meu lado fossem duvidosamente mais habilidosas do que eu em relação a armas? Talvez! Mas estava tudo bem.

Eu tinha que descobrir o que as paredes daquele castelo escondiam, eu precisava...

Outro resmungo.

O corpo de Hannah tremia, seu peito ia e voltava, suas mãos estavam presas firmemente em volta de seu cabelo.

Foi minha vez de resmungar. O que eu poderia dizer para ela? Que iria ficar tudo bem? Que ela poderia me matar e sair viva? Este era um jogo selvagem de sobrevivência, quando um lado puxava o outro apertava, não tinha vitoriosos.

Qual o tamanho da ilha? Eu poderei ficar em qual lugar exatamente?

Meus pensamentos foram invadidos por perguntas, abafando os resmungos e soluços de Hannah.

Eu precisava me concentrar, pensar em mim mesma, como eu sempre fiz, mas porque agora estava tão difícil?

Aidan começou a roncar, o que me fez xingá-lo, eu o invejava por sequer conseguir dormir, em algum lugar dentro de mim, eu sentia que todo o restante a não ser Aidan e o parceiro de Hannah estavam acordados, se incomodando com qualquer barulho.

Só percebi que tinha permanecido acordada a noite toda quando o corredor começou a clarear.

Aidan ainda dormia, e Hannah ainda chorava.

AutodestruiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora