Capítulo 8

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O rei logo nos dispensou, ele e Julian conversaram um pouco mais sobre números de armas e sobre o término de trajes.

Nessa altura eu não conseguia mais prestar atenção em nada.

Quando subimos os lances de escada, e passamos pela porta vermelha, os guardas se dispensaram. Eu aproveitei essa ocasião para ir em outra direção.

Andava novamente pelo corredor cheios de quadros, guardas corriam e conversavam. Eu andei alguns metros e logo depois virei para a direita, que se abria em um novo corredor.

O som dos meus passos parecia ecoar por todo o castelo, o que me deixava nervosa.

Entrei em uma porta branca que tinha um símbolo masculino acima. O banheiro.

Torci para que não tivesse ninguém lá dentro.

Soltei um suspiro quando ao abrir a porta, percebi que estava sozinha.

Para não chamar atenção, optei pelo masculino, seria desastroso se um dos guardas me visse entrar no banheiro feminino. Apenas homens trabalhavam como soldados.

Eu tinha duas opções, ou eu fugia assim, vestida de soldado, com uma chance mínima de ser pega, porém, a partir do momento

Que eu fosse pega, eu morreria. O rei perceberia que eu era um dos guardas que estava com ele no laboratório, e como eu saberia demais, eles me matariam. E tinha a outra opção, a que eu estava decidida. Eu tiraria a roupa de soldado e correria pelos corredores como um dos presidiários, se eu fosse pega, o que era óbvio, eles teriam que ser espertos demais para entender que o guarda lá nas celas estava nu porque eu havia pego suas roupas, se eles não descobrissem, poderiam me deixar viva, por que ninguém imaginaria que eu estava no laboratório com eles.

E assim eu decidi que seria feito, comecei tirando o casaco, as calças, e o chapéu. Deslizei minha mão sobre a bota, procurando a faca, minha respiração desacelerou quando senti o objeto tocar meus dedos.

Estava pronta, usava minhas roupas pretas. Eu teria que me esgueirar pelo palácio, procurando a saída.

Deixei as roupas largadas no chão, abri a porta vagarosamente, quando avistei uma silhueta passar a fechei novamente.

Esperei, segundos depois a abri de novo, parecia limpo, sai do banheiro, e fechando a porta devagar, sai depressa.

Andei rápido, a minha frente tinha uma grande porta, olhei por um dos buracos, parecia vazia, com o antebraço, abri a porta deixando-a bater atrás de mim.

Eu descreveria o lugar com um salão, as paredes eram de um amarelo escuro, lustres iluminavam todo o local, mesmo tendo três grandes janelas, na qual a vista mostrava o quão imenso era o castelo.

Olhando para o chão, pude ver me próprio reflexo no piso, que brilhava.

O teto era coberto por um enorme desenho do sol, onde um rosto de mulher descansava.

Percebi que estava parada quando o tic tac de um relógio me acordou.

A porta atrás de mim se abriu.

–Aí está ela, peguem-na!

Eu voltei a correr, o piso estava liso, acabei escorregando duas vezes.

Não tive tempo de olhar para trás, para ver quantos eram, apenas corri, conferindo portas e brechas.

Do outro lado do salão tinha outra porta, dei um chute fazendo-a abrir, e passei antes que ela se fechasse. Ouvi um xingamento vindo dos guardas, a porta tinha se fechado em seus rostos.

Entrei em outro salão, pequeno agora, dois lances de escada que nos levavam mais para cima.

Correndo, subi as escadas. Uma pintura enorme do rei em seu cavalo branco estava pendurada no meio das duas escadas. Senti que ela me olhava correr. Espantei esses pensamentos inusitados e prestei atenção na minha fuga.

Os guardas gritavam para eu parar, mas estava fora de questão eu deixar que me levassem para a prisão de novo.

As escadas deram em um novo corredor, este era apertado, as janelas eram pequenas e a iluminação era pouca.

O tom das paredes era vermelho, e as bordas das janelas eram de ouro, ou pelo menos era a impressão que dava.

No fundo do corredor, tinha um quadro gigantesco de uma mulher, seus cabelos castanhos estavam penteados, e seu

Vestido branco era quase transparente. Ela estava em um jardim, flores de todas as cores davam um ar delicado para o quadro.

–Por aqui! – Os soldados se aproximavam.

Enquanto corria, pude ver me próprio reflexo no lustre do teto, minha aparência não estava nada boa.

Virei a última porta e dei de cara com ambiente vazio, cheio de janelas, dezenas, tive que colocar a mão sobre os olhos para ofuscar a claridade.

–Parada. – Dezenas de guardas adentraram o local.

Me ajoelhei, mãos para cima, eu tinha apenas uma faca, e eles, diversas armas.

Um dos guardas parou a minha frente e apontou a arma para mim.

–Tchauzinho. – Ele sorriu maliciosamente.

–Esperem! – Um som de passos tomou conta do local. Todos ficaram em silêncio.

Um mar dourado passou pelo canto dos meus olhos, o rei parou de frente para mim.

–Olhe para mim! – Ele ordenou, sua voz era calma.

Levantei o olhar, quando nossos olhos se encontraram uma expressão de surpresa tomou conta de seu rosto.

–Você é a garota dos olhos bonitos! – Ele se aproximou. – Porque sinto que já vi esses olhos antes?

–Senhor tome cuidado. – Os guardas se posicionaram. – Ela pode estar armada.

–Está tudo bem. – O rei disse, colocando sua mão sobre meu rosto.

Não, não estava tudo bem, eu estava armada, e poderia muito bem matar o rei agora mesmo, eu morreria com centenas de tiros, mas levaria ele comigo.

Ele estava de costas para as janelas, seu rosto estava coberto pelas sombras.

–Como conseguiu sair? – Sua voz era calma, mas ele parecia impaciente. Seus dedos foram até meu queixo, levantando meu rosto na direção do seu.

Era a primeira vez que alguém tocava meu rosto daquela maneira. Eu estava confusa.

Mesmo com o rosto próximo ao seu, desviei meus olhos para baixo.

–Se você não quer falar, tudo bem. – Ele se distanciou, me olhando de cima.

–Podemos executa-la senhor? – Um dos homens manifestou.

–Não. – Um silêncio pairou sobre o local. – Levem-na para a cela e a deixem sem comida por uma semana, mas não a matem! Estamos quase prontos.

O rei virou as costas e abandonou o local.

Dois guardas abriram um sorriso quando o rei se afastou.

Cada um pegou em um braço meu, um outro guarda andava atrás de mim com uma arma em minha cabeça.

Descemos as escadas e paramos na prisão.

Os presos gritavam, alguns vaiavam, outros se lamentavam.

Um dos homens abriu minha cela. Aidan se levantou na hora.

Deixei a chave cair sem que ninguém percebesse, e a chutei para o homem de alargador. Ele pisou na chave e começou a assoviar disfarçando.

–Durma bem, verme! – Senti uma dor latejante no rosto e depois tudo ficou escuro.

AutodestruiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora