013 ✦ vinte e cinco por cento.

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WOOYOUNG.

Semanas se passaram sem que eu tivesse algum tipo de contato com San. Mantinha sua conversa arquivada, tinha medo de deixá-la visível e criar um milhão de teorias sobre, embora, claro, isso já ocorresse sem nem mesmo olhar para a dita cuja.

O único contato com ele, ainda que indiretamente, foi quando um de seus amigos chamou-me no Instagram, a fim de resolver a questão Sujin e Serim que não tinham o número uma da outra. Desde então, temos ficado cada um em seu canto.

É meio estranho toda essa ausência, porque não passamos tanto tempo juntos para que eu sinta exatamente sua falta, mas também não posso fingir que não gastamos horas e mais horas falando sobre tudo e nada ao mesmo tempo.

Estou resolvendo uma questão passada no dia anterior pela faculdade quando Sujin bate na porta, entrando em seguida. Ela usa calça legging escura, juntamente a um tênis cuja lateral é rosa e uma blusa de gatinho. Deixo o lápis sobre o caderno, olhando atentamente para ela, confusão estampando meu rosto.

— Você combinou alguma coisa com suas amigas da escola e não me avisou, por um acaso? — pergunto sério, esperando uma resposta da mesma. Sujin morde o lábio inferior, como se temesse a resposta em questão.

Já não estou gostando nem um pouco disso.

— Na verdade, eu combinei de ir pra casa da Serim. — diz de uma vez, fechando os olhos em seguida. Suspiro exasperado, um tanto quanto derrotado; não posso culpá-la por ter uma amizade legal e sincera, onde ambas têm uma relação admirável. É só que... puts, eu não queria ter de ver San. — Desculpa não ter dito antes.

— Está tudo bem, bebê. Deixa eu só trocar de roupa e eu te levo lá, pode ser? — Sujin assente rapidamente, saindo do cômodo, deixando-me sozinho com meus pensamentos.

Largo o moletom em cima da cama, trocando a blusa meio antiga por uma regata escura. Calço meu all star vermelho, pego um boné no guarda roupa e coloco meu celular no bolso da calça jeans.

Depois de fechar a porta, Sujin me explica o endereço da casa de Serim. É um pouco distante de nossa residência, mas como ela está com um bom humor, não reclamo.

Me pergunto sobre o que falarei com San quando o ver. Ele tem estado muito ativo no Instagram — segundo Yeosang, que stalkeia bastante o perfil alheio — e exibe os torneios de skate que participa. Às vezes, são vitórias. Às vezes, são bons momentos mesmo sem a medalha no meio.

— É ali. — indica Sujin com dedo, ainda que seja feio apontar. É uma casa simples, com quintal cheio de flores e um aparente balanço. Meio sem jeito, toco a campainha, na esperança de que Serim seja a única pessoa a atender a porta.

Mas é óbvio que não tenho tal sorte.

San está secando o cabelo quando abre a porta, os fios loiros me surpreendendo internamente. Usa uma regata branca, calça moletom e está descalço; é a primeira vez que vejo-o, e isso me deixa desconcertado. Desvio o olhar, sem saber ao certo como proceder. E é a primeira vez que posso presenciar suas novas tatuagens, que cobrem um de seus braços.

Quando Yeosang contou-me sobre, a foto se eternizou em minhas pálpebras. Desde então, isso meio que me persegue.

— Sujin! Vem, eu comprei um álbum novo essa semana e quero muito te mostrar. Aí a gente faz unboxing dele e posta no tik tok. — Serim diz, aparecendo de repente, pegando minha irmã pela mão e a levando para o interior da casa. Isso deixa eu e San parados, num silêncio desconfortável, próximo a porta.

— Quer entrar? — ele pergunta no melhor tom que consegue, dando espaço para eu passar, caso a resposta seja positiva. Mordo o lábio inferior, assentindo; toda a sala tem uma boa iluminação, o sofá é em formato de L e há diversas fotos de San e Serim sobre o rack, igualmente a de seus pais com estes, sozinhos ou como casal. — Aceita um suco, água, café...?

— Café, por favor. — se preciso suportar isso, que seja ingerindo certa dose de cafeína. San termina de secar o cabelo, pondo a toalha sobre o próprio ombro, indo na direção da cozinha. Ele indica uma das cadeiras, me sento e acabo apoiando um dos cotovelos na mesa, usando a mão para apoiar meu rosto.

Estou para falar sobre seu cabelo, sobre a nova cor e sobre como isso realçou seus olhos, ou até mesmo sobre suas tatuagens quando ele deposita a xícara de café na minha frente, dizendo:

— Sem açúcar, como você gosta.

Me pergunto como ele ainda lembra disso, da forma como gosto de meu café, sendo que eu disse apenas uma vez e nem foi uma conversa tão memorável. Mas ele lembra. E isso me deixa perdido.

San se senta a minha frente, o olhar analisando tudo, como se pudesse memorizar cada detalhe meu, por menor que seja. Sorvo do café, agradecido por ter onde pôr as mãos; não quero que ele veja meu nível de nervosismo.

— Eu senti sua falta. — comenta de repente, me surpreendendo. Ele mesmo esboça surpresa, como se não acreditasse que tais palavras tivessem escapado. Suspira. — Sei que demos um tempo, e eu respeito sua escolha, mas isso tem sido tão cruel.

Demos um tempo, mesmo que não fôssemos um casal. Demos um tempo, para que eu entendesse tudo. E demos um tempo, para que, assim, pudéssemos chegar em algum canto.

Mas que canto é esse, onde estamos assim, distantes?

— Tive medo de me machucar. — admito, sem olhá-lo nos olhos, observando o conteúdo em minha xícara. Parece melhor do que dizer tudo encarando San, que tem um olhar mortal. — Ainda tenho, na verdade. Eu não sei se gosto de você como você diz gostar de mim, e não posso mentir; mas talvez eu tenha algum tipo de interesse em você.

Dessa vez, bem no final, olho para ele. Não posso classificar meus sentimentos da forma como San faz, não tenho tal poder, posso apenas esperar que ele entenda.

— Estamos indo com calma, para que você não se machuque. E não o machucarei, prometo. — em mais um ato inesperado, ele se levanta e deposita um selar em meus fios escuros.

San saí da cozinha, deixando-me sozinho por alguns minutos. Quando volta, indica o sofá — o tal com duas mantas, o controle sobre o mesmo, e fala sobre vermos um filme enquanto nossas irmãs brincam. Propõe fazer pipoca, e como não estou exatamente perdendo nada, acho, concordo.

A manta cheira a perfume bem fraquinho, do tipo suave, que não irrita as narinas. Pego o controle, ligando na Netflix e penso no que iremos ver, se ele prefere série ou filme. Quando San vem para a sala, estou enrolado na manta, apenas meu rosto sendo visível, e ouço rir.

Optamos por algum do studio ghibli, cuja animação como um todo é um de meus pontos fracos. Sem notar — ou pelo menos não de cara — acabo usando San como apoio, deitando minha cabeça em seu ombro; ele nada diz, apenas se ajeita para me deixar confortável.

É sua forma de dizer que meus sentimentos devem ser valorizados, independente de eu gostar dele ou não; é sua forma de priorizar minha confortabilidade, na esperança de ajeitar tudo que destruiu. Gosto disso. Desse agora. Dessa quase certeza de que estamos indo bem.

E é melhor eu aproveitar antes que eu caia direto no oceano, como Ícaro, quando subiu direto para o Sol.

quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? juro de mindinho que irei atualizar a fic com mais frequência. obrigado por tudo e amo vocês <3

SK8ER BOI.Where stories live. Discover now