019 ✦ o nascer de um sol brilhante.

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WOOYOUNG.

Após aquele breve porém importante momento, San decide me levar até a ponte, a fim de mostrar toda a arte ali existente. Ele diz que já fez pinturas nas paredes, imagens abstratas — palavras do mesmo — e que poder mostrá-las a mim torna sua euforia maior.

San segura com firmeza em minha mão, não escondendo sua felicidade. Leio-a em seus olhos, brilhantes; em seus lábios, doces como mel; em seus pequenos detalhes.

Penso que sair de minha bolha de conforto seja sempre assustador, contudo, sabia que precisava desse impulso. Dessa adrenalina temporária. Para ir além da base.

— É óbvio que fazemos artes as escondidas. — San explica, o passo lento, apenas para apreciar a caminhada. — Quando se trata de críticas, claro, porque outras coisas estão há tanto tempo aí que ninguém parece se importar, sabe? O que não muda o fato dela ser patrimônio público, óbvio. Essa é a minha.

Indica para uma das artes localizadas acima, o nascer do Sol surgindo de uma lápide. Há muita predominância do amarelo, laranja, vermelho e pequenos toques de branco e preto.

— Todo dia é o último dia que podemos vivenciá-lo. Ele morre no exato instante que decide nascer. E nasce de seu próprio túmulo. — San torna a dizer, o orgulho brilhando em seus olhos ao falar da pintura. Ele provavelmente teve ajuda de alguém, a julgar pela altura em questão. — Vim para cá após minha primeira tatuagem. Serim ficou ali — aponta para a parede oposta. — e tocava Beatles, porque nossa mãe ama, então Serim aprendeu a amar. Então uma garota cheia de piercings e tatuagens me emprestou um banquinho, pra que eu fizesse o mais alto possível. Afinal, que frisasse o brilho máximo do Sol.

Dizendo isso, ele me olha. Não sei ao certo que horas são, e talvez nem me importe com isto. Meu foco não está exatamente nas responsabilidades, não naquele momento, pelo menos, e sei que deveria pensar nelas.

Mas Choi San prende meu foco por inteiro. Bem mais do que qualquer outra coisa.

Estou sentindo seus lábios outra vez sobre os meus. Isso não perde a graça. Sinto-me leve, em paz, feliz e eufórico. Seu cabelo é macio, gosto da forma como suas mãos estão ao redor da minha cintura e de como parecemos encaixados de maneira perfeita, metódica.

— Você não faz ideia de quantas vezes eu quis isso, essa chance de poder te beijar sem represálias. — fala rente ao meu ouvido, beijando meu pescoço com delicadeza e suavidade. Meu corpo está contra a parede, meus olhos estão fechados e sei que ele sorri conforme deixa os beijos por minha pele. — Eu poderia passar horas nisso e jamais me cansaria.

Sua voz soa doce, tipo mel, que gruda em minhas papilas gustativas. Saboreio sem tanta hesitação, o sabor me prendendo ali, aquela sensação e momento.

— Eu preciso ir. — digo tempos depois, quando voltamos para a pista de skate. San, após admitir tudo aquilo que guardava dentro de si, se mantém abraçado a mim, a cabeça no vão de meu ombro. Lhe encaro com cuidado, memorizando suas estrelas pessoais e decifrando seu código marítimo.

— Mas ainda é tão cedo. — resmunga baixinho, para que apenas eu escute. Seus amigos estão parcialmente próximos, largaram os skates e discutem sobre álbuns e séries. O Sol já está quase se pondo, preciso buscar Sujin e resolver pendências da faculdade.

— Sim, eu sei, só que Sujin tem dever de casa e eu tenho matéria para estudar. — falo enquanto me levanto, trazendo San junto.

Penso que agora que estamos juntos — eu acho, eu realmente não sei rotular isso — ele não quer parar de sentir a euforia, a brilhante certeza de que estamos perto, a satisfação de poder me beijar sem medo ou culpa.

Mas precisamos de espaço parcial. Para que eu absorva o dia.

— Minha mãe deve estar amando ficar com sua irmã, ela não se importaria em cuidar mais um pouco dela. — San tenta uma abordagem diferente, que embora pareça estranhamente satisfatória, não posso me dar ao luxo de ceder.

— Boa tentativa, Sannie. Mas eu preciso mesmo ir. — sorrio fraquinho, passando meus braços ao redor de seu pescoço. Temos uma altura similar, e isso deixa tudo tão mais confortável. Ele me aproxima de si, beijando meus lábios com calma, cuidado e doçura.

— Então me deixe, pelo menos, te acompanhar até em casa. — se oferece gentil, ainda sem me soltar. Penso por um instante, observo seus amigos em meio a um diálogo caloroso e respondo:

— Seus amigos precisam mais de você do que eu. Se divirta, San, e eu aviso quando chegar em casa. — roubou-lhe um beijo, sorrindo no final. Ele me solta devagar, não querendo isso, mas concordando; me despeço dos demais, ganhando acenos e recomendações para voltar mais vezes.

Faltava bem pouco para escurecer cem por cento, um reflexo do mundo. E vendo o pôr do sol, penso na pintura feita por San. Em como o dia nasce para morrer e morre em seu renascimento. Esperava, então, que fôssemos apenas o renascimento de uma boa e melhorada história.

SK8ER BOI.Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang