SK8ER BOI.

021 ✦ traços de toxicidade e famosas verdades.

SAN.

Wooyoung não falou nada desde que chegamos em minha casa, há exatos seis minutos. Fiz questão de preparar chá para ele, pondo-o na minha xícara favorita. Seus olhos diziam um obrigado silêncio enquanto sua boca se mantém em puro estado de negação. Estava quase achando que teria de entrar em contato com Yeosang quando, baixinho, Wooyoung fala:

— Eu briguei com Tzuyu e acho que não somos mais amigos. — ele ri, um riso sem humor algum. Espero. — Digo, não somos mais amigos. Foi uma discussão inevitável, sabe? Eu apenas adiei. Achei que... que suportaria a toxicidade dela, quieto, pois não se abandona os amigos na primeira briga séria. Mas vi que, na realidade, deixar um amigo, agora conhecido, é o maior ato de liberdade existente. Eu... — segundos pequenos, mãos incertas segurando a xícara, forçando a se manter firme, e ele chora. Lágrimas infindáveis, que quebram meu coração. — Eu me sinto destruído, Sannie.

Então, eu o abraço apertado. Ele deixa a xícara no chão, e, com cuidado, ao me sentar no sofá, trago-o para meu colo. Sua cabeça se apoia em meu ombro, e deixo que ele chore tudo aquilo que precise; faço carinho em seu cabelo, ouvindo seu choro.

Aos poucos, paro de sentir as lágrimas molhando minha blusa, e bem lentamente, ele aparenta estar mais calmo. Os olhos avermelhados, cansados de chorar, me observam com um foco meio perdido, de quem está ali ao mesmo tempo que não. Seco os resquícios das lágrimas e deposito beijos suaves por suas bochechas, testa e boca.

— Quer me contar o que desencadeou a briga com Tzuyu? — sussurro a pergunta, na expectativa de que ele possa me explicar tudo.

Quando o deixei esperando por mim, para ir comprar lanches, acabei encontrando a garota entre os demais. Ela parecia animada, me roubou um abraço e falou até não poder mais. E em todas as tentativas de ficar mais próxima, educadamente, frisei o quanto aquilo me deixava desconfortável.

Tzuyu pareceu compreender que eu estava com alguém antes mesmo que eu comentasse, o que, obviamente, não o fiz. Me dispensou rapidamente, sorrindo forçado, e foi embora. Deveria ter desconfiado dela, assim poderia, pelo menos, ter evitado toda a dor que Wooyoung sentiu enquanto me esperava.

Wooyoung suspira pesado, e noto o quão difícil e duro pode ser para ele. Por um lado, quero entender o que houve. Mas, por outro lado, quero protegê-lo dessa dor.

— Tudo começou quando eu estava com dezenove, e Sujin, com dez anos. Era uma época instável, ora nossa mãe estava, ora não. Houve um período, naquele ano, que fez minha irmã adoecer e eu tive de acompanhar ela em tudo. Nossa mãe deu assistência, claro, só que ela não podia parar todo o trabalho pra se dedicar apenas a um paciente.

"Meu segundo ano na faculdade foi se bagunçando, visto que eu cuidava da casa e dela ao mesmo tempo que tentava estudar, produzir os seminários e responder as atividades. Yeosang me ajudava no que podia, mas não era justo com ele, que eu o empurrasse pra todo esse caos.

Quando eu conheci a Tzuyu, ela me pareceu gente boa, mesmo com todos os rumores que eu ouvia pela faculdade sobre sua reputação, que diziam não ser uma das melhores. Eu sou aquele que prefere crer no que a pessoa afirma do que me basear nos comentários dos demais, sabe?

Então, Sujin piorou. Há uma parte sua, pequena mas bruta, que faz você questionar coisas como 'e se eu não tivesse deixado ela ficar na chuva?' 'e se eu tivesse feito ela sair antes mesmo da chuva cair?' Mas isso não mudava o quadro dela: pneumonia.

Minhas notas estavam na corda bamba, e eu não poderia reprovar em nenhuma matéria, pois já tinha atingido minha cota. Foi quando, em meio a todo aquele drama, eu acabei perdendo minha virgindade com o professor da matéria que eu mais precisava passar.