022 ✦ "você ficou."

91 13 2
                                    

WOOYOUNG.

Eu não descanso, quiçá durmo, não quando tudo aquilo que conheço desaparece sob meus pés. San arrumou uma escova nova para mim, e pelos próximos vinte minutos daquela mesma noite, não fui capaz de dizer muita coisa.

O banho havia sido rápido até, mas, sendo sincero, adicionei minutos a mais dentro daquele box. Condicionei minhas emoções numa caixa no fundo do meu peito, proibindo-as de escapar enquanto eu não pudesse lidar com elas.

Há partes de mim que alegam estar fazendo tudo com certo teor de drama em quantidades demasiadas. E outras, na realidade, que dizem que tenho o direito de expressar meus sentimentos da forma que bem entender, que não há muito a ser feito.

Pelos próximos vinte minutos, sou apenas um garoto deitado ao lado do rapaz que gosta, que o abraça apertado e cede tempo; não, ele não cede, ele não pode ceder algo que não está sob seu controle. Ele apenas facilita o que eu próprio preciso, do meu modo.

Mandei uma mensagem de voz a Yeosang, recebendo uma confirmação de que ele já estava sabendo de tudo. Disse que Sujin já tinha jantado — outra vez, pois eu deixara lasanha para que minha irmã comesse —, tomou um banho, pediu para que Seonghwa contasse uma história e adormeceu antes mesmo do conto acabar.

Isso preencheu paz dentro de mim, acalmando os nervos que estavam ligados no mil devido a como Sujin ficaria. Yeosang contou, também, para a surpresa de todos, que minha mãe apareceu naquela noite. Ele não quis deixar minha irmã sem seus cuidados, mesmo sabendo que era minha mãe ali. Mas ela falou sobre ter o dia seguinte de folga, e até trouxe lanches para comer com Sujin no dia seguinte.

Disse que ela perguntou por mim, e sem tantas opções, Yeosang falou sobre eu estar na casa do meu namorado. Sabia que teria essa conversa mais cedo ou tarde com ela, e adiar parecia o melhor, por enquanto.

Já passa da meia noite, tenho aula no dia seguinte — ainda incerto se irei para ela ou não — e tudo que posso fazer é buscar uma posição mais confortável na cama. San se remexe do meu lado, e, no fundo, sei que ele também não dormiu.

— Não consigo dormir. — é tudo que digo, suspirando derrotado. Ele, então, acende o abajur, e meus olhos piscam, se acostumando com a claridade excessiva. Seu cabelo está bagunçado, ainda que quase nem tenha se movido desde que deitamos na cama.

— Você quer que eu prepare um leite quente? — sua voz soa só um pouquinho sonolenta, nada demais; penso por um segundo, concordando, e, lentamente, ele sai da cama. Meneia a cabeça, para que eu o siga, e após pegar o lençol e me enrolar, faço isso. A casa, totalmente silenciosa, se transforma perante meus olhos, a iluminação da cozinha causando certa irritação em minhas íris; aos poucos, me acostumo com a luz, sentando na cadeira enquanto arrumo o lençol no meu corpo.

San prepara tudo de modo contido, evitando ruídos externos, para que ninguém desperte. Instantes depois estou bebendo um copo mediano de leite quente, a terceira bebida em menos de vinte e quatro horas. O gosto do leite, por mais que aqueça meu interior, gera certos calafrios em minha nuca, resultado de outros fatores.

— Devo te acordar mais tarde, para que vá a faculdade? — San pergunta, embora, note, que prefira o oposto caso a resposta seja positiva.

Somente a simples ideia de aguentar o dia com a cabeça cheia já faz um estrago, no entanto, há questões parcialmente resolvidas que me deixam mais leve.

— Sim. Vai ser melhor assim. — dou um suspiro cansado, bebericando o que sobrou do leite, pondo o copo sobre a mesa ao finalizar. — Posso ser mais sincero com você? Você ficou aqui, comigo, mas se for pena, não precisa. Vou entender seu lado.

Há certa fagulha em seus olhos castanhos. E não sei bem, porém, isso instiga meu coração a bater mais rápido.

— Direi isto apenas uma vez, ok? Seu passado explica uma parte de você, porém não seu inteiro. Se estou aqui, é porque gosto de você, não por pena ou dó. Na vida, estamos sujeitos a erros, só que não devemos resumir quem somos apenas nisso. — ele faz questão de segurar minha mão, apertando-a, carinho e afeto brilhando em seus olhos. — Sei que nem sempre as palavras surtem efeito de primeira, não quando aparentam serem só palavras. Mas não duvide, por um minuto que seja, de meus sentimentos por você.

Em todos os casos, até agora, San sempre fez questão de frisar o estágio no qual seus sentimentos estão. Jamais forçou um eu te amo e nem sei se lhe direi algum dia tal coisa, já que ele próprio não parece pronto. Somos conscientes o suficiente para entender as fases que giram ao redor de nosso relacionamento.

Conto-lhe, assim que deitamos, aleatoriedades, falamos sobre animes e séries, sobre teorias de Coraline e detalhes nos filmes do studio ghibli. De manhã, quando o sol nascer, será o início de um novo ciclo do qual não preciso me esconder nessa máscara maleável.

— San, eu também gosto de você. — sussurro antes de, enfim, adormecer.

SK8ER BOI.Onde histórias criam vida. Descubra agora