Capítulo 24:

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— Sabe do que eu preciso? Terapia.

Solto um suspiro, continuando a folhear o livro que eu estava lendo.

— Flora, a sua psicóloga foi embora não tem nem quinze minutos. — Digo e minha namorada dá de ombros.

— E daí? Terapia nunca é demais. — Ela fala, apoiando a cabeça nas minhas coxas.

Estamos em uma das bibliotecas particulares de Holyrood, Flora está sentada no chão entre as minhas pernas e eu estou sentada em uma poltrona enquanto tento ler um livro.

— Quando nós vamos voltar pra Gregorstaun? — Perguntou Flora enquanto eu fazia carinho em sua cabeça, brincando com o seu cabelo. Deixei o livro de lado.

— Amanhã, eu acho, quando tudo isso estiver resolvido e você e o Seb já tiverem dado o depoimento.

— Tenho certeza de que você está se mordendo por ter perdido tanto conteúdo da escola. — Ela diz, erguendo a cabeça para me olhar nos olhos.

— Nah, prefiro ficar com você do que ter que decifrar o que o professor de História tá dizendo. — Falo a abraçando e Flora segura em meu braço.

Alguns dias se passaram depois do baile e não vou dizer que está tudo uma maravilha. Flora só aceitou sair do quarto quase três dias depois do que tinha acontecido e as marcas em seus braços ainda estavam lá, mesmo que muito mais fracas, os arranhões provavelmente se tornariam cicatrizes bem fraquinhas.

Começo a beijar sua bochecha, sua testa, a lateral de sua cabeça. Flora deu risada quando beijei um ponto específico de seu pescoço, que eu sabia que lhe causava cócegas. Nos últimos dias, eu era a única pessoa que Flora ao menos tolerava alguma forma de contato físico. Nem mesmo Seb ou Alex conseguiam muito mais do que um breve revirar de olhos.

— Eu tenho um presente pra você. — Murmurei, ainda beijando-a. Flora inclinou a cabeça pro lado, me dando mais acesso ao seu pescoço.

— Sério mesmo? Pensei que eu fosse sua sugar mommy. — Ela disse baixinho e eu ergui as sobrancelhas.

— Continua sendo, não se preocupe. — Enfiei a mão no bolso da calça e peguei uma caixinha. — Fecha os olhos, Flo.

— Devo me preocupar?

— Que nada, você vai gostar. Vai, Flora, fecha os olhos. — Ela o fez e eu coloquei a caixinha na sua frente. — Pronto, pode abrir.

— Uma caixa? — Perguntou e eu revirei os olhos.

— Sério mesmo? — Perguntei e Flora começou a dar risada, inclinando-se um pouquinho pra frente. Aquela risada que ela fazia um som fofo e que eu não escutava há alguns dias.

— Estou brincando, Quint. — Ela disse indo abrir a caixinha.

— Pera aí, eu vou pro chão. — Falei e ela chegou pro lado e eu me sentei ao seu lado. Seu cabelo estava solto e cobria a minha visão do seu rosto, então coloquei a mecha atrás de sua orelha. Flora estava vestindo uma camisa de manga longa para esconder os hematomas, mas as mangas estavam dobradas até os seus cotovelos.

Aquela noite volta como um flash. O silêncio absoluto ao sairmos daquele lugar, a crise de pânico violenta logo depois, o sangue no vestido, nos braços e nas unhas. Como eu tive que ficar ao seu lado durante horas até que ela estivesse calma o suficiente para que me deixasse limpar o sangue e tirar o seu vestido, a assegurei durante horas de que estava tudo bem e fiz questão de só apagar a luz do quarto quando a luz da manhã já estava o iluminando o suficiente.

Ela ficou dias sem conseguir me olhar nos olhos, como se estivesse com vergonha de que eu a tivesse visto dessa forma, sem nenhuma parede ou muralha ao seu redor.

Highland Princess - RocksaltWhere stories live. Discover now