Capítulo 2

33 4 1
                                    

O cheiro úmido do chuvisco matutino ainda paira pelo ar. As pessoas já estão se organizando em grupos. Eu já sei o meu, quatro amigos em uma floresta indo caçar cartelas contra outras dezenas de soldados preparados por meses. Confio que vai dar certo. Yuli, Toli e Noah já estão do meu lado, nós entrelaçamos olhares e fomos direto para o depósito de armas.

Daqui de fora, dá para perceber com grande convicção que o Mixelis nem sempre foi uma base. A floresta de Uza nos protege dos ataques da Levihart, já que ao entrar lá sem saber os caminhos de ida e volta, se perder é a coisa mais fácil do mundo. Cortom era repleta de florestas, só que foram desmatadas para abrir indústrias, que hoje funcionam por meio de trabalho escravo.

O som do vento balançando as folhas das árvores é confortável. Ocasionalmente, uma folha de Zexo cai aos nossos pés, com a tonalidade alaranjada e um cheiro relaxante, diferente do azedo aroma de Uza.

O prédio era uma antiga mansão do criador da organização, chamado Mixelis Steve. Exala uma sensação intimidadora, mas é como se fosse uma casa para mim. Ele gostava de se esconder, para ficar longe das outras camadas sociais.

Dizem que ele sempre teve uma ideologia justa e igualitária, mas morando nessa casa, acho que ele está desrespeitando os seus próprios princípios.

Enfim, vai entender esses líderes de gangue.

Tem momentos que até esqueço que faço parte de uma facção criminosa escondida do governo, tramando um golpe. Tem muitas coisas que com certeza poderiam melhorar esse lugar, mas prefiro não falar minhas ideias para qualquer um. Eu não sei o que está acontecendo direito lá fora. E nem quero saber.

Na minha época — tá, eu não sou tão velho assim — todos nós tínhamos um grande respeito pela Fulehart. Na comunidade, os caras do movimento tinham mais respeito do que a polícia. Com eles, nós conseguíamos ganhar o mínimo de respeito que o resto da sociedade não nos dava.

Recorrentemente, via combates entre os policiais e a milícia, conosco sempre vencendo. Minha família sempre foi da facção de alguma forma, enquanto eu e Yuli ainda éramos mercenários, sem manter contato com a matriz da máfia. Não nos envolviam nas fugas, missões de assalto ou repressões, apenas enviávamos "suprimentos" de ponto em ponto para servir de treinamento.

Hoje, tudo mudou. Estamos aqui, fugindo do estado como uma resistência. Agora, nos tratam como salvação, não ruína.

Ao menos é isso que eu vejo.

Ao entrar no depósito de armas, vejo o lugar amplo, cheio e repleto de ferrugem. Aros de metal atravessam as paredes, guardando dentro deles prateleiras repletas de apetrechos criados à base de metais. O teto é parcialmente aberto, dando uma iluminação natural aqui para dentro, mas também influenciando na ferrugem.

É enorme, com uma atmosfera empoeirada e velha, tenho certeza de que era um antigo armário de esportes. Onde ficavam bolas e cordas, agora ficam lâminas e armas de fogo pesadas. Geringonças criadas pelos próprios soldados, incluindo pequenos insetos que servem como lanternas, e luvas com relógios embutidos.

Porém, a maioria das pessoas está pegando armas de fogo, por terem algo de especial na utilização delas: MAO. Você acha mesmo que, tendo acesso a algo tão absurdo, vamos usar coisas inúteis como bazucas e metralhadoras? Não, nós somos melhores do que isso.

Toli apenas pega uma luva de couro para apertar os seus apetrechos grudados em sua prótese. Na luva tem um regulador, onde, de certa forma, pode calcular o quão o seu braço artificial está afetado pelo MAO.

Já Noah coloca duas lâminas médias de fibra de titânio na sua cintura, forjadas em um metal resistente a todas as sensações térmicas – disse resistente, não indestrutível. Junto a isto, acompanha com luvas negras, que com certeza vão lhe confortar no meio da sua grande tempestade.

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now