Capítulo 4

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Após todos cairmos no chão, os quatro saem de trás das árvores, dando finalmente as caras.

Além de Axel e Lanna, tem outras duas medrosas que só ficaram assistindo ao nosso jogo de cintura para pegar as cartelas.

Uma delas é Sabrina, bom, já previa isso faz tempo. Ao contrário de seu irmão, Noah, ela tem cabelos pretos azulados e uma pele macia. Parece uma boneca, de tantos traços perfeitos. É como uma vidente, tendo uma intuição invejável, sempre se antecipando aos movimentos de seus inimigos — ou aliados.

No lugar do corta-vento, usa uma jaqueta de gola alta. Tem a mesma coloração que a nossa, mas com detalhes azulados montados por ela. Usa um óculos fino, mesmo no meio da batalha. Tem luvas e cintos com estrelas, tudo isso com uma calça personalizada com seus próprios gostos.

Ao seu lado, Vênus chega, batendo palmas e com os cabelos ao vento. Esqueci de mencionar um defeito em específico: ela é literalmente uma pessoa tóxica.

— Olha se não é o quarteto elegante. — Lá vem Vênus com o papo ridículo dela. — O pato, a cachorra, o jumento e o elefante.

Eu não acredito que ela fez essa piada.

— Com licença. — Sabrina vem pegar a cartela de cada um, ela é uma pessoa ótima, como Noah, pena que é nossa oponente. — Ah, a Lanna mandou avisar que ela pediu desculpas por ter vocês como alvo, por isso ela não veio. Não é nada pessoal, mas precisamos e vamos ganhar.

Ela é uma pessoa extremamente competitiva, e faz de tudo para vencer uma pequena competição. Na verdade, quase todos aqui na Fulehart são competitivos, deve ser pela grande derrota que passamos no golpe, sendo caçados até a morte.

Ao usar a minha técnica, o meu nariz começa a sangrar. As veias saltam enquanto arritmia cardíaca destrói o meu peito. Embora tente acelerar o meu fluxo sanguíneo, meu coração insiste em bombear vagarosamente.

Oxigênio para de fluir pelo meu corpo. Falta de ar e dor de cabeça me atacam simultaneamente, me privando de pensamentos lógicos e pedidos de socorro. Minha garganta seca se arranha, como se fosse rasgada pela falta de líquidos.

Hemorragias surgem no meu corpo, interna e externamente. Como se diversos pontos do meu sistema cardiovascular fossem interrompidos, me fazendo sufocar de maneira súbita. Minha pele empalidece enquanto meus olhos ficam cada vez mais embaçados.

Os sintomas já estão começando.

Lembra quando disse que o MAO é como uma arma que todos têm a mesma quantidade de munição?

Pois é, isso não vale para mim.

Minha munição acaba.

No entanto, o verdadeiro aprendizado vem através do fracasso.

Enquanto ela fala esse tempo, eu tento acelerar meu sangue para conseguir pegar no meu bolso a seringa. Não queria usar esse recurso — na verdade, queria sim —, mas terei que usar como última alternativa.

Esse líquido era o que o cachorro infernal tanto farejava no dia do golpe.

Seu brilho vermelho é refletido na grande atmosfera de névoa criada pelos atritos de diversas técnicas de MAO, o fazendo resplandecer como um diamante, refletindo em todas as árvores da floresta.

Quanto mais tempo demorar para injetar o líquido, pior fica a minha situação.

As dores me confundem enquanto tento injetar a seringa. Mãos trêmulas seguram o frasco, enquanto tento disfarçar a minha ação da equipe adversária. Sangue escorre do nariz, boca, partidos. Quando encosto a agulha sobre a minha pele, um calor percorre através do meu corpo gelado.

Imediatamente meu organismo volta ao normal. Bom, o bastante para uma enorme quantidade de Host circulando no meu sangue. Minha visão embaça em escarlate, e uma tontura muito distinta me atinge em peso, mas isso não me impede de levantar daqui e descer o sarrafo em todo mundo.

Levanto do chão, me apoiando no meu joelho. O veneno não faz mais efeito. Todos olham imediatamente para mim, com os ombros flexionados e as expressões pálidas, os membros da minha equipe já sabem o que aconteceu, os olhos de Yuli se arregalam imediatamente.

— Hora do show. — Eu solto uma gargalhada, estou extremamente mais agitado do que antes. E ISSO É A MELHOR SENSAÇÃO DA MINHA VIDA!

— Thorns, não faça isso. — Yuli me chama pelo nosso sobrenome com a voz trêmula, enquanto Sabrina dá um passo para trás.

— Alex, isso é só treinamento! — Axel grita, cravando os pés no chão. — Não invente arte!

— Vocês sabem que não são os únicos que gostam de brincar à vera. Não treme, eu não vou socar forte.

Corro imediatamente até Sabrina, e no caminho tiro todas as agulhas que estão deixando os outros deitados. Quando chego perto dela, lhe dou um empurrão, seguido de uma rasteira. Pego todas as cartelas em somente um movimento. Um rastro vermelho surge sobre minha visão.

Por poucos segundos imagino ser alguma técnica desencadeada com o poder da amizade, porém, só é meu sangue mesmo.

Essa coisa é incrível, tenho que usar mais vezes.

Depois disso, dou uma arrancada até os outros palhaços. Chuto a cara de Vênus em um movimento veloz, não faz mal, um tapinha não dói. Estamos em um combate, ela faria isso no meu lugar. Minhas veias saltam, com o sangue fervente correndo pelas artérias.

À medida que me movimento, uma sensação de calor e formigamento percorre o corpo, quase como um sabor elétrico. A secura na garganta, causada pela falta de ar e pela intensidade da batalha, cria uma sensação de aspereza que contrasta com o sabor do sangue.

— Alex! — Yuli grita do chão, enchendo meu saco. — Não exagere, por favor!

— Cala boca! Deixa eu terminar meu trampo!

Já Axel tenta me dar um golpe de martelo enquanto estou desprevenido. Um trovão de energia pura ressoa como um impacto metálico sobre meu antebraço. Aguento o impacto, ainda que rompa meus vasos. Empurro-o com o resto da massa do corpo e esgueiro-me abaixo de sua visão.

Um impacto seco solta um som oco, ricocheteando pelas copas da floresta. Axel cambaleia após eu chutá-lo no seu pâncreas. O odor metálico característico de sangue é misturado com a terra úmida remexida.

— Eu não nasci ontem, palhaço.

Me viro a ele e dou um soco em seu rosto, o pego pelos cabelos e começo a lhe dar um mata-leão. Sinto a textura dos cabelos e a tensão muscular enquanto aplica pressão. Um leve aroma de terra e folhas se mistura com o suor de Axel.

— Vamos ver quem será quebrado agora, seu bostinha!

Aperto o seu pescoço, começando a sufocar. Ele dá pequenas batidas no meu braço, deve pensar que eu vou poupar ele. Eu ignoro.

— ALEX! — Grita Yuli de lá do fundo, o veneno provavelmente já parou de fazer efeito. — Para com isso! Eu já peguei as cartelas! Vamos vazar.

Eu queria muito continuar, mas tenho que ir embora, por mais que enforcar o Axel seja extremamente divertido, ele não é minha prioridade.

— Droga, não deu nem para deixar ele desmaiar!

Agora começo a perceber que estou muito alterado, poxa, deixar Axel desmaiar? Ele é um oponente, mas não é para tanto. Espera aí, céus, fiz aquilo de novo. Minhas mãos estão ensanguentadas. Está começando a arder, o sangue é quente, como se queimasse a pele.

Não, está acontecendo tudo de novo. Meus olhos começam a ficar cansados, uma dor de cabeça extremamente forte começa, eu sinto o gosto de ferro molhado na minha boca.

O som surdo da queda mistura-se com o chiado da grama sendo pressionada. Sangue escorre pelo meu queixo. Meus braços ficam mais fracos do que deveriam. Não consigo me movimentar. Ao cair no chão, a entrega à gravidade cria uma sensação tátil de desmaio.

Acho que injetei Host demais no meu sangue.

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now