Capítulo 13

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Faz umas 4 horas que estamos trabalhando e o meu único desejo é comer. Odeio o quão acelerado é o ritmo de "trabalho" (se podemos considerar escravização como trabalho). Após o etiquetamento torturante, fui destinado a realizar a mesma tarefa inúmeras vezes: bater com um martelo em um pedaço de metal.

Ao fundo, escuto o barulho de chicotadas repetitivas. Castigos. A cada cinco minutos, os guardas torturam as pessoas por ineficiência. A fabricação deve ser metódica e automática, tal como máquinas. Míseros erros o fazem ser descartado.

É perturbador perceber que posso ser esfaqueado a qualquer momento.

Após o etiquetamento — o momento que com certeza está no top 5 dos dias mais traumatizantes de todos os meus 17 anos de vida — viemos à fábrica. Alan nos avisou que precisamos recrutar soldados cautelosamente. Disse que cuidará da retaliação de informações, e que acharia os espiões caso houvesse.

Não duvido que alguns impuros tenham a morte como seu destino, mas desta vez, pelas mãos de Alan.

Normalmente, meu cérebro ansioso estaria pensando em estratégias diferentes, relembrando decepções amorosas, ou até cantando alguma música. Mas, minha mente focou em acontecimentos presentes.

Estou sobrecarregado de um modo que não experiencio há tempos. Os sons metálicos repetitivos me assombram, invadindo meus pensamentos, causando uma dor de cabeça estridente e agoniante.

É doloroso perceber as pessoas ao meu redor sumindo, com os guardas levando-as para as paredes de tiro ou câmaras de incêndio. O cheiro ferroso não vem somente dos metais, mas sim do sangue espalhado pelos castigos em tempo real.

Meus olhos inflamam integralmente, devido às faíscas de poeira, madeira e ferro que me acertam com frequência. As horas arrastavam-se; o tempo parece uma mera ilusão. A fome é constante, e a comida escassa e podre é uma lembrança amarga de nosso estado deplorável.

Centenas de vezes a sirene tocou, alertando que uma nova leva de impuros deveria ser levada para a câmara de assassinato. Os métodos eram variados, com queimadas, gás tóxico, fuzilamentos, venenos, afogamentos, choques e torturas infinitas.

Ao mesmo tempo que eu comemorava internamente por não ser o próximo, eu entristecia pela morte de pessoas como eu. "Erros genéticos". Escórias da nova sociedade.

Minha mesa é compartilhada com uma garota, semelhante a uma fera num ambiente hostil. Seus cabelos cacheados escorrem até seus ombros.

Tentei puxar um papo quando cheguei, a reação dela foi simplesmente mandar eu calar a boca. A única informação que tenho é o número dela: 450. A cada segundo que viro meu olhar, percebo sua carregada expressão de raiva constante.

Pelo visto, ela não chegou muito antes de mim, deve ter sido capturada há menos de uma semana.

Já estou cansado de fazer os mesmos movimentos, parei por uns cinco segundos antes de 450 me chamar a atenção.

Relembro da minha missão aqui, e um arrepio sobe por todo meu corpo. O fracasso não é uma opção. Independentemente do lado dessa história, sou apenas um número. Caso essa missão dê errado, nós seremos apenas mais um dos impuros que morreram no confronto entre Fulehart e Levihart.

Devo lembrar que estamos em um campo de extermínio, e que qualquer passo em falso pode destruir a nossa estratégia. Todo o esforço das nossas reuniões seria em vão, e ninguém se lembraria de nós depois de algumas semanas.

Tudo deve ocorrer perfeitamente.

Não quero...

Não posso ser esquecido.

— Quando isso acaba? — Sussurro para 450, espancando o ferro. Sempre falho ao tentar puxar assunto, mas eu não desisto.

— Sei lá. — Muito obrigado, senhorita. Seu rosto sardento se fecha. — Faz pouco tempo que entrei aqui.

— Quanto? — Abro um pequeno sorriso de curiosidade e apoio meu queixo nas minhas mãos.

— Não interessa. Vai trabalhar.

Volto a bater com o mesmo martelo, achatando todos os ferros que me passam. São quentes ao ponto de queimar a ponta dos meus dedos caso não estivesse acostumado ao calor.

Alan me deu uma ordem de coisas para fazer ao recrutar as primeiras pessoas para a nossa reunião secreta. Em primeiro lugar, eu devo reconhecer a sua aptidão física para se adequar à Host.

Ela parece espancar cada pequena partícula da barra de metal, com uma força curiosamente bem distribuída. Presto atenção nisso e percebo que sua massa muscular é acima do comum para pessoas presas em um campo de extermínio.

— Você é muito forte! — digo enquanto ela quase parte um ferro ao meio.

— Quem?

— Quem o quê?

— Te perguntou? — Ela se contém de um riso.

Eu já devia esperar por essa. Mas vivo com Yuli, tomar patadas é algo acima do normal para mim. Preciso insistir. Se não inserir a Host, eles não conseguem usar MAO. E se não usarem MAO, não podem entrar em conflito com o exército.

Devo ser mais cauteloso. A Levihart tem espiões impuros em seus campos de extermínio, que em troca de seu serviço ganham "liberdade". Tenho pena das pessoas que realmente pensam que se libertarão.

A detecção de mentiras de Alan seria uma boa agora. Tentaram ensiná-la em um treinamento, mas isso é muito mais do que apenas a manipulação do sangue — a qual eu já sou péssimo. Apenas os oficiais Alan e Lanna aprenderam a usá-la.

Já que tenho dificuldade de usar essas habilidades, procurei me desenvolver sozinho. As expressões faciais revelam muita coisa, não acha?

Me sinto aquele intelectual, Lucas Metaforando.

A penúltima coisa que Alan falou sobre recrutamento é sobre o reconhecimento da Fulehart. Precisamos fazer o nosso símbolo e depois avaliar a reação da pessoa. Logo, deslizo a minha mão por cima da tábua de madeira enfarpada e faço o sinal da nossa organização.

Meu dedo indicador é flexionado, apontado para a frente e o polegar está encostado ao seu lado, formando a letra "F" em linguagem de sinais.

Ela para de martelar enquanto seu braço se arrepia.

— O que vocês estão fazendo aqui?

— Estamos em todos os lugares. — EU SEMPRE QUIS FALAR ISSO!!! — Não faça nenhuma besteira, apenas tenha noção de que estamos aqui para fazer o nosso trabalho.

— O que te levou a confiar em mim?

— Eu não confiei, só tenho noção de que, a partir de agora, está envolvida conosco até o pescoço.

Agora, obedeci à última ordem de Alan. "Faça ameaças". Não sabia que isso funcionava tão bem.

Já fiz minha parte, agora é só esperar anoitecer e ver o que podemos fazer.

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now