Capítulo 8

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Hoje é provavelmente meu último dia na base em muito tempo. Tenho muito medo de nunca mais ver o que se tornou a minha casa, o meu lugar de verdade, os tantos meses que passei aqui, vivendo momentos, treinamentos e loucuras, mesmo vivendo em um verdadeiro inferno.

Os sintomas da overdose estão muito melhores. Apesar de ser um completo fracassado, minha regeneração ainda é bem rápida.

Só poderei ir com a roupa do corpo, já que nos campos de extermínio as pessoas mal podem usar alguma vestimenta corretamente. Sei que levarão algumas doses de host, então não preciso roubar algumas do depósito.

Não podemos utilizar roupas de compressão, óbvio, suspeitariam na hora. O nosso sangue é bem menos regulado sem elas. Já que o fluxo sanguíneo é a base das nossas habilidades, vamos ter que ser expostos a menos resistência e maior vulnerabilidade.

Devo inventar alguma gambiarra. Não posso ser suscetível a erros que possam causar minha morte de maneira fútil. Caso me descontrole sem querer, posso arruinar a missão.

Olho para a minha calça moletom no canto do quarto. Irei usá-la, mas não em sua forma original. Pego uma tesoura no canto do quarto e a corto até ficar na altura de um short. Pego uns cadarços de sapatos antigos e amarro nas pontas como um elástico. Ficou uma obra de arte pitoresca.

Perfeito.

Está muito apertado, mais do que imaginava. De bônus, posso arrancar e usar como uma arma de enforcamento. Particularmente, eu achei muito útil. Eu sou um gênio, tá? Não ligo para o que pessoas muito melhores do que eu digam.

Ponho meu suéter verde e saio do quarto com minha roupa inovadora. Vou até o quarto de Lanna, eu não os vi até agora. Ainda não pedi desculpas. A porta estava aberta, então tive a liberdade de entrar.

O quarto deles é totalmente diferente do nosso, é bem mais bagunçado, exceto uma cama, que com certeza é da Sabrina. Lá estavam Yuli, Toli e Noah, com os membros do quarto.

— Oi — Falo sem graça, entrando devagar no quarto. — Bom, eu vim aqui pedir desculpas para vocês pelo teste. Sei que fui extremamente agressivo e pé no saco. Peço perdão a todos e principalmente a você, Axel, nós podemos ter umas desavenças, mas saiba que tenho um carinho por sua pessoa que nunca esquecerei.

Faço um coração com as mãos, ele me responde com um sorriso. Seu cabelo ondulado está molhado, acabou provavelmente de sair do banho. Sua camisa colegial azul, como a cor de seus olhos, consegue ficar apertada no seu corpo. Mesmo não sendo grande, seus músculos ocupam muito espaço.

— Tranquilo. — Milagrosamente, ele não está bravo. — Desejo tudo de bom para vocês nessa missão, honrem a Fulehart!

Abro um sorriso de felicidade por tudo dar certo. Na cama de cima do beliche esquerdo, estão Lanna e Yuli conversando, provavelmente se despedindo.

— Promete que não vai me esquecer? Promete que vai se cuidar? Promete que volta sem perder um dedinho? Promete que não deixará todo mundo no fundo do poço? Promete tirar todas as pessoas de lá? — Não a condeno por pedir tantas coisas, ela com certeza vai morrer de saudades.

— Prometo tudo que você quiser, meu amor. — QUE FOFO! — Irei voltar para você do jeito que sempre fui, não se preocupe.

Yuli dá um beijo na Lanna, provavelmente o último de dias.

Embaixo do beliche direito, Noah, Sabrina e Toli conversam. Sei muito bem do crush secreto que Toli tem por ela.

— Irmão, não machuque pessoas desnecessariamente, foque em libertar as pessoas. — Ela fala para Noah — E Toli, se cuida, viu? Desejo tudo de bom para você!

Eles são irmãos adotivos por Josh Slashing. Ele está na guerra em Pollux, o lugar de onde todos os irmãos vieram. Um dos Slashing é Mike, um dos grandes oficiais da Fulehart. É realmente uma família de respeito.

Vejo o rosto de Toli ficar corado, uma coisa que raramente vejo, adoro esses momentos em que ele realmente parece feliz. Toli abre a boca com um sorriso no rosto para responder.

— Pode deixar, vou fazer de tudo para voltar e te ver. — MEU CASAL!

— Pode ficar tranquila, vou fazer o máximo para me controlar e não machucar ninguém. — Noah diz — Se cuide.

— Deixando claro que nenhum de vocês está livre da minha próxima vitória. No próximo jogo ou competição, não importa o que seja, eu ganharei. — Toli e Noah fitam seus olhares e soltam uma risada. O rosto de Sabrina enrubesce. — Apenas aguardem.

Fico feliz das pessoas se revelando ser elas mesmas. Se abre um sorriso sincero no meu rosto, admirando os outros. Amo muito essas pessoas e como elas se relacionam comigo. Elas são a razão do meu viver.

— Agora percebi uma coisa, cadê a Vênus? — Pergunto para Lanna.

— Ela foi a uma missão de campo na cidade. Provavelmente só voltará em abril.

— Que pena, nem consegui me despedir dela.

Ah, não importa, não gosto dela mesmo.

Estes são os únicos que eu realmente me importo. Acrescentando o Alan, claro. Realmente, não ligo se outras pessoas morressem em nossos lugares, mas vou fazer questão para nenhum dos nossos ser machucado.

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Ficamos lá o resto da noite. Quando dá umas 22:00, voltamos para o nosso quarto. Antes de dormir, temos uma conversa.

— Amanhã vai ser provavelmente um dos dias mais importantes de nossas vidas, tudo mudará de cabeça para baixo. — Yuli grita para nós. — Sei que não vai ser fácil, mas teremos que exercer o maior controle da situação, ou seja, não exagerem em nada! Estaremos lá por uma questão de perigo, não por diversão.

— Finalmente vou poder matar alguém. — Fala Toli, quebrando totalmente o clima de tensão e nos fazendo dar risadas, mesmo sabendo que ele está sendo sincero.

— Calma, serial killer. — Digo, rindo um pouco.

— Não pense nisso — Noah interrompe. — Estaremos lá para salvar as pessoas, decepar os braços dos outros é uma coisa secundária!

Começamos a rir de novo, e é por isso que amo eles.

— Só espero que as pessoas de lá não deem em cima de mim. — Noah fala uma atrocidade. — Não aguento mais as pessoas gostarem de mim só por ser bonito.

— Nossa, o fardo tá pesado, né? — falo com tom de deboche. — Uau, que situação triste, eu me matava se fosse você!

— Sério?

— Obvio que não, né, seu tapado. — Por mais que eu ame Noah, tem horas que tenho que fazer minhas brincadeiras com ele. — Mas fazer o que, né? Um dia, você vai encontrar uma pessoa que goste de você pelo que tem dentro de você.

— Minha personalidade?

— Não, o seu intestino em momentos de diarreia.

— Meu intestino entupido de cocô vale dinheiro?

— Ah, vai dormir, Noah, pelo amor de Deus! — Esperneia Toli, estressado. — Não é possível existir uma pessoa tão lerda assim.

— Acontece nas melhores famílias. — Noah fala na maior sinceridade possível, o que faz Toli dar algumas risadas.

— Boa noite, amo vocês. — Toli diz, surpreendendo-nos.

Ter falado isso foi uma das melhores coisas que eu já escutei em toda a minha vida. Foi a primeira vez que Toli falou que nos ama, isso me emociona, mesmo assim fico enrolado no meu lençol, com um grande sorriso no rosto.

— Também amo vocês. — Durmo com um sorriso no rosto. Talvez, essa seja a última vez que sinta o calor da minha cama empoeirada.

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now