Capítulo 1

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Lucien

Eu odeio profundamente ser babá de Emily díaz e posso listar facilmente todos os porquês.

Em primeiro lugar, tenho que aguentar todos os chiliques que ela dá por causa dos livros e filmes que assiste.

Em segundo, ela fala com plantas, isso quando não a pego conversando sozinha com as paredes.

Ela ri, sozinha, em qualquer lugar e sem motivo nenhum, e sempre parece estar no mundo da lua ou algum criado por ela como seu refúgio.

Em último lugar e não menos importante, a sessão de cantoria que ela insiste em fazer todos os dias, mesmo sabendo que sua voz é péssima demais para isso, e é exatamente isso que ela está fazendo nesse momento, ao som das Spice Girls, wannabe.

Todos os dias tenho que me lembrar de que preciso de Christopher vivo, porque ele é a única pessoa no mundo com quem eu realmente consigo ter algum tipo de conversa, mas, como chefe, ele foi um filho da puta em me colocar para cuidar dessa menina, quando sabe mais do que ninguém que prefiro sair em missões mais perigosas do que isso.

Emily rodou pela sala com seu microfone roxo e cheio de brilho – brega –, as meias dos pés que piscavam conforme ela pisava no chão, deixando-me tonto com tanta luz.

Ela mexeu a bunda no ritmo da música e meus olhos automaticamente caíram para baixo, até o momento em que ela se virou e gritou ao me ver parado diante da porta da sala.

— O que diabos você está fazendo aqui, Lucien?

— O que os seguranças fazem, você sabe o que é isso? – ela revira os olhos para mim e desliga a música – graças à Deus – caminhando até a cozinha comigo atrás dela.

— São seis horas da manhã, não precisa ficar chupando meu pescoço como uma sanguessuga!

— Eu tenho ordens bastantes claras sobre não desgrudar meus olhos da senhorita.

— O que idosos gostam de fazer?

Yo no sé– praguejo baixo ao falar em espanhol, as sobrancelhas de Emily arqueadas levemente — Eu não sei.

— Quantos anos o senhor tem, Sr. Martínez?

— Não sou pago para dar informações pessoais minhas.

— Quarenta?

não respondo, preferindo não quebrar meus neurônios com essa coisa pequena, brilhosa e bonita.

— Não – ela nega com a cabeça — Você parece ser muito velho, aposto que é cinquenta.

— Pare.

— Rá! sessenta? bem que eu desconfiei que você era um velhote.

Por el amor de Dios – gemo de frustração enquanto ela continua falando sem parar, como se estivesse ligada à uma tomada — Emily, já chega!

— Por que? você ainda não me disse a sua idade.

— Trinta e dois, hermosos ojos
(olhos lindos) deixo a frase em espanhol escapar antes que eu pudesse evitar, ela apenas franze o cenho sem entender e agradeço por isso.

— Hum, você não parece ter essa idade – diz, pegando o liquidificador para fazer a gororoba que ela toma todas as manhãs.

— Eu sei – digo, por fim, mesmo não querendo me afetar com seu comentário, é tarde demais, lembro-me de todas as vezes em que escutei a mesma coisa de várias pessoas em malícia, querendo de fato me deixar para baixo por causa da minha aparência.

— Você me ensina a falar espanhol?

— Não.

— Por que não?

céus! como alguém pode fazer tantas perguntas assim?

— Eu sei o que você está tentando fazer, garota – retruco e me encosto no balcão.

— O que eu estou tentando fazer?

— Se livrar de mim – digo — Sei que você odeia que eu fique no seu pé, eu também odeio, mas eu estou apenas cumprindo com as ordens que combin- paro para bufar ao vê-la bocejar, levando uma mão até os lábios e respiro fundo.

maldita mulher.

— Oh.. desculpe, eu me perdi com a sua palestrinha sobre ordens e todas essas coisas chatas que você gosta.

— Tudo bem, Emily, você venceu, termine de tomar essa gororoba feia.

— Me ajuda a não envelhecer rápido demais, você deveria tomar – me interrompe.

— Eu estou lhe esperando no carro – respondo, ignorando sua provocação e saio da cozinha em passos largos.

Desde o primeiro dia em que nos conhecemos, Emily vem tentando me fazer desistir de ser o seu segurança particular, até porque a mesma odeia a falta de privacidade que ela sente comigo o tempo inteiro ao seu lado, mas não é como se fosse minha culpa, estou apenas fazendo o trabalho que sou pago para cumprir.

Sei que ela tenta ao máximo não olhar para a cicatriz em meu rosto e eu não posso julgá-la por sentir repulsa ao olhar para mim, convivo com olhares todos os dias desde que tudo aconteceu, e já é normal.

Ao assinar o contrato com seu pai, concordei em me mudar para a sua mansão e dormir no quarto para funcionários, e isso foi com certeza uma péssima ideia.

Porque conviver com aquela coisa falante era horrível.

Horas depois, a vejo sair de casa com as pastas em mãos da nova linha de roupas de verão, que a mesma passou semanas desenhando – e surtando – até que enfim, conseguisse obter sucesso, e, na outra mão, uma planta.

— Qual a da planta agora? – pergunto abrindo a porta do carro para ela.

— É uma Spathiphyllum wallisii – começa a falar — Mais conhecida como lírio da paz, é uma planta da família Ar- a interrompo dando partida no carro.

— Emily, eu só perguntei porquê você estava levando isso para o trabalho, e não para me dizer a origem dela, o nome do vô, tio e pai.

ela bufou — É para me dar sorte.

— Em quê?

— Vou apresentar a nova linha que eu fiz hoje, estou com medo de que minha chefe não goste.

Nunca entendi porque ela se mantém naquele trabalho, quando a chefe dela a trata como se ela não fosse nada ali dentro, e a mesma pode muito bem abrir uma empresa pois tem todos os recursos para isso.

Não digo mais nada, apenas foco minha atenção na estrada durante todo o percurso, para me distrair do seu cheiro doce e suave que entrava em minhas narinas me deixando agoniado.

As coisas que Emily me fazia sentir quando eu estava perto dela, desde o nosso encontro eram sentimentos que eu não estava afim de chafurdar nem agora, nem nunca.

— Emily – a chamo, ela olha em meus olhos e prendo o ar.

Novamente, aquela mesma sensação de estar sendo atropelado por um caminhão me atinge, como todas as vezes em que olho em seus lindos olhos castanho, me fazendo cair em outra imensidão, outro lugar distante do que estamos.

— Sim?

buena suerte en tu trabajo – falo, ela solta todo o ar que parecia estar preso em seus pulmões e pisca duas vezes, olhando para outro canto.

— O que...?

— Boa sorte em seu trabalho.

— Obrigada, Lucien.. – murmurou saindo do carro — Me busque daqui algumas horas.

— Ok – respondo ríspido, pisando fundo no acelerador para fugir dali.

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Boa leitura! ❤

HERDEIROS #3 - TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL Where stories live. Discover now