Capítulo 49

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Emily

Sabe quando você sente que algo está errado, mas não sabe identificar o que é?

é essa sensação que está cercando meu coração exatamente agora.

Continuo com meu trabalho durante a tarde, me certificando de terminar todos os contratos de parceria e contratar mais alguns funcionários e modelos. Reviso algumas compras que seriam necessárias e rabisco meu caderno, mas sinto-me incapaz de desenhar ou criar algo agora. Não com esse aperto no meu peito que me sufoca.

Talvez tenha algo haver com o meu pesadelo que se torna cada vez mais recente e minhas crises também. Lucien não diz, mas sei que alguma coisa está errada comigo enquanto eu durmo, sempre acordo com fragmentos de que eu estive falando algo durante à noite enquanto durmo. Acho que ele quer analisar e depois buscar respostas comigo, mas pela primeira vez, ele não está sabendo disfarçar que quer me perguntar alguma coisa.

Minha mão treme e minha espinha gela com as lembranças daquela noite, eu engulo a bile que sobe na minha garganta, ácida e brutal, exigindo saída. Meu estômago embrulha e levo a mão até a boca.

Quanto mais eu lembro, mais eu sinto nojo, mais eu quero descontar em algo ou alguém. Como papai reagiria quando soubesse?

Eu corro até o banheiro tropeçando no chão algumas vezes e me agacho em frente ao vaso, vomitando todo o meu almoço.

"seja uma boa menina com a gente e não vamos machucar a Maddison, você não quer isso, quer?"

O ácido sobe pela minha garganta cada vez mais, um zumbido forte atinge meus ouvidos e meu corpo inteiro se arrepia. Sinto que minhas tripas poderiam sair pela boca agora.

- Emily? - ouço alguém chamar, mas não enxergo. Minha vista está embaçada e algo aperta, estou sufocando, preciso de ar - Emily?

Thaís, reconheço logo em seguida.

Suas mãos seguram meu cabelo me ajudando a vomitar, lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e sinto que vou desmaiar, estou tremendo. Minhas pálpebras pesam e algo em minha está rasgando.

Estou vomitando toda a dor que aguentei por tanto tempo. Estou vomitando o segredo que guardei e escondi de todos eles, estou pondo para fora toda a farsa que mantive. É dor. Estou vomitando a dor.

Depois do que parecem horas, eu paro de vomitar, o gosto ainda presente em minha boca e me sento ao chão sentindo calafrios, encostando na parede fria e branca do banheiro com Thaís ao meu lado.

- Você se sente melhor?

- N-não - eu choro - Eu não me sinto bem há tanto tempo - confesso, levantando contra a minha vontade e lavando meu rosto pálido.

A mulher que eu vejo no espelho se torna irreconhecível para mim, as bochechas manchadas com o rímel preto por conta das lágrimas, o nariz e olhos inchados e meus lábios vermelhos. Mas não é isso que me deixa mal, é a dor no meu coração.

Pensei que poderia lidar com isso sozinha, guardar para mim para não fazer com que meus pais sofressem ao saber. Mas o que eu não sabia era que eu estava me matando aos poucos com isso, eu estava arrancando uma parte de mim para não mostrar que eu também me quebrei.

Eu posso conviver com isso, eu realmente posso porque não acho que devo viver na sombra do meu passado, nem agora, nem nunca.

- Você pode lidar com as coisas pelo resto do dia? - pergunto.

- Sim, É c-claro.

Me despeço de Thaís e caminho para fora, dirigindo com calma, quem sabe assim consigo aplacar a avalanche que está caindo sobre minhas costas agora. É sufocante, é quase como se eu realmente pudesse morrer apenas com essa dor em meu coração.

HERDEIROS #3 - TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL Where stories live. Discover now