[10] the other

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Jimin já estava naquele lugar há cinco dias, e sua saúde decaía com o passar do tempo, mesmo que naquela manhã ele tenha acordado um pouco melhor.

Havia tomado um banho quente e perfumado e estava sentado naquela cama todo enrolado até o pescoço com um grande cobertor peludo, enquanto que nas suas mãos tinha uma grande xícara de chá quente. O ômega estava mais deprimido do que o normal, seu lobo o traindo vez ou outra, deixando-o sucumbir, mesmo que brevemente, a um desejo que ele não queria admitir que sentia por Jeon Jungkook.

Existia uma parte dele que se afetava com absolutamente tudo que envolvia o rei do Norte, e essa parte traiçoeira era o seu lobo e os seus instintos mais primitivos. E essa parte era a maior parte de Jimin, a parte que recusava-se a ouvir o seu lado mais racional, ouvir seu cérebro.

Pensou tanto sobre as coisas que disse ao alfa na noite anterior que mal conseguiu comer. A bandeja que os criados trouxeram repleta de pães, bolos e doces estava intocada em um canto do quarto.

Jimin se manteve longe da comida, assim como tentava se manter longe dos próprios pensamentos.

À tarde um cavaleiro veio até seus aposentos informar que ele fora convocado à sala do Jeon para uma conversa, mas o ômega fingiu estar se sentindo muito doente e que precisava de um longo descanso. Fazia de tudo, absolutamente tudo para não precisar encarar o alfa depois de todas aquelas coisas que disse para ele na noite anterior, evitá-lo havia se tornado um hábito difícil de conter.

O ômega ainda queria se bater por ter exposto tanto de si mesmo à ele naquela discussão, ao ponto de ter se tornado vulnerável aos olhos dele, ainda mais fraco e miserável do que ele já estava.

Mas Jimin sabia que não podia se esconder naquele quarto para sempre, não se quisesse proteger seu filhote de todas as pessoas que queriam usá-lo naquela guerra infernal. Ele sabia que era o único por seu bebê, era a única pessoa que tinha o principal interesse em protegê-lo daquilo tudo, e era justamente por isso que estava ali tão longe de casa.

Desde que Jiyong nasceu, Jimin teve a convicção dolorosa e realista de que um dia teria que fugir com ele em seus braços, levando todo o dinheiro que pudesse levar, e todo o poder e apoio que pudesse conseguir.

A casa Kim não era um lar seguro para seu filhote, tampouco o palácio de sua família que podia ser atacado pelo exército Jeon a qualquer instante, então seu bebê só tinha a ele e mais ninguém. Sabia que não podia confiar em ninguém, Jiyong se tornou uma peça de guerra em um tabuleiro sangrento em que ele não devia fazer parte.

Depois daquela discussão com o Jeon, o ômega chorou a noite inteira em seus travesseiros, de uma maneira que não fazia há muitos anos. Estava sozinho no mundo, mas por um breve instante teve tudo o que sempre quis do alfa, carinho e apoio, mas nunca foi Jungkook, era apenas o lobo dele, apenas o instinto, não era ele, nunca foi ele.

O dia em que se conheceram quando ainda eram crianças e o alfa pulou nele, ou a noite em que se beijaram, ou então a noite que se deitaram juntos... tudo foi instinto, nunca, nunca foi Jeon Jungkook.

Foi por isso que Jimin chorou. Chorou por sua própria estupidez, chorou por não ter ninguém.

Jimin por muitas e muitas noites pensou que tinha sido um erro terrível ter se deitado com ele, um erro ter perdido a sua virgindade com ele, ter recebido sua marca, ter traído seu noivo, ter começado uma guerra pelo impulso jovem de seu desejo descabido e descontrolado... mas toda vez que olhava para Jiyong não conseguia se arrepender, aquilo precisava ter acontecido.

Apesar de tudo, Jeon Jungkook deu a ele o que Park Jimin mais amava e prezava em todo o mundo. Sempre seria grato a ele por isso.

Aquelas memórias vinham como flashes de uma noite perfeita e mágica que não deveria ter acontecido, mas aconteceu. E todas as vezes que Jimin pensava nas sensações que sentiu com o lúpus, seu corpo todo reagia, sua pele se arrepiava.

Woodvale • Jikook [abo]Where stories live. Discover now