Capítulo 4

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— Você veio buscar os livros de Soobin, não é mesmo? — a secretária da escola indagou, ao vê-lo. — Espero que ele tenha melhorado da gripe.

— Oh... — Seokjin levou alguns segundos para entender o significado daquelas palavras. Logo concluiu que o filho vinha faltando às aulas e que certamente inventara uma gripe para justificar-se. Talvez ele mesmo houvesse telefonado, avisando... Ou valera-se de algum colega para aplicar a mentira.

— Não me diga que ele piorou — disse a secretária, interpretando o constrangimento de Seokjin como sinal de preocupação.

— Na verdade Soobin já está se recuperando e em breve retornará às aulas. — Seokjin apressou-se em responder. — Mas mesmo assim vou levar os livros, para que ele possa estudar em casa — acrescentou. Detestava mentir, mas não tinha alternativa. Sabia que por ser seu filho, Soobin sempre seria mais facilmente julgado por todos. Não daria munição para fofocas sobre ele.

Entretanto, o que mais lhe doía naquele momento era a falta de confiança no filho.

"Sempre fomos tão amigos", ele pensou, magoado. "O que mudou, afinal?"

Minutos depois, ele saia para o estacionamento do colégio com os braços carregados de livros, as pernas um tanto trêmulas e o coração oprimido pela angústia. Nesse triste estado de espírito, mal podia perceber a beleza da manhã e a algazarra dos pássaros na copa das árvores.

Aproximando-se do velho Ford, ele remexeu no bolso e encontrou as chaves. Abriu-o e depositou o material escolar de Soobin no banco traseiro. Sentou-se ao volante e deu a partida.

— O que anda acontecendo com você, Soobin? — pensou, em voz alta, enquanto manobrava o carro.

Sabia muito bem onde poderia encontrar o filho. E tomou a estrada que conduzia ao rio, nos limites da cidade.

Avistou Soobin sentado num tronco de árvore que se debruçava sobre o rio, formando um pier natural. Passou pela ponte, estacionou e saltou do veículo.

— Aposto que você está furioso comigo — disse Soobin, enquanto ele se aproximava.

Em qualquer outra situação, Seokjin teria repreendido duramente o filho. Mas, para seu próprio espanto, uma intensa calma apossou-se dele, seguida de uma onda de ternura.

Por um instante, Seokjin parou e ficou contemplando Soobin, tão belo em seus dezesseis anos, com uma expressao inquieta nos olhos amendoados, como se todos os problemas do mundo lhe pesassem sobre os ombros.

— Para ser franco, sinto-me mais preocupado do que aborrecido — ele disse, por fim. — Espero que você me conte o que está acontecendo. Afinal, ainda somos amigos... Ou não?

Soobin ergueu-se e fitou-o por um longo momento antes de dizer:

— Pai, durante todos estes anos eu respeitei seu segredo...

Seokjin suspirou. Sabia que aquele dia chegaria, mais cedo ou mais tarde. 

— Sei que você não quer falar sobre o assunto, mas eu preciso saber quem é meu appa e porque ele não está aqui, porque não me criou. — Soobin concluiu, com um olhar determinado, embora sua voz soasse trêmula.

"Ele parece um Kim neste momento", Seokjin constatou. "A genética é muito forte...".

— E então, pai? — o rapaz insistiu. — Você vai me contar?

— E tenho opção? — murmurou, mais para si mesmo do que para o filho. Em seguida, cruzou os braços e encarou o mais novo: — Direi tudo o que você deseja saber. Mas antes preciso conversar com uma pessoa...

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