capítulo 1

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Capítulo 1.

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Anne.

Minha história com a enfermagem iniciou aos 14 anos, quando passei por um período Fortíssimo de depressão, considerado o mal do século.

Depois de Minha última tentativa de suicídio aos 17 anos, sendo salva pelo proprietário do carro ao qual me atirei, a quem era imensamente grata apesar de não ter visto seu rosto, orei a Deus pedindo para me libertar daquele sofrimento, o tratamento não estava surtindo o efeito desejado pelo psiquiatra e a psicóloga, e eu tinha tendência a esquizofrenia por conta da hereditariedade da parte do meu pai. Pedi a Deus que se não precisasse mais de mim na terra, me permitisse ir embora pois a dor era avassaladora. Se ainda quisesse no entanto, me mostrasse o caminho e ajudasse o tratamento a seguir da forma correta.

Me voltei para Deus, estando afastada de sua presença desde o dia em que passei pelo que provocou a depressão em mim.

Ao sentir que a doença começava a regredir, fiz um supletivo para terminar o Ensino Médio iniciando a minha faculdade de enfermagem. Meu tempo se dividia entre os estudos e o tratamento, Até que em meu terceiro ano de faculdade o psiquiatra me liberou, alegando que eu já tinha condições de levar uma vida normal.

Após a graduação, ciente da promessa que havia feito a Deus, utilizar minha dor para curar outras pessoas bem como o carinho que tinha pela área, me pós graduei em enfermagem psiquiátrica. Meu tio trabalhava no hospital no qual estagiei antes da formatura E do mesmo construir seu próprio consultório. Grande parte dos meus pacientes fazia questão de elogiar o trabalho dá até então estagiária, me fazendo ser efetivada, tendo condições de pagar minha pós-graduação.

Estava trabalhando com Dra Sandra Moraes há cinco meses, a mesma acabara de voltar do Rio Grande do Sul.

Duas semanas depois de sua chegada, pediu aos demais psiquiatras que permitissem a ela trabalhar única e exclusivamente comigo ao seu lado, sendo a única enfermeira responsável por seus pacientes. A moça Alegre que habitava dentro de mim faltou surtar com aquele pedido, não demorando a aceitar.

"mandou me chamar doutora sandra?". indaguei, adentrando sua sala.

o relógio marcava 4 horas da manhã, oito das 12 horas de plantão já haviam se passado.

"o que eu sempre digo a você, anne?". me indicou a cadeira a sua frente, onde um convidativo copo de café parecia chamar-me.

"todos os enfermeiros e psiquiatras fizeram uma pausa para o café, menos você". "e é como eu sempre digo".
"o café é um item essencial na vida do enfermeiro psiquiátrico, sobretudo aquele que trabalha à noite". falamos juntas, rindo. "agora beba querida, temos longas 4 horas de plantão pela frente".
Parecia dedicar um carinho especial a mim, e eu particularmente não tinha do que reclamar. Tratava tanto os pacientes quanto a equipe de forma humana, acolhedora e cheia de amor pela profissão.

sandra era uma mulher excepcional tanto profissional quanto no convívio em sociedade.

suas palestras a respeito de saúde mental reunia multidões, a hardua tarefa de quebrar estigmas religiosos relacionados a transtornos mentais era exercida com afinco por minha chefe.

Depressão, esquizofrenia e demais transtornos mentais não são falta de Deus ou obra do demônio, são doenças que devem ser tratadas como qualquer outra. A medicina também foi uma obra de Deus, e apesar de ter poder para curar uma pessoa diretamente, capacitou os médicos, dando a eles uma das Missões mais importantes do mundo, salvar vidas ou ao menos dar uma qualidade maior das mesmas.

Para pessoas portadoras de transtornos mentais crônicos, cujo a cura ainda não foi encontrada, de acordo com Sandra, Deus deu uma cruz que aos olhos da humanidade é insuportável de carregar, mas com a ajuda dele e de seus missionários, os médicos, era possível levar uma vida normal. A igreja atribui diretamente a Deus a cura das doenças, esquecendo-se que apesar de ter o poder da cura imediata, deu aos seus missionários formados em medicina ou em qualquer outra área da saúde, a missão de trazer a maior qualidade de vida aos seus filhos que tanto necessitam de ajuda, e com a psiquiatria não deveria ser diferente.

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