capítulo 10

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capítulo 10.

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anne.

meu sábado foi resumido a ficar deitada em minha cama, sem interagir tanto com minha família, a sós com meus próprios pensamentos conflitantes.

naquele domingo porém,, era aniversário da ex patroa e uma dos poucos amigos que meu pai possuía, por morarem demasiadamente distantes da família o casal optou por comemorar na casa de minha avó.

Wanderson foi uma das poucas pessoas que optou por aproveitar um dos poucos lá dos bons da esquizofrenia, a inteligência de meu pai.

ele, juntamente com sua esposa daniele, instruiu senhor germano em tudo relacionado a marcenaria, a fabricação de móveis planejados com mdf.

o casal sabia reconhecer os momentos de crise do meu pai, em alguns momentos até comunicando a minha família, mas sem nenhum preconceito.

o marceneiro alegre, capaz de brincar com tudo e todos, espalhando alegria por onde passava era uma das poucas pessoas em que meu pai confiava.

foi o irmão de daniele, daniel, que depois das insistências do cunhado e da irmã advogou para meu pai.

o casal me apoiou incondicionalmente depois do que me aconteceu, wanderson chegou até mesmo a conversar com minha mãe durante aquelas discussões acaloradas dos dois antes do abuso, dizendo para ela tomar cuidado com o igor e acima de tudo não afetar ainda mais a saúde mental de um de seus melhores amigos.

daniele, por sua vez, foi que me incentivou ainda mais a fazer o curso de enfermagem. a farmacêutica havia sido técnica de enfermagem em um passado um tanto distante, e me mostrou os prós e contras dessa decisão, estando lá para me aplaudir na minha formatura e comemorando minha pós-graduação.

os dois possuíam um filho autista, felipe era a luz de todos nós toda vez que nos encontramos. aquela explosão humana de amor que eu particularmente queria pegar para mim, trancarem um potinho de vidro e nunca mais devolver para os pais.

ao terminar de me arrumar, fui surpreendida por três batidinhas na porta já sabendo de quem se tratava antes de abri-la.

(eu já estava indo paizinho, já ia lá para casa da vovó, a mamãe não me esperou mas eu já estava a caminho). declarei abrindo a porta, evitando que ele tocasse no assunto de meu baixo astral naquele dia, me conhecia mais do que eu mesmo ia embora soubesse que não adiantaria tentar mudar o assunto, fiz a tentativa.

(fui eu que pedi para sua mãe ir na frente, precisava conversar com você e como sei que ela vai ficar distraída conversando com a dani, acha melhor aproveitar agora). meu pai entrou no quarto, sentando-se ao meu lado na cama.

(sou uma pessoa consciente da minha situação mental, sei que às vezes pareço um tanto alheio a realidade, e talvez até seja em alguns momentos, mas andei te observando no final de semana, sexta-feira e ontem para ser mais preciso, e não gostei nada do que vi). (sou uma pessoa quieta mas observo, e percebi que você, ao contrário dos outros dias, não voltou elogiando o comportamento e a hospitalidade da família do seu paciente, ou dizendo que sentiria falta do fernando, ou falando sobre o quanto você gosta dos empregados).

(eu não disse porque vocês já devem estar cansados de ouvir isso e também não achei necessário). mentir.

(anne, desde quando você mente para mim?). seu olhar penetrante era capaz de penetrar o fundo da minha alma, eu realmente não sabia mentir para ele.

(são dilemas pai, dilemas emocionais de outras pessoas que estão me afetando diretamente). (Por que algumas pessoas parecem ter nascido para sofrer?). (não me refiro a mim, mas a outras pessoas). (inclusive). parei no meio da frase, por medo de provocar alguma crise nele com a conclusão.

porto seguro.Where stories live. Discover now