capítulo 12

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Capítulo 12.

...

Anne.

depois de nossa conversa, fernando dirigiu-se ao quarto.

estava exausto e aproveitou para descansar, fiquei ao seu lado como sempre fazia.

o decorrer do dia foi monótono, era tudo muito novo.

Pouco antes do fim de meu expediente, Sandra retornou a mansão, levando a nova planilha de medicamentos e a lista com as modificações da rotina.

Alguns medicamentos foram retirados, outros diminuídos, outros aumentados e outros complementados.

a psicoterapia foi incrementada ao tratamento.

Eu ainda precisava estar ao lado de Fernando, logo que acordasse. No entanto, o banho havia sido substituído por outro ritual.

Era minha função ir até a cozinha, abrir o armário, pegar o barbeador, entregar para ele e observar o procedimento, retirando o objeto cortante de suas mãos assim que possível.

depois de 5 anos dedicados a fernando, alessandro e kate anunciaram que na semana seguinte retornariam ao apartamento onde moravam

A princípio, não posso negar que estranhei a nova rotina noturna.

A falta do embotamento emocional de meu paciente ainda era algo cujo Eu precisaria me acostumar. O fato dele responder quando eu dizia boa noite, se expressar emocionalmente comigo ainda era estranho.

obviamente, estranho no bom sentido da palavra.

meu paciente não demorou a adormecer diante de mim.

Alessandra adentrou o quarto com seu pijama de ursinho, me fazendo rir baixinho.

"você ficou a coisa mais linda com esse pijama!". minha intenção foi estimular um sorriso em seu rosto que me parecia triste.

Alessandra era uma filha admirável, o sofrimento pela condição mental de Fernando era notório no rosto da moça que precisou crescer vendo o pai naquele estado.

A tortura provocada pela depressão não acomete apenas o paciente, mas todos que o amam. Os familiares de Fernando eram prova viva disso, especialmente Alessandra. Por um tempo imaginei como deveria ser para uma menina de 10 anos, crescer sabendo que o pai tentava suicídio constantemente.

Me questionei novamente a respeito de sua reação ao descobrir que não levava o sangue do pai. Algo mudaria dentro daquela pobre moça, que já demonstrava sofrer tanto pela condição de Fernando?.

"vai ficar tudo bem querida, vai ficar tudo bem tá bom?". uma lágrima escorreu enquanto se deitava na cama.

uma sensação ruim tomou conta de mim subitamente, colocando-me em alerta.

"me perdoe por interromper seu descanso seu jonas, mas nós precisamos conversar". o idoso tirou os olhos da televisão e me encarou.

"não incomoda anne, diga".

"o senhor não acha melhor contarmos a alessandra e ao rafael que eles não são filhos biológicos do fernando?".

Incomodado, Senhor Jonas se levantou do sofá e começou a andar de um lado para o outro na sala.

"fora de cogitação!". suas palavras foram tão firmes que por alguns instantes me senti intimidada.

"mas senhor jonas!".

"o código de ética da sua profissão exige total sigilo em relação a vida do seu paciente, e os segredos da minha família cabem única e exclusivamente a mim, mas se você se acha no direito de interferir eu posso muito bem rescindir o contrato que temos com você".

porto seguro.Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum