capítulo 14

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Capítulo 14.

Fernando.

Um mês se passou e eu continuava na ardo a batalha contra a depressão.

Vivendo um dia de cada vez, superando um trauma de cada vez. Entre terapias e dosagens de remédio, me reconhecia novamente, apesar de ainda existirem fragmentos de uma dor que passou de sufocante para forte, e eu esperava a chegada do dia em que ela seria suportável pois jamais esqueceria tudo que passei.

Após uma semana de internação, longe de qualquer contato com minha família ou com o passado, sob os cuidados hospitalares que não incluíam nem mesmo a presença de Sandra ao meu lado, a medicação começou a apresentar resultados.

Eu começava a me inteirar da realidade que me cercava, e Os Delírios relacionados a meu corpo me deixavam de forma gradativa, lenta, mas não anulava o fato de que estavam indo embora.

Minha concepção de que se deixasse de existir o mundo seria um lugar melhor ainda era muito presente dentro de mim, mas eu estava tratando e aos poucos acreditava que tais pensamentos também me deixariam viver em paz.

O suicídio não era mais uma opção, por mais que quisesse Deixar de existir sabia que meus entes queridos Jamais permitiriam isso e acabei por desistir dessa ideia, por mais sufocante que fosse continuar com todos esses traumas.

A vigilância rigorosa foi um pouco afrouxada, Anne já não precisava estar ao meu lado nos momentos mais constrangedores, cuidando apenas dos Remédios e da manutenção do meu humor que ainda precisava ser tratado pois apesar de toda a melhora, não tinha prazer em nada e não conseguia dar o que minha família tanto queria, um sorriso, demonstrar alegria por alguma coisa.

Alessandra e Rafael também estavam passando por tratamento psicológico, para lidar com a perca em Vida da mãe que se mudou com o Renato para os Estados Unidos sem dar aviso nem mesmo aos próprios filhos.

Apesar da ausência da empatia pelo próximo, Renato e Fernanda tinham em comum uma obsessão um pelo outro, que lhes dava um sentimento de posse. Renato exigia os testes de DNA de Fernanda, com o único intuito de saber se o elo existente entre eles havia sido quebrado, Pois nada que não fosse dele poderia habitar dentro dela por muito tempo. Assim como a ex-esposa de Renato, que ele deixou por causa de Fernanda assim que a reencontrou, também era proibida de tentar engravidar. Um era posse do outro, objeto um do outro.

Os filhos eram apenas peças de um jogo, um jogo que eles gostavam de jogar pois o perigo da descoberta de uma possível traição ou até mesmo o período da gravidez era divertido aos olhos de ambos.

Rafael e Alessandra não passavam de peças de um jogo, de partes de um momento de diversão. Tanto Renato quanto Fernanda gostavam de saber que conseguiam manipular o mundo inteiro com suas facetas de bondade, mãe amorosa, homem sozinho, padrasto injustiçado e ex-esposa que tentou cuidar do marido adoentado que misteriosamente se divorciou sem dar maiores explicações.

Fernanda se diferenciava de Renato por uma única característica presente apenas nela, a impulsividade, a capacidade de provocar um escândalo de perder a cabeça quando as coisas pareciam sair do seu controle. Renato era um gelo humano, nada o abalava, levava a vida utilizando-se de uma ironia assustadora maquiavélica. Acabei conhecendo os dois demais, quando na verdade as duas únicas coisas que importavam para mim estavam vivendo na mesma casa que eu. Rafael e Alessandra.

A proximidade de Rafael com minha enfermeira era algo perceptível, extremamente focada em mim, a moça demonstrava o amor por meu filho a cada atitude no dia a dia, Ambos não diziam que se amavam com palavras bonitas e repletas de carinho, apesar dos Sentimentos ficarem cada dia mais evidentes, e os dois já terem dividido os mesmos comigo e eu ficar apenas calado fingindo que não sabia de nada enquanto observava a covardia dos dois que não assumiam um para o outro o amor que já era mais do que claro.

porto seguro.Where stories live. Discover now