Capítulo 3

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Capítulo 3

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Rafael.

Meus amigos invejavam nossa relação, me perguntavam como eu conseguia ser tão íntimo do meu pai sendo que eles precisavam colocar senha nos celulares para que os seus não tivessem acesso, pelo simples fato de não ter confiança para contar os problemas que passavam.

Estava comigo quando aprendi a nadar, ao andar de bicicleta.

Participava de cada evento da minha escola, me aplaudindo mesmo comigo errando a coreografia da dança que a professora tinha passado.

Tive medo de sua reação ao contar que pretendia fazer arquitetura e não administração de empresas, com o intuito de continuar o legado da família que ele construiu mesmo sendo bastante jovem.

meu pai contrariou todas as minhas expectativas não só me apoiando, mas pagando os meus estudos.

me colocou para fazer a faculdade em são paulo, alegando que eu teria mais independência e aprenderia a me virar sozinho.

nos abraçamos pela última vez no aeroporto, se soubesse que aquele seria o último em 5 anos, teria colocado meu pai na mala e levado comigo mesmo que ele não quisesse.

Ao completar meu primeiro mês na faculdade de Arquitetura, meu avô me ligou, relatando os problemas psicológicos aos quais meu pai apresentava.

-- fale com ele, filho. -- ele não suporta mais a presença da sua mãe, quando tento conversar com ele, só sabe chorar. -- os únicos que tem o poder de acalmá-lo São você e a Alessandra, à noite ele não dorme mais, fica ao lado da sua irmã durante a noite inteira e quando sai do quarto dela, se tranca no dele e não deixa ninguém se aproximar.

O homem descrito por Senhor Jonas, não poderia ser o meu pai.

Encerrei aquela chamada com a única certeza de que minha vida estava prestes a mudar de forma irremediável. Tentei entrar em contato com meu pai, que não demorou muito a atender o telefone.

-- o vovô me ligou, me disse que o senhor não está bem. -- o que aconteceu?.

-- eu não posso dizer, por favor não insiste!. Durante toda a minha vida, ouvi aquela voz carregada de alegria ou até mesmo raiva por alguma traquinagem minha de criança. Até aquele momento, nunca tinha ouvido tanto desespero através de simples palavras.

-- o senhor não confia mais em mim?. -- Sempre fomos cúmplices em tudo, nunca escondemos nada um do outro então o senhor sabe que pode me contar, Seja lá o que for.

-- por favor meu filho, pelo amor do que você mais ama nesse mundo não me pede para falar porque eu não vou!. -- eu não quero me estressar com você Rafael, estou falando sério!.

-- Então nós vamos fazer o seguinte. -- eu volto para Porto Velho no primeiro voo, vou cuidar do Senhor!.

-- por favor meu filho, me escuta. -- Volta quando acabar a faculdade, eu já estou me sentindo imundo o suficiente e não suportaria saber que estraguei a sua vida.

-- não me pede isso pai, não posso fazer isso!.

-- me promete que vai voltar depois da formatura, Rafa. A firmeza que ele transparecia em suas palavras me fazia crer que nada o Faria mudar de ideia.

-- eu vou aceitar mas eu quero que o senhor saiba que isso vai ser feito na mais completa indignação e revolta!. Tentei me mostrar firme, não deixando de evidenciar o medo que sentia de nunca mais ouvi-lo.

-- tudo bem, pode ficar nervoso e não concordar. -- só quero que você saiba que independente do que vier a acontecer, eu te amo.

-- eu tenho medo de quando voltar, o senhor não esteja mais em casa. Não tive nenhuma vergonha de derramar lágrimas naquele dia, meu coração transbordava de desespero por não poder ajudá-lo como gostaria.

porto seguro.Where stories live. Discover now