Desfile (segunda parte)

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Quando Carol entrou no quarto eu não pude deixar de notar o quanto ela estava linda. Um vestido branco rodadinho de bolinhas vermelhas. Estava maravilhosa.

- Vire-se que vou te ajudar a fechar esse zíper.

Quando virei de costas ela pôs o dedinho na abertura do zíper e puxou pra fora e olhou dentro do meu vestido pra certificar que eu estava de calcinha. Então ela disse:

- Essa calcinha ficou uma fofura em você heim menina.
- Você tá olhando minha calcinha?
- Tinha de ver se estava com ela mesma. Tá te incomodando?
- De jeito nenhum. Tô amando!
- Sério?- disse ela com um sorriso no rosto.

Dali em diante eu não ia fazer charminho mais, pras meninas que me acolheram com tanto carinho. Ia expressar apenas minha felicidade e gratidão por tudo aquilo que elas estavam me proporcionando. Então eu disse:

- Nunca usei uma roupa que me sentisse tão bem como esse vestido e essa calcinha.
- Ai Bruninha...que amor- disse ela me abraçando. E me deu um beijo no rosto, fazendo uma marquinha de batom. E logo pegou um lencinho e limpou rindo:

- Deixa eu limpar aqui, senão vão achar que a gente tá namorando.
- É mesmo - ri também.

Logo em seguida ela puxou o zíper do vestido que ficou certinho no meu corpinho gordinho.

- Vamos aos últimos retoques.

Então ela olhou para os meus pés e disse:

- Que pezinho pequeno. Igual pé de menina.
- É porque eu sou uma menina!
- Acho que é mesmo.- disse abrindo o guarda roupa, pegando uma sandalinha azul clarinho muito lindinha, e disse:

- Calça essa aqui.

Calcei e ficou certinha. Depois me deu algumas pulseiras muito bonitas e anéis. Daí a Carol deu uns passinhos pra trás pra me admirar e falou:

- Ai Bruna... você tá lindaaaaa!!!
- Obrigada - disse eu pegando nas duas laterais do vestido fazendo uma leve inclinação pra frente colocando um pé atrás do outro...igual esses filmes de época. Em seguida me virei pra me olhar no espelho. Uau...eu via uma menina. Uma garotinha linda. Quando saí do quarto as meninas me rodearam me tocando e falando de como eu estava linda.

Daí nós colocamos um tapete comprido no quintal pra servir de passarela.

A primeira a desfilar foi a Poliana. Estava com um vestido vermelho e bolinhas brancas. Estava linda, apesar que ela é linda de qualquer jeito. Enquanto ela desfilava a gente aplaudia. Depois foi a vez da Carol com seu vestido branco de bolinhas vermelhas. Em seguida foi a Patrícia que estava com uma saia longa e um cropped. Continuando o desfile veio a Larissa. Estava com um vestido azul e desenhos de pequenos losangos brancos. Estava maquiada e com um óculos de sol. Nunca tinha reparado como essa gordinha era linda. Achei ela mais bonita até que a Poliana. E por fim foi a minha vez de desfilar. Como já brincava disso com a Marina, não tive dificuldade. O meu rebolado jogava o vestido pra um lado e pra outro acompanhando a música do Black pink  que estava passando pra gente desfilar. Fui a mais aplaudida. Apesar que não fazemos competições entre nós, pra não criar inimizades, conforme me explicaram as meninas. Achei isso muito bonito da parte delas.

Estávamos entretidas quando de repente a mãe da Carol entra com uma bandeja trazendo um bule muito bonitinho com chá e cinco xícaras. Da uma olhadinha, sai e volta com outra bandeja com alguns potinhos de biscoitos amanteigados, biscoitos integrais e salpet com patê. Então ela fala:
- Boa tarde meninas. Trouxe um lanchinho aqui pra vocês. Engraçado, parece que tinha um menino com vocês. Devo ter me enganado pois só tem meninas aqui. Vocês estão muito bonitas viu. Bom apetite.

- Obrigada -respondemos todas.

Depois que ela saiu, começamos a rir pelo ocorrido.

- Você vou isso Bruna?- disse Larissa.
- Vi sim- respondi.
- Minha mãe nem percebeu que você é menino.
- É porque eu não sou menino uai.
- Fala pra gente Bruna. Como se sente a ponto de se passar por menina? - perguntou Poliana.
- Meninas, vou falar uma coisa do fundo do meu coração. Nunca me senti tão realizada como hoje. Estou gostando tanto que se pudesse eu nunca mais voltaria a ser menino. Ser menina está sendo a experiência mais maravilhosa da minha vida. Nem tenho palavras pra agradecer a vocês pelo carinho e pelo apoio.

Então Larissa disse:

- Bruna. Você realmente ficou uma menina muito bonita.
- Graças a você Larissa que teve a bondade de me emprestar suas roupas. Você é maravilhosa. E linda também.
- Obrigada - disse ela dando um sorrisinho tímido.
- Agora tenho de tomar cuidado pra não te chamar de Bruna na escola- observou Patrícia.
- Até eu tenho de tomar cuidado pra não se referir a mim mesma no feminino. Mas quando estivermos sozinhas podem me chamar de Bruna. Vou amar.
- Legal !!!- disseram elas.
- Estamos amando ter você no nosso grupinho de meninas- disse Poliana.
- A gente pensou que não ia aceitar usar calcinha - comentou Carol.
- Vou revelar um segredo pra vocês. Mas é segredo mesmo viu.
- Pode ficar tranquila Bruna. Nunca falaríamos nada pra ninguém -comentou Larissa.
- Isso mesmo- confirmaram todas.
- Obrigada meninas. Oque eu tenho que falar é o seguinte. Sempre fui fascinada por coisas de menina, principalmente as roupas, mas muito mais ainda, as roupas íntimas. Oque estou vivendo aqui com vocês agora é a realização de um sonho. Nunca tinha conseguido ficar tão bonitinha assim.
- Bonitinha nada. Você está linda-disse Poliana.
- Lindíssima!!!- enfatizou Larissa.
- Aaaah !!! Vocês são uns amores. Mas deixa eu contar o segredo - daí contei do aniversário da minha irmã e como consegui minha primeira calcinha e também do presente da minha prima Marina. Quando terminei estavam de boca aberta. Larissa foi a primeira a falar.

- Nossa...que fofinha você é Bruna.
- E muito inteligente também - disse Patrícia.
- Deixa a gente ver a calcinha que você veio com ela?- quiz saber Carol.
- Está no bolso do meu shortinho que está no seu quarto. Se quiser pode pegar e mostrar. Eu não ligo mais.
- Sério? - quis saber Carol.
- Claro. Pode pegar.

Carol saiu correndo e logo em seguida voltou com uma calcinha enroladinha na mão. Então ela abriu ela lentamente. Lá estava diante de todas, uma das minhas calcinhas. Vermelhinha de corações brancos. Todas quiseram pegar nela. Então se escutava algo como, "que linda", "que fofa", "fofinha", "amei" !!!

- É essa a calcinha que sua prima te deu e tem outra igual?-perguntou Poliana.
- Ela mesma.
- Você tá namorando sua prima?-quis saber Larissa.
- Naaaaão. Somos só muito chegadas. Ela é como se fosse uma irmã pra mim.
- Aaaah bom !!! Outra coisa. Você gosta de ser menina né. Então você gosta de menino pra namorar?- continuou Larissa.
- Naaaaão. Eu gosto é de menina. Gosto tanto de menina que me sinto uma menina também.
- Que fofa, Bruna - disse Larissa.
- Ei meninas, se não tomarem o chá, vai esfriar. - avisou Carol.

Em seguida a própria Carol veio nos servindo chá nas nossas xícaras e fomos tomando e comendo biscoitinhos.

Este realmente foi um dos dias mais marcantes da minha vida. Oque me deixou mais feliz ainda é que as meninas me colocaram como integrante do grupo das Gatinhas, que é o nome do nosso grupinho.

Diário de uma Menina TransWhere stories live. Discover now