Adaptação

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- Quem é Larissa? - perguntou a Ana curiosa.
- Minha namorada.
- Uai, você é menina e tem namorada?
- Sou menina mas gosto de menina.
- Eu já vi ela - disse Alice - é bonita.
- E aquela menina gordinha que vem aqui as vezes, antes da gente ir pra escola?
- Essa mesma.
- Ela é muito lindinha.
- Obrigada Ana. Mas vê se quando ela estiver aqui, não ficar enchendo ela de interrogatório viu.
- Tudo bem- disse Ana, sentando ao meu lado e pondo a mão no meu ombro - não vou incomodar sua namoradinha.

Não sei porque, mas não acreditei muito nessas palavras.

Eu estava terminando as tranças da Alice quando escutei meu pai chegando. Apesar de todo apoio, ele ainda não tinha me visto de menina. Eu ainda estava com a roupa que tinha ido ao shopping.

Quando meu pai entrou eu estava em pé. Ele ficou paralisado me olhando fixamente por um bom tempo. Era um olhar de amor e ternura. Quando ele notou que eu estava ficando sem graça ele abre os braços e diz:

- Me da um abraço filha.

Ao ouvir ele me chamando de filha eu fiquei muito emocionada e me entreguei no seu abraço. A aceitação do meu pai era muito importante pra mim. E depois que eu soube do seu segredo eu fiquei mais feliz ainda. Com ele eu me sentia protegida. Sabia que ele não deixaria ninguém me criticar por ser menina e sabia que ele me amava mais ainda por ser menina. Eu era oque ele gostaria de ter sido.

- Você está muito linda - disse ele afinal.
- Obrigada papai.

Ele sentou no sofá e me fez sentar ao lado dele, e perguntou:

- Conte pro seu pai aqui. Qual foi a sensação de andar como menina em público?
- É bom demais. Acredita que ninguém percebeu que eu era menino?
- É porque você não é menino. É uma menininha muito linda. Eu não imaginava que ficaria tão bonita assim. Você tá uma menina perfeita.

Nisso eu vejo minha mãe encostada na porta, que estava escutando nossa conversa. Meu pai aproveita e diz:

- Oi querida. Que bom que está aqui. Queria aproveitar que estamos nós três aqui.

Minha mãe chegou mais perto e sentou na ponta do sofá de modo que eu fiquei no meio dos dois. Então meu pai olhou pra mim e disse:

- Bruna, você saiu pela primeira vez como menina e pelo jeito você amou... principalmente porque ninguém questionou que você é uma menina. E realmente você é. E pelo que vejo, você quer ter uma vida cem por cento como menina, certo?
- Isso mesmo papai. E estou realizando esse sonho.
- Mas onde quero chegar é o seguinte. Como você vai fazer em relação a escola?
- Nossa... não tinha pensado nisso.
- Mas nós pensamos - disse minha mãe - e se você quiser ir como menina pra escola também, já temos um plano pronto.
- Sério? Agora estou curiosa.
- Temos uma amiga pedagoga e trans. Vamos pedir autorização da diretoria da escola pra essa amiga dar uma palestra explicando sobre oque é ser transgênero pra toda a escola. Todo mundo entendendo, você não será discriminada.
- Nossa mamãe. Só vocês mesmo heim. Amei a idéia.
- Hoje mesmo vou ligar pra Sônia e pra escola pra fazer esse agendamento.
- Eu amo vocês demais - disse abraçando os dois.

Depois de um tempo disse:

- Deixa eu tirar aquelas meninas do chuveiro e você mocinha, toma um banho pra gente lanchar. Hoje teremos pastel frito.
- Obaaaaa !!!

Depois que saí do banho minha mãe tinha deixado um baby dool lindo em cima da cama e uma calcinha branca de algodão. Era um baby dool rosa clarinho com desenhos da Hello Kitty muito fofo. Ficou larguinho super confortável, um encanto.

Quando cheguei na copa pra lanchar, todos olharam admirados pra mim e choveram de elogios. Aí a Ana solta uma.

- Você fica mais bonita como menina doque menino.
- Obrigada Aninha. Você é uma amorzinho.

Tivemos um momento família bem gostoso, conversando, sem televisão.

Dormir a noite com roupa própria de menina foi uma maravilha. Amei dormir de baby dool. Confortável e sex.

No outro dia acordei radiante por ter dormido como uma verdadeira menina. Era Sábado e a Larissa marcou de passar o dia comigo. Depois do café da manhã eu ajudei minha mãe a lavar a louça. Em seguida fui pro meu quarto e troquei de roupa. Coloquei um vestidinho lilás pra esperar minha namorada. Nesse meio tempo minha mãe me chamou mostrando um vidrinho de esmalte.

- Você quer?
- Claro que quero - cheguei perto já abrindo os dedinhos.

Minha mãe passou um esmalte vermelho (a minha escolha) e colocou um adesivo de florzinha na filha única de cada mão. A medida que ela foi passando eu lembrava quando ela ficava pintando as próprias unhas. Fica doidinha de vontade de pintar também, mas nunca tive coragem de pedir. Hoje esse desejo se realizou. Também sou fascinada  pelo cheiro de esmalte. Quando ela terminou fiquei com a mãozinha aberta com medo de esbarrar em alguma coisa e estragar a pintura. Fiquei quase meia hora com as mãozinhas abertas, até que minha mãe viu e começou a rir de mim dizendo:

- Ei moça...seu esmalte já tá seco a séculos...pode relaxar.
- Nossa mamãe, fiquei apaixonada com minhas mãos. Tá muito linda.
- Tá mesmo. Ficou muito fofa.

Nisso a campainha toca. Era a Larissa. Fui atender o portão. Quando me viu, colocou as duas mãozinhas no rosto e disse:

- Nossa Bruna, cada dia que eu te vejo você está mais bonita.
- Acontece a mesma coisa quando te vejo. Não é atoa que é a menina mais bonita da escola.
- Eita menina exagerada.
- E eu sou a menina mais sortuda do mundo por te conhecer e você gostar de mim do jeitinho que eu sou.
- Eu gosto de você é porque você é do jeito que é. Não é como esses meninos chatos. Você é menina e gosta de coisas de menina, igual eu.
- Oi dona Cláudia - disse Larissa quando viu minha mãe chegando - estou aqui de novo.
- Pode vir o quanto quiser. A casa é sua.
- Obrigada.

Nisso a Larissa pegou na minha mão e levantou pra olhar melhor e disse:

- Que linda ficaram as suas unhas amor...amei.
- Foi minha mãe que fez pra mim.
- Se quiser posso pintar as duas também Larissa - disse minha mãe.
- Se não for incomodar, eu quero sim.

Em poucos minutos as unhas da Larissa estavam tão impecáveis quanto as minhas.

- Muito obrigada dona Cláudia.
- Que isso... é um prazer Larissa. Além do mais fazer as unhas de vocês novinhas é muito simples. É só esmaltar. Não precisa tirar cutícula.

Então minha mãe colocou as duas mãos fechadas na cintura e falou fingindo braveza:

- Olha aqui mocinha - falou mudando a voz - não estou gostando de uma coisa.
- Oque dona Cláudia?
- Isso mesmo que acabou de fazer.
- Oque? - perguntou Larissa sem entender.

Aí minha mãe voltou a voz normal e disse se inclinando na direção da Larissa:

- Você é uma garotinha adorável, mas por favor, não me chame de dona Cláudia. Apenas Cláudia, pode ser?
- Claro don...quer dizer, Cláudia.
- Agora está melhor - minha mãe disse satisfeita - podem ir brincar.

Fomos pro quarto.

- Posso fazer uma trança diferente no seu cabelo?
- Claro amor.

Então Larissa tirou um monte de gominhas coloridas de dentro do bolso. Começou a fazer várias trancinhas fininhas, e na ponta  colocava a gominhas pra prender e não desfazer a trança.. No final fiquei linda com aquele monte de trancinhas.

Diário de uma Menina TransWhere stories live. Discover now