Mamãe é um anjo

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Quando minha mãe me chamou de filhinha linda, eu sentei na cama ainda abraçada com o ursão rosa, e perguntei:

- Mãe, porque a senhora tá me chamando assim? Mais cedo quando me chamou pra almoçar, me chamou de menina e agora de filhinha.
- Te chamei assim porque quero te fazer uma pergunta.
- Qual?

Novamente minha mãe recomeçou a mexer no meus cabelos falando:

- Olha meu amor. Você ficou chateado, triste ou com raiva por eu ter te chamado assim?
- Não mamãe, não fiquei não.
- Então gostou - disse ela colocando as duas mãos nos meus ombros olhando sorridente pra mim esperando uma resposta afirmativa.
- Gost...quer dizer...só não import...ai mãe...a senhora tá me deixando confusa.
- Confusa?
- Sim, a senhora tá...
- Você disse confusa.
- Hããã? Disse?
- Acabou de falar - nisso ela me deu um abração me deixando sufocada.
- Ai que lindinha!!! - disse ela.
- Mamãe, eu...
- Não fale nada - interrompeu ela - deixa eu falar. Outro dia você me disse que era comportada e agora disse que está confusa. Acabei de te ver dormindo abraçado com esse urso igual as meninas fazem. Ficou com inveja de um quarto de menina. Seus cadernos são todos enfeitadinhos de florzinhas e coisas de menina e ultimamente está agindo e falando igual menina. Agora me responda e não minta pra sua mãezinha . Oque está acontecendo.

Aí foi a vez de eu abraçar ela e falei quase chorando:

- Por favor mamãe, não me force a falar sobre isso. Eu não quero que a senhora fique chateada comigo.
- Olha meu amor. Vou ficar muito triste, é se você não falar.
- Ai mãe, eu tenho vergonha.
- Vergonha da sua mãe?
- Eu nem sei como falar oque sinto.
- Olha pra mamãe meu bem - disse ela pegando o meu rosto com as duas mãos - a mamãe nunca vai rir de você e nem te julgar e muito menos ficar chateada com você. Fale doque gosta, simplesmente.
- É que eu queria ser... - disse eu já chorando.
- Queria ser oque meu amor?
- Eu queria ser uma menina - abracei ela chorando ainda mais.

Então ela me abraçou forte e disse com lágrimas nos olhos:

- Você já é minha filhinha amor, você é a menininha da mamãe.

Ficamos um bom tempo ali abraçadas. Por fim eu consegui falar:

- Então a senhora não está chateada comigo?
- Claro que não meu amor. Eu te amo Bruna.

Novamente os meus olhinhos encheram- se de lágrimas enquanto falava:

- A senhora...a senhora me chamou...de... Bruna?

E novamente abracei ela.

- Chamei sim meu amor...e de hoje em diante eu vou te chamar só de Bruna...oque acha disso?
- Nossa mamãe...eu vou amar. Isso até parece um sonho.
- Ai Bruna, quando te vi dormindo abraçado, quero dizer, abraçada com esse urso, eu vi uma menina. Tava tão linda. Você tem todo jeitinho de menina.
- A Larissa também falou isso - disse sem pensar.
- Quem é Larissa? - perguntou ela surpresa.
- Não... é... ninguém não mamãe.
- Bruuuuna!!! Prometemos não esconder nada.
- É uma menina da minha sala.
- E porque ela disse que você tem jeitinho de menina?
- Disse por falar...
- Peraí...Larissa é uma das meninas que foi brincar na casa da Carol não é.

Ai. Essa memória da minha mãe é demais. Como ela conseguiu lembrar? E ela continuou, mais uma vez ativando a super sabedoria de mãe:

- Vocês estavam realmente jogando xadrez?
- Sim...sim...
- Posso ligar pra mãe da Carol pra confirmar isso?
- Não - disse apavorada.

Minha mãe cruzou os braços e sentou na minha frente e disse:

Muito bem mocinha, parece que você tem uma história pra me contar...acertei?
- Mais ou menos.
- Como assim?
- Pra chegar nessa parte tenho de contar três histórias...e espero não ficar de castigo depois que contar tudo.
- Parece que a minha menina já está dando trabalho heim.
- Não é tão grave assim mãe.
- Tomara.
-  Em primeiro lugar quero te mostrar uma coisa - e abaixei a beiradinha da bermuda revelando uma calcinha.

Minha mãe arregalou os olhos, pegou nas duas laterais do short e num puxão abaixou meu short até o joelho me deixando só de calcinha.

- Onde arrumou isso? - disse espantada.

Fiquei corada de vergonha tentando inutilmente puxar o short de volta, mas ela segurou e disse:

- Espera aí Bruna, deixa eu ver.

Nisso foi me rodando e olhando atentamente minha calcinha.

- Ai mãe, deixa eu vestir.
- Só tem nós duas aqui, suas irmãs estão na escola.

Quando ela disse "nós duas" veio um sentimento tão gostoso.

- Bruna...sou obrigada a admitir que você ficou linda demais de calcinha. Tá parecendo uma menina mesmo.

Então ela levantou dizendo:

- Tira essa bermuda que eu já volto - disse ela saindo do quarto. Quando voltou veio com uma saia da minha irmã. Era rodadinha e de elástico na cintura. Era rosa de bolinhas brancas.

- Veste isso aqui- disse ela.
- Sério mãe?
- Claro, você não quer ser menina?
- Queeeero.

E rapidamente enfiei as duas pernas na saia e puxei até a cintura. Ficou curtinha mas muito bonitinha. Dei uma rodada olhando no espelho.

- É menina mesmo - disse minha mãe - ficou linda.
- Nossa mamãe, obrigada. Uau, que felicidade.
- Venha aqui mocinha, você ainda tem de me dar algumas explicações.
- Claro mamãe - disse eu sentando - que delícia usar saia.
- Então me conta. Onde arrumou essa calcinha?
- Foi no aniversário da Aninha. Ela tinha ganhado três calcinhas dentro de um saquinho. Mas como ela não contou quantas tinham, e ninguém tinha visto eu peguei uma pra mim. Ela tem um monte e eu não tinha nem uma.
- Você é bem sabidinha heim. Vejo que puxou sua mãe.
- Sempre tive um sonho de usar calcinha e essa foi a minha oportunidade.
- Só um minutinho - disse ela saindo. Logo em seguida voltou com um saquinho na mão e me deu perguntando - as outras calcinhas eram essas aqui?

Eu olhei e disse:

- Siiiim, essas mesmas.
- Pode ficar com elas, ficaram grandes na Aninha.

Voei no pescoço da minha mãe enchendo ela de beijos.

- Brigada mamãe, brigada mamãe...nooossaaaa...que lindas. Nem posso acreditar. Agora já tenho oito calcinhas.
- Oito? Como assim?
- Vou chegar lá.

Então comecei a contar tudo nos mínimos detalhes. Da visita na casa da Marina e a calcinha que ela me deu e depois a brincadeira do desfile e como fui confundida com menina pela mãe da Carol e depois a surpresa na escola das calcinhas que minhas amiguinhas me deram e como fui confundida de novo como menina. E por último falei da Larissa e como estou apaixonada por ela.

Minha mãe encostou na cabeceira da cama com olhar fixo e disse:

- Calma menina...deixa eu me recompor primeiro... é muita informação.
- E então, tô de castigo?
- Claro que não sua doidinha.
- Mamãe... é difícil de acreditar que existe nesse planeta Terra , uma mãe tão maravilhosa como a senhora.

Diário de uma Menina TransWhere stories live. Discover now