22- Um desconhecido

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Antônia Valença

Estavam indo ao boticário na cidade, Antônia havia dito que desejava encomendar alguns cremes que Elisié lhe dissera, mas na verdade iria mesmo enviar um cartão postal para Fernando. Tinha levado Joana para que ela distraísse a senhora Mazé, que só reclamava do calor insuportáveis dentro da carruagem enquanto se abanava com seu leque.

As coisas em casa não andavam nada bem, desde o sumiço de Elisa e Fernando, sua mãe e Manuel pareciam mais mal humorados que nunca. Antônia tinha inventado, uma suposta prima que Elisa havia lhe dito ter em Campo grande, aquilo só fez atrasar a busca e Manuel ficou furioso quando seus capangas retornaram descobrindo que a tal prima não existia.

Ainda estavam aos arredores da fazenda quando Antônia olhou pela janela e viu algo que lhe chamou atenção, entre os pastos verdejantes, havia uma pessoa debaixo de uma árvore e ao seu lado um cachorro sentado rigidamente como se o protegesse, uma espécie de vira-lata com pastor alemão. Ela estreitou os olhos e viu que o homem não parecia bem.

O colcheiro de repente parou a viagem.

Joana tentava convencer a senhora Mazé a lhe deixar capturar insetos, a serva estava completamente chocada com o pedido da menina e nem haviam notado que o movimento da carruagem tinha parado. O colcheiro bateu na porta da cabine, e a senhora Mazé lhe atendeu.

- Senhora Mazé, peço que fiquem aí dentro, há um homem em atitude suspeita bem ali à frente.

Enquanto o colcheiro falava, Antônia saltou do veículo seguida por Joana. Por algum motivo, Antônia não acreditava que o indivíduo ali à frente representasse perigo. Ela caminhou devagar indo na direção dele e ignorando completamente os gritos estéricos de Mazé ordenando que ela e Joana voltassem. No entanto nem uma das duas obedeceram. Joana parecia tão curiosa quanto Antônia, além de bastante animada com o animal. Ao se aproximar da enorme castanheira o cachorro não latiu, o pobrezinho parecia faminto, estava com a língua para fora e orelhas caídas. Antônia conteve Joana para que não ficasse tão perto, como precaução. Bem ao seu lado, estava o rapaz, ele parecia inconsciente, pálido, talvez estivesse doente.

- Céus, vocês não me obedecem nunca?- Mazé falou ao se aproximar em tom de indignação bastante ofegante.

Ao notar a presença de mais pessoas o animal latiu, um latido fraco porém ameaçador e Mazé ficou apavorada. Então, o rapaz abriu os olhos, parecia assustado, um tanto confuso e Antônia ficou presa no olhar dele. Apesar da aparência moribunda e desalinhada ela acreditou que ele fosse bonito. Tinha olhos negros, cabelos e barba crescidos em tom castanho, seu copo parecia frágil e magro.

De repente ele falou em quase um suspiro:

- Por... Favor... Me ajudem...

A senhora Mazé puxou Joana pelo braço e tentou fazer o mesmo com Antonia, mas não obteve sucesso. A jovem já estava mais próxima e ainda se ajoelhou sobre o rapaz.

- Senhor, essa garota perdeu o juízo!- Mazé reclamou atônita.

- Oi. Sou Antônia Valença.

Ao ouvir o sobrenome, o rapaz tentou se ajeitar, levou a mão ao lado esquerdo e gemeu.

- Va-lença...?

- Sim. Sou uma Valença... Como posso te ajudar?

O homem enfiou a mão no bolso e pegou um pedaço de papel entregando a Antônia.

Ela segurou o papel sujo e amassado ainda sobre o olhar tenso de Mazé.

Estava escrito o nome se seu irmão, Fernando Valença.

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