23 - O castigo

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Antônia foi levada ao quartinho, sentia pavor daquele lugar. Se recordou de todas as vezes em que a pobre de sua irmã esteve presa ali, e Fernando também. O lugar era escuro naturalmente, estreito e úmido. Havia apenas uma pequena lamparina que iluminava o ambiente. As paredes de pedra estavam descascadas e cheias de teias de aranhas causando arrepios por sua pele. Ela se jogou no colchão de palhas receosa de que tivesse algum tipo de inseto, como ratos, escorpiões ou até mesmo aranhas. Estava angustiada pois Manuel certamente iria atrás de Elisa e Fernando, de alguma forma se sentia culpada.

De repente uma voz masculina agitou seus pensamentos.

— A senhorita está aqui por minha causa?— perguntou um tanto aflito.

Ela se levantou, forçou a grade e abriu a cela com facilidade pois estava muito velha e não prendia mais, foi ao encontro daquela voz, se lembrara de que Joaquim também estava ali. O encontrou sentado com a mão ali naquele mesmo lugar que parecia ferido.

— Olá — ela falou.

Ele parecia estar melhor, até mais corado.

Antônia achou estranho se sentir tímida perto dele, mas talvez fosse algo natural já que estavam sozinhos. Os olhos dele se encontraram com os dela e a forma que ele a olhou a deixou vermelha.

— Seja sincera, a culpa é toda minha... — falou fitando o chão para quebrar o contato.

— Não...

Ele a olhou rapidamente, era mais forte que ele. Ter aqueles olhos celestes sobre os dele era alho fabuloso. Depois de tanto tempo na escuridão, Antônia mais parecia uma luz que o trazia todos tipo de sentimento bom.

— Digamos que... Eu menti, e por isso estou aqui como punição.

Ele ficou surpreso.

— A senhorita não parece ser do tipo que fala mentiras.

Ela sorriu de leve com suas palavras, ele sorriu de volta satisfeito por vê-la com uma expressão melhor.

— Às vezes é nescessário.

— Se for por uma causa justa, talvez.

Joaquim ficou ainda mais intrigado, quando se moveu do lugar sentiu uma dor forte e gemeu.

— Está tudo bem?

Num instinto ela se aproximou. Quando ele sentiu o aroma de flores do campo que ela emanava fechou os olhos se sentindo absorto.

— É um ferimento. Se o senhor não se importar, posso ver?

Ele ergueu lentamente a roupa constrangido com sua sugeira, fazia muitos dias que não tomava um banho.

— Os servos me fizeram um curativo.

Ao ver o abdômen nu, Antônia ficou mais vermelha que um tomate, só então percebeu o que estava fazendo e o quanto aquilo era inapropriado, Joaquim sorriu se divertindo, fazia tanto tempo que não via uma mulher que estava encantado com aquela jovem.

— O que houve? — ela perguntou curiosa.

— Uma arma de fogo me atingiu. Felizmente foi de raspão.

Ela levou a mão até a boca chocada.

— Está tudo bem. Fui atingido, mas o outro homem levou a pior.

— Você o matou...?— ela perguntou com ressentimento, certamente aprendeu que aquele ato se tratava de um pecado grave.

— Se eu não o fizesse, eu seria morto.

Ela engoliu seco como se tentasse concordar com ele.

— Era um soldado?

— Mais que um soldado, ele era um capitão da Marinha.

RAZÕES PARA NÃO TE AMARWhere stories live. Discover now