Extra 01

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Vinícius Miller POV.

Eu odeio meus pais.

Eu sei que normalmente as pessoas não odeiam seus pais, só sentem mágoa deles. Mas eu realmente odiava os meus, minha família e todos daquela casa. Sentia vergonha e nojo de ser filho de pessoas tão repugnantes quanto eles. Provavelmente se eu contasse isso para alguém, falariam que eu estava sendo ingrato, porque tudo que eu queria, eu tinha. Então por que, de forma tola, eu ainda os odiava?

Mas eu os odiava. E depois daquele dia, passei a sentir nojo deles, principalmente do meu pai.

FLASHBACK ON

Dez anos atrás.

(Idade da Valentim: cinco anos. Idade de Vinícius: sete anos.)

— Vinícius ! — Ouvi meu pai me chamar do andar de baixo e me levantei rápido, descendo as escadas. Mamãe estava na sala; falaram que hoje a esposa do tio falecido, Miguel, viria morar conosco e ela tinha um filho mais novo que eu. Eu não me lembrava desse tio, mas ele era o irmão mais novo do meu pai; eram só eles dois, eu já tinha visto seu rosto em um porta-retrato na casa da minha avó. Eu estava animado porque finalmente teria alguém para brincar. Desci as escadas com pressa.

— Não corra! Olhe os modos, Vinícius! — Arfei quando minha mãe me repreendeu e parei de correr, descendo o restante das escadas devagar, fiz uma reverência e respirei fundo.

— Me perdoe, mãe — falei e ela olhou para o lado, voltando a tomar seu chá. Minha mãe nunca sorria.

Mordi o lábio inferior, ficando de pé entre meus pais, e quando foi anunciada a chegada de minha tia, fomos recepcioná-la na entrada. Levantei os olhos para minha mãe, vendo-a com seus olhos zangados, e olhei para o carro. Vi uma moça de longos cabelos pretos descer dele, ela usava um vestido de flores vermelhas e se virou, estendendo a mão. Minhas sobrancelhas se franziram quando uma garota desceu do carro usando uma coroa de princesa e uma saia de bailarina.

— Asqueroso — ouvi minha mãe falar e olhei para ela sem entender.

A moça se aproximou de nós com duas malas pequenas. E a filha dela segurava sua mão.

— Matteo, Aurora. É um prazer revê-los — ela se curvou e sorriu, olhando para mim. — Olá, Vinícius. Talvez você não se lembre de mim, da última vez que nos vimos você era muito pequeno. — Suspirei, olhando seu sorriso, ela era tão linda. Os cabelos longos e pretos, os seus olhos verdes pequenos e suas bochechas rosadas.

— É um prazer tê-la aqui, Mirea — meu pai falou e o vi sorrir para ela. Meu pai nunca sorria para minha mãe.

— Achei que você tivesse um filho — minha mãe disse e Mirea suspirou.

— Por favor, trate bem minha pequena Tina — ela disse e eu olhei para a menina enquanto eles conversavam, ela saiu detrás de Mirea e olhou para mim, sorrindo pequeno. Seus cabelos também eram pretos e estavam curtos. Seus olhos eram verdes como os de Mirea.

— Oi — ela sussurrou e acenou para mim, fiz o mesmo.

Aquela foi a primeira vez que vi minha tia. Antes dela, eu achava que os pais eram sempre duros e severos. Eu nunca tinha recebido um sorriso e um elogio antes, porque minhas notas na escola eram boas. Em meu aniversário tinham vários presentes, mas eu nunca tinha ganhado um bolo de chocolate e nunca tinham cantado parabéns para mim.

— Vamos, Tina, cante parabéns para o Vinícius — minha tia falou, sorrindo, e vi Tina bater palmas para mim.

— Vin, feliz aniversário! — Sorri, assoprando a vela.

FLASHBACK OFF

(...)

Eu me lembrava do dia em que ganhei minha primeira medalha no arco e flecha. Eu tinha descido tão animado do carro para mostrar aos meus pais, estava certo de que eles iriam me parabenizar pelo meu segundo lugar. Mas o segundo lugar é o primeiro dos perdedores, eu não conseguia alcançar as expectativas deles. Eu me perguntava como fui uma criança tão estúpida naquela época por não entender o que estava acontecendo.

Butterfly: Casulo de OuroWhere stories live. Discover now