Gabriela
Pego o copo da mão da Rebeca, sentindo o gelado do plástico transparente, e olho pra dentro dele, podendo ver o gelo derretendo ali dentro. Dou um gole, sentindo o líquido descer rasgando na minha garganta, e eu passo a língua na boca com a sensação.
Rebeca: Isso, bebe igual desesperada mesmo - ironiza pegando o copo da minha mão.
Eu: Desceu rasgando esse, colocou o que aí?- me encosto na grade do camarote, segurando minha bolsinha na mão.
Rebeca: Vodka e energético de melancia, coloquei tudo dentro da ice - olho pra ela, que dá um gole no copo.
Eu: É bom, ficou gostoso - falo sentindo o gostinho bom na boca ainda.
Me viro pra frente da grade, podendo ver as pessoas amontoadas ali embaixo, enquanto eu tô curtindo o camarote aqui de cima. Observo o povo ali curtindo, e olho pro camarote que tem do outro lado da multidão formada, podendo ver os mais fortes da facção passando por lá, cheios de marra, com as correntes e relógios se destacando no corpo.
Rebeca: Nem olha muito, aquele lugar ali não é pra gente - fala aproximando o corpo do meu.
Eu: Não falei nada - jogo meus cabelos pra trás, sentindo ele nas minhas costas - Iago sumiu, né?
Rebeca: Foi pro outro camarote pegar maconha - olho pra ela, franzindo as sobrancelhas - pensou que ele era santo? fumar maconha não é pecado, Gabi.
Eu: E você fuma? - pergunto escutando o som estralando no fundo, e ela me olha, pagando de sonsa - nunca vi você fumando.
Ela dá de ombros, tirando a bolsinha do ombro e segura com as duas mãos.
Rebeca: E você quer ver? - dou um tapa no seu braço, pela pergunta - ninguém precisa saber de tudo que eu faço, Gabriela, a parada é essa.
Fico calada, e apoio minhas mãos na grade, encarando a entrada e, vejo Iago subir, trazendo uma sacola com duas garrafas de bebidas dentro, só não sei o que é. Ele se aproxima de nós duas, estendendo a sacola pra gente.
Eu: Que isso? - pego a sacola da mão dele, tirando uma garrafa de Red Label de dentro, olho pra outra garrafa, vendo que é da mesma marca - comprou?
Eu: Um amigo falou pra eu trazer, lá ta cheio dessa, tá lotado de bebida cara - sinto Rebeca pegar a garrafa da minha mão, e ela deixa em cima da mesa redonda alta.
Coloco a sacola com a outra bebida, em cima da mesinha, e cruzo meus braços olhando pra ele.
Rebeca: Trouxe o negócio? - pergunta pra ele, jogando os cabelos pra trás pra tentar abrir a garrafa que tá em cima da mesa alta.
Iago: Tá aqui - fala pegando um cigarro fino do bolso, e entrega pra ela - tá com isqueiro aí?
Ela nega e ele entrega pra ela, que acende e devolve pra ele que guarda no bolso.
Iago: Esqueci de falar, pô, Souza tá aí - arregalo um pouco os olhos, sentindo minha boca secar com o comentário, olho pra Rebeca que tira o cigarro da boca, parando de fumar.
Eu: Falou com ele? - cruzo meus braços.
Iago: Nem me viu, tá conversando com o frente daqui - confirmo me arriscando a virar pra frente, sabendo que ele pode estar me vendo aqui.
Olho pra minha frente, de braços cruzados, e me aproximo da grade, esfrego meus lábios um no outro, tentando avistar ele daqui. Passo meu olhar pelo outro camarote, e consigo ver ele e sinto até meus pelos arrepiarem com isso.
Olho pra ele que, está de braços cruzados, ouvindo um cara falar no seu ouvido, observo a corrente de ouro que brilha no seu peito, e o rolex bem visível no pulso. Ele não está com as dedeiras de sempre, tá apenas com uma que se destaca bem, mas tá gostoso do mesmo jeito, o braço forte enquanto ele deixa ele cruzado, e a carinha que ele faz enquanto escuta o cara falar do seu lado.
Ele não me olha de lá, acho que nem me viu aqui ainda, e é melhor assim, que eu posso curtir a vontade.
Rebeca: Será que ele te viu? - pergunta do meu lado.
Eu: Acho que não, se não ele ia vir surtar aqui como sempre - olho pra ela, descruzando meus braços e apoio as mãos na grade.
Rebeca: Sei não, viu. Ele pode até ter os momentos dele de querer surtar contigo, mas homem é homem, e esse homem - aponta pra direção dele - não é otário.
Eu: Como assim? - franzo as sobrancelhas.
Rebeca: Não se ilude com isso não, o Souza pode fingir que nem te conhece aqui hoje, eu acho que você tá se sentindo demais pelas situações passadas que tiveram, e pode achar que ele vai ficar mostrando que te quer só pra ele toda hora, mas o Souza é cínico pra caralho, não duvide da inteligência dele não, homem é sujo.
Olho na direção daquele camarote de novo, vendo ele segurando um copo com bebida na mão esquerda, e cumprimentar um homem com um aperto de mão firme.
Será que ele realmente tá fingindo que eu não tô aqui?
Eu: Então ele tá se vingando? - pergunto querendo rir em deboche.
Rebeca: Sei não, mas eu tenho certeza que ele te viu aqui. Olha lá, tem uma pretinha com ele já - olho de novo, vendo uma menina, provavelmente um ano a mais que eu, falando algo no ouvido dele, enquanto ele passa a língua nos lábios desviando da conversa com um homem e olhando pra ela.
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