21

8.7K 518 80
                                    

Souza

Olho as anotações que eu fiz há alguns dias e percebo uma diferença na quantidade de dinheiro que era pra ter entrado entre segunda e sexta. Dou uma analisada pela terceira vez e tenho a certeza que está realmente faltando dinheiro. Me encosto na cadeira e tiro meu boné passando mão por meus cabelos e coloco de volta, suspiro cansado por estar desde seis da manhã fazendo a contagem de todas as bocas e a checagem do lucro que entrou lá na Penha.

Olho pro meu lado esquerdo, que tem um vidro grande que eu posso ver perfeitamente o movimento ali embaixo e observo os menor conversando e fazendo a contenção do QG. Passo a mão no rosto pra tentar aliviar a porra da dor de cabeça que tá me atormentando desde ontem e pego meu celular entrando nas conversas, respondo algumas e deixo o resto pra quando eu lembrar.

Entro no Insta, onde eu tenho uma conta privada, mas quase não mexo e vejo as postagens que fizeram. A maioria que me segue, são daqui ou já sabem o que eu comando, abro a postagem e vejo a loira rebolando pra caralho, e jogando a bunda grande pra cima, vou passando e o resto é foto dela em iate curtindo. Até tento não ficar instigado com essa parada, mas é difícil pra caralho, mulher é um bicho de saia mermo.

Entro no perfil e vejo vários seguidores, mostrando que é cobiçada. Vejo que a localização é na Penha, minha favela, resolvo dar um salve no direct dela, e não demora muito pra ela responder, deixo pra trocar um papo mais tarde e saio do aplicativo pegando o radinho em cima da mesa.

Aciono olhando pelo vidro transparente que fica do meu lado e olho pra eles lá embaixo.

Kaleu: Qual foi, chefinho?- observo ele aqui de cima.

Eu: Manda o Gringo subir aqui- falo segurando o radinho perto da boca e olho pra um ponto fixo no chão.

Kaleu: Suave- desligo o radinho e coloco em cima da mesa, ele aciona- ele ouviu, tá subindo aí.

Não respondo e rodo minha dedeira no dedo, vendo ele atravessar a porta e encaro ele serinho que se aproxima da minha mesa.

Gringo: Qual foi, chefe?- passo o dedo nos lábios e olho pra ele.

Eu: Tu quem recebeu o dinheiro do Robinho antes dele viajar com a mulher- afirmo apontando pra ele, vendo minha dedeira de ouro brilhar pelo sol e ele confirma- agora seja transparente comigo e diz se tu contou o dinheiro que ele te entregou.

Foco nos seus olhos, vendo a íris escura e ele me encara do mesmo jeito, se ele quer provar lealdade, olho no olho comigo é uma parada que eu só faço com quem confio.

Gringo: Contei não, patrão, confiei na palavra dele, pô, tá anos na irmandade com nós que eu nem pensei nisso na hora, papo reto mesmo- confirmo serinho pra ele.

Se ele tá mentindo ou não, uma hora eu descubro. Geral aqui é ligado que mentira é um bagulho que eu não suporto de jeito nenhum.

Eu: Volta pra contenção- murmuro com minha voz grossa e ele confirma ajeitando o fuzil na bandoleira e sai.

Coloquei ele na minha contenção porque sei que posso confiar no menor, não coloco qualquer um pra andar comigo, não gosto de multidão em cima, só o necessário.

Pego minha carteira, a chave do carro e meu boné em cima da mesa e saio dali descendo a escadinha, coloco meu celular no bolso da bermuda e seguro a carteira e a chave na mão, enterro meu boné na cabeça e avisto Leni entrando pelo portão grande do QG, ele cumprimenta os menor que tão ali e vem na minha direção.

Eu: Tô metendo o pé agora- falo com ele e não dou nem bola, vou até meu carro e ele vem atrás.

Leni: Tava querendo trocar uma ideia contigo- abro a porta do carro e paro olhando pra ele.

Eu: Coisa séria?- me sento no meu banco e bato a porta, olho pra ele que fica do lado da minha janela.

Leni: Não muito, só pra manter as paradas em dia mermo- encaro o homem com os cabelos meio brancos e coloco a chave na ignição.

Eu: Mais tarde tem uma parada que fizeram pro G lá na Penha, aparece lá que eu vejo isso aí- ele confirma e dá dois tapas na parte de cima do carro, fazendo um barulho.

Olho pra ele serinho pela ação e fecho meu vidro escuro e dou ré saindo dali.

-

Estendo meu copo pra frente, pro G colocar o uísque no meu copo e bebo sentado olhando o movimento da laje, a rodinha que formaram aqui e dou um gole na minha bebida, me encosto na cadeira e coloco o braço encostado também, mostrando meu rolex de ouro e o copo que eu seguro na mão. Ajeito meu boné e olho pra minha blusa azul, analisando e limpando mesmo não estando suja.

Paco: Leni vai vir mais não, pô, já é duas da manhã e ele não apareceu- olho pra ele e dou algumas batidinhas na borda do copo com o indicador.

G: Mas o Gustavo passou a visão do bagulho hoje, não apareceu porque não quis- confirmo serinho.

A madrugada começa com o som alto que colocaram e olho pra escada que dá pra cá, vendo a loira de hoje cedo subir, fazendo o cabelo com mechas onduladas balançarem, ela joga alguns fios pra trás e eu foco no vestidinho preto colado, fazendo as pernas definidas ficarem certinhas no pano.

Ela vem na direção da nossa roda e geral que tá aqui, para pra olhar. Não esboço reação nenhuma, o foco dela aqui não é nenhum deles.

Paco: Quem chamou a loira gostosa?- pergunta com a cabeça virada olhando pra ela e eu pego meu celular ao escutar uma notificação, deixo o copo no chão e desencosto da cadeira olhando a tela.

Leni: rolando a parada ainda?
Leni: Luciana veio atrás de mim ficar enchendo minha mente, falou o que queria e voltou pra búzios

Tiro o foco da conversa quando sinto alguém chegar sentando no meu colo e olho pra loira que se ajeita na minha perna, olho pro seu rosto com a maquiagem bem marcada e ela deixa um selinho no canto dos meus lábios e abaixo o celular na altura dos meus joelhos.

Lisandra: Tava me esperando?- ela joga os cabelos pra trás e envolve meu pescoço com as mãos, foco nos olhos castanhos e seguro sua cintura com a mão esquerda.

Eu: Tava, pô- minha voz sai grossa e ela sorri mordiscando o lábio, olho em volta pros menor que disfarçam a risada por conta do meu comentário.

Levanto meu celular e vejo a mensagem do Leni ainda na tela, começo a digitar pra ele com a mão direita.

Eu: Tá rolando ainda
Eu: Deixa essa parada pra lá, depois tu se resolve com ela. Vem curtir

Ele visualiza quase de imediato e deixa uma resposta, mas desligo a tela e guardo meu celular no bolso, olho pra Lisandra no meu colo e me inclino um pouco pra pegar meu copo no chão, sentindo minhas correntes caírem pro lado. Dou um gole ouvindo o som no talo com os funk pesado da facção e vejo a Rebeca de relance, descer a escadinha arrumada e sumindo lá pela rua.

Minha LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora