Gabriela
Assim que ele para com a moto em frente o portão de casa, minha vontade é de entrar sem nem mesmo agradecer por ele ter me trazido ou até mesmo nem olhar pra ele. Mas eu sei que ele não tem culpa, mesmo que soubesse que o chefe dele é um traidor do caralho, um mentiroso. Cara, eu nunca tive uma raiva tão grande por alguém igual tô tendo dele, ele mentiu pra mim, olhou dentro da minha cara e nem pra falar a verdade de que ainda tava envolvido com essas porra de mulher daqui. Eu não vou me submeter a isso, não vou passar pelo mesmo que minha mãe passou com meu pai, eu não vou ser passiva até esse ponto.
Eu tenho raiva, mas tanta raiva disso. Que.. ai, que ódio. Desço da moto com cuidado, sentindo o nervosismo me corroer de dentro pra fora e subo na calçada. Sinto meus olhos arderem tanto pela vontade imensa de chorar que uma lágrima cai sem eu nem mesmo perceber, só quando ela desliza pelo meu rosto fazendo uma leve carícia, que eu passo a costa da minha mão pra limpar.
Eu: Obrigada - falo, tentando disfarçar minha voz e olho pra ele de relance dando um sorrisinho rápido pra não ser antipática e ele entende que não tô com o mesmo humor que eu fui.
- Namoral? fica triste com isso não, papo reto, faz nem bem esse bagulho - ele diz, tentando me deixar bem ou que eu veja de outra perspectiva a situação. Mas eu não triste, eu tô com raiva.
Eu aceno com a cabeça pra ele sem dar muita moral exatamente, mas de um jeito que eu mostre agradecimento pelo que ele disse. Ele da um sorrisinho amigável pra mim e eu retribuo dando um riso de nervoso por tudo que tá se passando na minha mente. Ele liga a moto dando partida e eu abro o portão por fora, sem precisar chamar minha mãe, e puxo a cordinha que fica bem no cantinho dele. Passo minha mão no bolso do meu short pra ter certeza que meu celular tá aqui, e quando entro enfim no quintal, deixo algumas lágrimas deslizarem. Mas não lágrimas de tristeza, e sim de ódio, porque eu disse uma vez pra ele que se eu pegasse raiva dele, ele estaria fudido comigo.
Mordo meu lábio inferior com raiva, sentindo o leve gostinho de sangue na minha boca e ajusto a mochila no meu ombro já sentindo ela me pesando mesmo sem ter andado muito com ela. Entro na varanda, tirando meu chinelo e limpo meu rosto molhado de choro, o que não adianta muito. A verdade é que eu não vou ligar se minha mãe tomar raiva dele tanto quanto eu tô, se ela me perguntar eu vou falar o que exatamente ele fez e não vou esconder nada. Eu posso ser calma pra algumas coisas, mas só de pensar na possibilidade de me tornar uma Luana 2.0 me assusta demais.
Analiso a sala pra ver se minha mãe tá por aqui e quando confirmo que não, entro e abro e vou na direção do rack pra colocar a mochila gaveta debaixo. Abro e empurro alguns livros dali de dentro e enfio a mochila cheia das notas. Fecho a porta da gaveta, pra manter o que tem ali escondido apenas temporariamente, até eu ter segurança e levar pro meu quarto.
Luana: Gabriela? - ela aparece no batente da cozinha, pra ver se sou eu, segurando um prato na mão com a janta dela e assim que me olha retorce o nariz não entendendo minha cara de choro - o que foi isso? tava chorando?
Enrolo um pouquinho pra falar e ela põe o prato em cima da mesa vindo cá pra sala e me inspeciona de cima a baixo.
Luana: Fala, Gabriela! que merda, eu não tô brincando não - eu tiro meu celular do bolso e me jogo no sofá ficando à vontade nele com a cabeça parcialmente pra trás e ainda podendo ver ela que aguarda que eu fale. Deixo o IPhone do meu lado e passo a mão no meu rosto tampando ele pra ela não ver e solto uma respiração profunda, mas acabo soluçando no processo já não conseguindo segurar o choro e sinto algumas lágrimas deslizando pelos meus olhos e se perdendo no meu cabelo por eu estar com a cabeça deitada. Eu até tento não chorar alto, mas o barulho do meu soluço me impede e acabo me sentindo sufocada por isso. Eu odeio chorar - engole o choro e me conta, bora!
