Início da mudança

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Depois de muitas visitas e muitas conversas chatas sobre imobiliária, aluguel e afins, Bradley chegou à decisão de que apartamento alugar. Acabou indo o inspecionar sozinho, olhando cada detalhe. O lugar era pequeno, o espaço ideal para alguém solteiro, ainda assim, possuía um quarto de hóspedes, caso alguém quisesse fazer uma visita.

Ele não tinha tantas coisas assim. Mudando de posto em posto, era mais prudente carregar apenas o necessário. A última vez que tinha tido uma casa de verdade foi antes da mãe morrer. Talvez ali conseguisse alcançar algo parecido, uma casa só para si mesmo. Mas o lar que ele tinha tido anos atrás quando era mais jovem, tinha ficado para trás.

Ainda assim, algumas coisas ainda estavam no seu último endereço e teria que buscar tudo assim que pudesse. Antes de fechar a porta, Rooster reconheceu em si o sentimento de orgulho, estava na sua própria casa e a vontade de mostrar isso a alguém era grande. Ficou triste com esse fato por um breve momento, como se a solidão pairasse no ar outra vez.

Ele literalmente balançou a cabeça espantando o pensamento, tirou algumas fotos do lugar e enviou para Natasha.

"O que acha, Phoenix?"

"É seu novo apê? Gostei" ela enviou de volta, contente por ele.

"Eu sei que falta algumas coisas ainda, mas valeu" ele respondeu.

"Se precisar de ajuda com augestões, é só pedir"  ela ofereceu.

"Pode deixar"  ele concordou.

"Te vejo mais rarde no Hard Deck?" Natasha convidou.

"Claro, por que não? Até mais!" Ele aceitou o convite.

Rooster passou mais um tempo ali, então seguiu com sua trajetória normalmente. Agora, restava voltar ao hotel e fazer o check-out. Deu um sorriso vago a Rafaela ao passar pela entrada, ela acabou sorrindo de volta, se lembrando de toda situação anterior. Era como se ela estivesse esquecido a vergonha e agora eles eram quase que amigos. Apenas quase.

Já no quarto, Bradley arrumou suas coisas, checando duas vezes para ver se não tinha esquecido nada. Apenas com uma mala, exatamente como tinha chegado ali, ele desceu o elevador, chegando ao hall outra vez. Novamente, só havia ele e Rafaela ali, pelo horário que tinha chegado, quase no fim do dia.

Ele foi até ela um pouco mais sério, sem o sorriso de antes.

-Oi, Rafaela - ele usou o nome dela de novo, mostrando que se lembrava.

-Oi, Bradley - ela preferiu usar o nome dele também - em que posso te ajudar?

-Eu estou indo embora, queria fazer meu check-out - ele anunciou, o que a fez franzir o cenho, para a própria surpresa dela.

-Ah sim, só um momento - Rafaela acatou a solicitação, trabalhando com a mesma dedicação e afinco de sempre.

Em questão de instantes, ela pediu para que Bradley assinasse o tablet de novo, encerrando sua estadia no hotel de vez.

-Espero que tenha gostado da sua estadia no Golden Rays - ela disse a frase de efeito já treinada, mas com um leve receio, era como se ela não quisesse que ele fosse embora tão cedo.

-Eu gostei, eu agradeço por ter sido tão gentil - ele disse em resposta, mas também, de repente, não sabendo terminar aquela conversa.

Ele tinha pensado de repente em todas as vezes que a tinha visto sozinha ali e como tinha ficado na defensiva quando ele fez apenas uma pergunta mais pessoal. Conhecia esse jeito esquivo, ele tinha sido assim boa parte da sua vida, na verdade, estava aprendendo a trabalhar isso agora, há pouco tempo.

Decidindo oferecer ajuda, tomou um passo um tanto ousado. Pelo pouco que conhecia a recepcionista, deduzia que ela reagiria mal pelo que ele estava prestes a fazer, mas mesmo assim, seguiu em frente com sua ideia.

-Você teria um papel e caneta pra me emprestar? É bem rápido - ele pediu, o que causou uma certa estranheza em Rafaela, mas ela fez conforme foi pedido.

Ela o observou anotar o que era claramente um número de telefone.

-Eu queria que ficasse com isso, é meu número de telefone - Bradley devolveu o papel.

-O que? - ela deixou escapar as duas pequenas palavras num eco esganiçado.

-Eu sei que parece estranho, eu não quero que pense mal de mim, de verdade - ele baixou a cabeça e suspirou - é só que... pensei que talvez eu... possa precisar de você...

-Precisar de mim como? - ela tentou entender o que se passava na cabeça dele.

-É que eu... sou relativamente novo na cidade, claro, eu passei um tempo aqui alguns anos atrás, mas... seria bom ter o contato de alguém que já mora aqui - ele se enrolou numa justificativa plausível.

-Se fosse assim, faria mais sentido você ter meu telefone - Rafaela apontou, compreendendo todo aquele falatório - espera aí, eu não acho bom eu fazer isso, Bradley, nós mal nos conhecemos.

-Eu sei, é só que... - ele suspirou, agora focando mais na sua sinceridade - se você precisar de alguém, pra te ajudar com qualquer coisa, pode me ligar, tá legal?

-Eu... eu não posso aceitar, eu não te conheço direito... - ela insistiu, quase distraída com a surpresa da oferta dele.

-Eu sei que não, eu só queria te ajudar, se precisar - ele insistiu mais uma vez, começando a pensar se não estava beirando o paranóico.

Sem raciocinar direito, Rafaela tomou o papel com dedos trêmulos de forma automática.

-Eu... vou aceitar... - ela engoliu em seco, balbuciando as palavras - me desculpe por ser tão arredia, você me parece uma boa pessoa, tanto que se deu ao trabalho de oferecer sua ajuda... confesso que pode vir a calhar...

-Tudo bem, só se cuida - dava para ver os ombros largos dele relaxando, Bradley estava muito mais calmo agora.

-Você também - ela deu um sorriso tímido, mas genuíno - eu te desejo boa sorte, no quer que seja que você for fazer a partir de agora.

-Pra você também, a gente se vê por aí, Rafaela - ele conseguiu se despedir, aliviado.

-Tchau, Rooster - ela deu um último aceno, o observando sair do Golden Rays de vez.

A partir de agora, estava nas mãos dela decidir se ele continuaria fazendo parte da vida dela.

Sutil InsistênciaWhere stories live. Discover now