A PARTE QUE FALTAVA • EXTRA

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A PARTE QUE FALTAVA
this is me trying

Ela se lembrava exatamente do momento em que seus olhos se abriram depois de dizer adeus.

Jogada de joelhos na porta da frente da casa Madison, depois de gastar todo o resto de energia que lhe restava no corpo para chegar até lá, ela estava totalmente enfraquecida. Estava começando a chover e ela sabia, pois sentia as gotículas caíram em seu corpo como gelo. Ouviu o som estrondoso do raio que manchou o céu acima dela e sufocou o choro que saiu de sua garganta, uma lamúria enriquecida. Mesmo assim, parecia tão distante de si mesma, como se aquele corpo não fosse dela, não lhe pertencesse durante o luto.

Ela ouviu quando a porta foi destrancada muito rapidamente e se abriu, trazendo um pouco do calor de dentro da casa até seu rosto e banhando suas lágrimas com a luz amarelada das velas. Não tinha forças para encarar quem estava ali na sua frente, mas sabia que era seu pai e percebeu que ele tentava falar muitas coisas que ela não conseguia ouvir. O barulho estava abafado e ela nem se preocupou em prestar atenção, só precisava que toda aquela dor parasse por apenas alguns segundos.

Mas era tão difícil.

Era tão difícil aceitar que Morgana estava morta, que a segurou em seus braços enquanto gritava seu nome.

Era tão difícil pensar que Sirius provavelmente estaria sendo levado para Azkaban.

Era tão difícil entender que ela não poderia fazer nada para mudar o que aconteceu.

Chiquitita...

Ela sabia que Hydra estava bem, que provavelmente estava dormindo e que seus pais cuidaram bem dela. E aquilo era o suficiente para não deixar que ela quisesse acabar com tudo.

Sentiu mais braços segurarem seu corpo e fechou os olhos, deixando que uma vez na vida cuidassem dela, mas não conseguiu dormir. Viu quando sua mãe a colocou na banheira, como fazia quando era criança, lavando suas costas com água quente e um sabonete que tinha cheiro de casa. Sentiu lavarem seus cabelos compridos com carinho, segurarem sua mão quando ela começou a chorar de novo e quando foi colocada na cama. E no momento em que sua mãe se deitou ao seu lado, abraçando-a sem falar nada, apenas para mostrar que estava ali por ela. Assim ficaram, até o sol clarear, sem dormir.

Até começar a se lembrar de quem era.

Na manhã seguinte, ela se levantou da cama, ainda com as pernas fracas e a cabeça pesada. Vagou feito um fantasma até aquele quarto. O quarto da árvore. Onde estava o berço de Hydra.

— Ela dormiu tranquila a noite inteira. — disse seu pai.

Pandora assentiu ainda meio grogue, chegando mais perto de onde sua filha estava deitada, primeiro tocando a madeira escura do móvel que havia sido seu também. A garotinha não estava dormindo, mas brincava calmamente com o próprio pé, aquecendo um pouco do coração completamente gelado dela. Havia, ao menos, alguma coisa que ela não perdeu, a coisa mais importante. Então pegou Hydra no colo, segurando-a com delicadeza, sentindo-se presente em seu corpo pela primeira vez depois de tudo o que aconteceu.

Ela ninou Hydra por horas. Desceu e subiu as escadas, passeou no jardim com os pés descalços, se balançou na cadeira de balanço da varanda, a fez dormir e a viu acordar novamente sem falar nem sequer uma palavra. E repetiu tudo muitas vezes.

— O enterro vai ser amanhã, Dora. Você quer mesmo ir? — sua mãe perguntou.

Pandora não precisou falar nada para que sua mãe entendesse. É claro que ela queria ir, precisa dizer adeus, mesmo que não aceitasse que justo Morgana estivesse morta. Poderia ser ela, Voldemort poderia ter escolhido Hydra para matar, se a Profecia talvez mudasse uma só palavra era ela quem estaria morta agora. Mas não. Pandora estava viva, seu coração estava batendo e ela se odiava por isso, por não ter ido no lugar de sua melhor amiga, dessa maneira ela não precisaria enfrentar o luto. E para piorar sua culpa, ela estava livre, sem correntes a prendendo à Azkaban, sem Dementadores flutuando ao seu redor... Sirius estava lá e não havia cometido crime sequer.

UNTAMED • sirius blackWhere stories live. Discover now