CAPÍTULO 2

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DUAS SEMANAS DEPOIS

ANA MACHADO

- Ok, já passaram duas semanas e se tem alguém que nos mataria por isso, é a nossa mãe. – Eu digo enquanto empurro o corpo da minha irmã preguiçosa da cama. – Vamos, temos que cuidar das coisas.

Nessa hora era bom que fossemos duas para dividir as responsabilidades enquanto passávamos por isso. Sara tinha cuidado das coisas do hospital enquanto eu arrumava algumas coisas da nossa casa.

Nossa casa tinha dois andares, cinco quartos, três banheiros, uma cozinha gigante com bancada americana no primeiro andar aberta para a sala de estar com a TV, um escritório que ocupava um dos quartos no primeiro andar com um banheiro e o resto tudo no segundo. Tínhamos uma empregada doméstica que vinha de tempos em tempos para nos ajudar com nossa constante bagunça como adultos, mas desde crianças tínhamos deveres para com a casa, e a limpeza era claramente um deles.

Sara bom levanta a cabeça e me olha com os olhos cheios de lágrimas que eu ainda seguro as vezes.

- Não sei se consigo botar as coisas dela para doação, mana, não consigo imaginar fazer isso.

- Você acha que eu quero? Mas a gente conhece ela, sabemos o que ela diria agora, não é mesmo?

- O começo para a cura, é deixar acontecer...

- E se ela não acontecer naturalmente?

- Força-la. – Falo e nós duas rimos.

- Mamãe, era a melhor na prática do amor bruto. – Ela disse enquanto limpava as algumas lágrimas que escapuliram. – Vamos, vamos que talvez isso nos faça bem. Fora que ela sempre teve um ótimo gosto e quero algumas das coisas dela antes que você pegue tudo para si.

Arregalo os olhos para ela antes de rir.

- Eu poderia falar que não faria isso... mas sabemos a verdade disso.

Nossa mãe sempre teve o melhor gosto e nos ensinou o mesmo. Mas eu era muito simples, sempre preferindo o estilo confortável ao clássico que minha irmã Sara seguia religiosamente. A verdade era que eu queria as coisas da minha mãe apenas pra lembrar dela.

É impressionante isso, mas parece que as coisas da nossa mãe tinham o cheiro dela impregnado. Aquele cheiro que nos trazia conforto quando menos pensávamos e as vezes quando mais precisávamos. 

- Nossa, as vezes esquecia que ela tinha tanta coisa. 

Sara falou isso quando abrimos o quarto dela. Foi abrir o quarto que o cheiro dela veio até a gente. O que me deu um baque e ao mesmo tempo me deu a energia dela para fazer isso.

Para alguns pode parecer muito cedo fazer isso, mas fomos criadas por uma mulher que não acreditava em remoer e esperar. Ela nos fazia lembrar o tempo todo sobre o como devemos ser gratas por tudo e que como cada dia é importante e como devemos dar sempre o primeiro passo quando estivermos com medo.

"Porque depois do primeiro passo, vem o segundo."

Sara foi para o armário dela e eu fui para as gavetas ao lado da cama.

Já tínhamos entrado aqui antes para pegar a pasta com os documentos dela, mas dessa vez era diferente. Não precisávamos mais de nada porque o que mais importava – ela -, não estava mais aqui.

Comecei a abrir gaveta por gaveta das duas mesas de cabeceira dela, uma em cada lado da cama de casal. Separando recibos de coisas antigas, canetas, rabiscos, o pacote de balas de menta preferida dela, seu óculos de sol e sua caixinha de joias.

- Peguei a caixinha de joias e depois podemos separar com calma.Ver o que cada uma gostaria de guardar para si. – Murmuro baixinho para minha irmã que já separava algumas roupas em sacolas e outras no canto, que iria ficar.

- Mana, eu achei essa caixa atrás dos álbuns de fotografia. Você sabe o que é? – Sara me chama atenção me mostrando uma caixa de sapato.

- Trás aqui, vamos ver.

Sentamos na cama e antes mesmo que eu tocasse na caixa, senti um pressentimento, algo que não sentia tinha muito tempo. Não sabia o que podia ser, mas tinha esse sentimento que me falava que fosse o que estivesse naquela caixa, iria mudar um pouco minha realidade.

Mesmo sentindo isso, me peguei abrindo a caixa e encontrando diversos papéis, anotações, fotografias e um diário.

Peguei o diário primeiro e deixei que minha irmã visse o resto.

"Dia 11 de agosto de 2009.

Fazia um ano que eu havia adotado as melhores crianças do mundo. Crianças que me completavam como a família que uma vez tive.
Sei que são felizes comigo, mas as vezes vejo um olhar, um olhar que demonstra saudade de coisas que elas não tiveram ou viveram com seus familiares de sangue.

Então, resolvi começar uma busca. Para que no dia que quiserem respostas, eu saberei dar e filtrar da melhor maneira possível.

Apesar de que de uma delas eu já tenha a resposta."

Terminei de ler chocada com aquilo.

Nunca quisemos que ela pensasse que não a amassemos menos por não ser de sangue. E tenho certeza que ela sabia disso, tanto que se dispôs a procurar mesmo sabendo o que podíamos encontrar por ai.

- Mana... – Ouço Sara murmurar baixinho.

- O que é isso? Que história é essa? – Pergunto pra mim mesma enquanto folheio um pouco mais.

"20 de março de 2014

Depois de um teste de DNA tive a confirmação: Sara era realmente filha da Diana.
Nunca pensei que minha irmã fosse esconder uma gravidez de mim, mas imagino seu pavor ao se descobrir grávida aos dezoito anos. Meu pai deve ter ficado uma fera.
Lembro que tinha só dez anos quando vi minha irmã um dia aparecer nervosa e chorando horrores. Tempos depois ela vivia escondida e depois de um tempo a notícia terrível da morte dela.
Nunca soube direito o motivo, e meus pais me falaram apenas que ela havia ficado doente...
Como já tinha desconfiado e meus pais faleceram, deixei que o investigador visse todos os documentos disponíveis da minha família no depósito.
E agora... tudo revelado.

Em relação a Ana ainda nada. E isso me preocupa."

Era como se eu tivesse levado um soco bem no estômago.

Todas essas revelações

Era como se um buraco tivesse se aberto e sugado a mim e a minha irmã.

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ENFIM, LIBERTAWhere stories live. Discover now