CAPÍTULO 37

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DANTE

Eu sabia que isso só podia ser uma tentativa besta da minha mãe de me separar da Ana, mas não podia confrontar ela agora.

Precisava esperar o meu momento e racionar com calma sobre tudo isso. Mas infelizmente, não tive tempo quando vi Ana ali me olhando desolada. Ela sabia que minha armaria algo assim, mas eu entendia. Mesmo que eu soubesse de alguma armação, também ficaria enciumado de ver algum marmanjo abraçando a minha mulher. Ainda mais se eles já tiveram algo.

Mas ver a Cora ali só reafirma o que eu descobri quando pus meus olhos na Ana. Era ela. Era só ela.

Não importava se era predestinado ou não. Estávamos entrelaçados de forma tão permanente, e eu não ia querer nunca desfazer isso.  Éramos eu e ela. Independente de destino predestinado ou não.

Ela tinha uma sintonia única com a minha filha. Era forte, determinada, engraçada, meio mau humorada, respondona e incrível. Ana me tirava uma letargia que carregava desde sempre. Acho que a única vez que me senti pleno, foi quando achei minha filha.

E agora, conseguindo finalmente uma pausa da minha mãe e da Cora, subo pra achar a minha verdadeira família deitada no sofá. Uma colada a outra.

Maya não demorou muito pra descobrir que Ana era diferente. E me enchia de orgulho e felicidade e ver as duas assim. Minhas.

Também surgia uma forte onda de proteção.

Ninguém mexeria com a minha família.

Não importa a cagada que o Dante fez no passado. Eu não era ele. Não perderia minha família facilmente e não cederia pra chantagens baixas.

Eu só precisava daquelas duas. Só isso.

Ana parece me notar, porque vira a cabeça em minha direção e murmura baixinho que a Maya dormiu. Ela se desenrola da minha filha e a cobre com um cobertor que estava sobre as duas, antes de levantar e catar as embalagens vazias de besteira e os sucos de caixinha. Joga tudo fora até vir até mim, e me puxar pra fora, em direção ao meu quarto.

Ela tinha na mão a babá eletrônica que eu nem percebi e me encarava furiosa antes de fechar a porta e cruzar os braços.

— E então? Deu bastante atenção pra sua convidada íntima? – Ela fala baixinho me olhando cética.

Eu era meio maluco de achar ela linda assim brava? Possivelmente.

— Você sabe que isso foi uma ideia da minha mãe, não é? Não sei ao certo até que ponto ela vai levar essas ideias de tentar nos separar, mas espero que saiba que isso não vai rolar.

Ana suspira e encosta na porta.

— A parte racional de mim mesma sabe disso tudo. Mas não é fácil ver mesmo assim. Esse tipo de intriga me cansa e falando sério, já tenho problema demais na minha vida pra ficar me estressando sobre as armações da sua mãe.

De repente algo me vem à mente.

— E se for pra esconder alguma coisa? Pra despistar?

Era horrível pensar isso da minha própria mãe, mas depois de todos esses dias e as reviravoltas...

Nada era impossível.  Claro, não queria pensar na possibilidade dos meus pais esconderem algo tão grave quanto tudo que houve no passado da nossa família. Mas eles sabiam. Senti no meu íntimo isso.

— Você acha que eles sabem? Que sua mãe sabe?

— Acho que só há uma maneira de descobrirmos isso.

— Como? – Ela me olha curiosa e dessa vez, eu que suspiro pesaroso.

— Confrontá-la. Agora.

Ana arregala os olhos pra mim e balança a cabeça.

— Não, por favor. E-eu... – Ela para como se precisasse de tempo pra responder e eu me preocupo. — Eu preciso de um tempo pra mim mesma e pra entender tudo isso. Desde do primeiro minuto, mergulhei nessa história toda e não parei para analisar os meus sentimentos em relação a tudo isso. Necessito de tempo, você pode me dar isso, Dante?

De repente fico preocupado é comigo mesmo.

Tempo?

— Tempo de mim? De nós? – Me aproximo pra segurar a sua mão e ela deixa.

— Não, de nós não. Pelo contrário, acho que precisamos de tempo até pra nos conhecermos melhor. Eu tenho uma certeza absoluta em você e vejo que tem essa mesma certeza sobre mim, mas não nos conhecemos no exterior, Dante. Precisamos de tempo. Preciso entender meus sentimentos até aqui, antes de tomar qualquer decisão, porque quando a decisão for tomada, ela não vai afetar só as nossas vidas. Tem todo um quadro maior envolvido.

Concordo balançando a cabeça.

Tudo foi tão corrido, e precisávamos de um tempo. Eu já vinha pensando em algumas coisas em relação ao trabalho e também sabia que precisava de tempo de qualidade com a Maya.

— Que tal uma viagem?

Ana arregala os olhos.

— E deixar tudo assim? Será que é justo?

— Temos que pensar no que é justo pra gente também, Ana. – Levanto minha mão para fazer um carinho de leve no seu rosto, gravando os traços daquela mulher incrível dentro de mim.

Ela me olha incerta antes de perguntar.

— E iríamos para onde?

— Rio de Janeiro, capital. Tenho uma casa lá na zona sul. Me mostra sua casa, tiramos uns dias pra gente e Maya consegue passear um pouco.

Os olhos dela brilham e sei que tomei a decisão certa. Precisávamos disso.

Uns dias.

Tiraríamos uns dias e depois voltaríamos. Porque Dante e Adanna mereciam justiça, mas antes de tudo, eles mereciam viver esse amor atemporal sem interferências externas.

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ENFIM, LIBERTAWhere stories live. Discover now