CAPÍTULO 35 pt 1

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ANA

— Tia? – Tanto Dante quanto a minha irmã sussurram em minha direção e eu olho chocada para ambos.

Sabia que minha história com a Adanna se entrelaçava de muitas formas e maneiras, mas essa foi a peça do quebra-cabeça que faltava.

Não tinha nem como negar isso agora.

Se em algum momento eu duvidava, aí estava a minha prova definitiva, Adanna era minha antepassada.

E se eu ser abandonada tem algo a ver com isso... não faço ideia como isso vai mexer ainda mais comigo.

Porque eu sofri por uma história que nunca soube que estava envolvida. Uma trama cheia de mistérios, segredos, armações, violações e tristeza.

As pessoas nos encaram enquanto passamos. Era um quilombo povoado, mas não super povoado. Podia ver que todos tinham as mais lindas tonalidades da pele preta. Crianças corriam ali tão livremente que me peguei pensando na Maya, e como ela gostaria disso.

Por um momento eu penso em como seria se eu tivesse crescido ali. Se eu tivesse tido convívio com as pessoas dali... e percebo que os "e se" da vida não me fariam bem. Porque se eu tivesse tudo aquilo que eu pensava querer, eu não teria nada daquilo que hoje eu tinha e valorizava tanto. Minha família hoje é a que eu tenho e agradeço muito a Deus por isso.

Tantos caminhos poderiam dar errado e graças a Deus tudo deu certo no final.

Chegamos numa casa pequena, toda branca com um telhado marrom. Janelas azuis escuras espalhadas com flores no parapeito. Era uma graça.

Minha "tia" nos oferece bebidas e pede para que a gente se sente na sala enquanto ela buscava alguma coisa.

Nessa hora todo tipo de possibilidade surge na minha cabeça. Uma pessoa? Uma caixa de pandora misteriosa? Uma arma?

Muitas possibilidades e todas me faziam suas frio.

Dante estava do meu lado no sofá. Minha irmã em uma poltrona e o detetive Davi permanecia em pé, observando tudo.

Minha irmã estende a mão e aperta a minha.

— Estamos todos aqui por você, irmã. Agora finalmente estamos no final.

Aceno em concordância e aperto sua mão de volta. Era bom demais ter todas essas pessoas que eu confiava ali. Seria bom também ter minha mãe, que dedicou seus últimos momentos pra isso. Pra descobrir a verdade pra mim.

Obrigada, mamãe. Agradeço mentalmente, esperando que ela possa ouvir seja onde estiver.

A mulher volta primeiro com uma jarra d'água e vários copos e depois sai e volta novamente, ela senta em outra poltrona com uma caixa imensa. Então era mesmo uma caixa de pandora.

Ai caramba.

Ela suspira antes de nos encarar, ou melhor, me encarar.

— Esqueci de dizer meu nome, é Ayo. É um nome nigeriano e significa felicidade. Ayo também era o nome da irmã mais nova da Adanna. A primeira Adanna que escolheu esse nome da irmã, disse que a irmã representava a felicidade da vida dela e da mãe.

Aperto minha mão na da do Dante e me concentro nas próximas palavras dela.

— Não sei se você já sabe da história da Adanna, mas se está aqui, é porque de alguma coisa já tem uma certa noção e já posso garantir que é tudo verdade. O que talvez você não saiba é que ela não foi morta pelo pai do Dante. Eles bem que tentaram, mas ela morreu depois. Eles foram cruéis com ela, a machucaram de várias formas e ela fingiu de morta. Enquanto eles batiam nela, ela se fingiu de morta para que não realmente a matassem.

O ar foge dos meus pulmões a pensar naquela mulher grávida sento gravemente ferida. Posso sentir as lágrimas chegando e querendo descer pelo meu rosto.

— Ninguém sabe quanto tempo de fato ela ficou desacordada e por um milagre ela conseguiu levantar e achar a casa dela. Sempre acreditamos que o destino dela era grande demais pra tanta injustiça. — Ela para um pouco e toma um pouco de água antes de continuar. — Quando ela chegou, estava gravemente ferida e todos queriam fazer justiça em seu nome, mas ela não queria. Ela só queria garantir a segurança do seu bebê. Mas a verdade era que ela tinha um tempo emprestado, porque logo apoia a chegada dela, semanas se passaram até que ela desse a luz e depois morresse no parto.

— Ninguém pensava que o bebê estava de fato vivo, pois a surra que ela levou foi grande demais, mas eles sempre tiveram um propósito maior. E agora eu te conto o que só as pessoas da família sabem, que quando estava dando a luz, o dia era estranho. Era como se fosse um prenúncio de algo maior do que tudo, uma maldição. Adanna delirava de raiva e dor e contou do diário e contou da maldição, disse que todos pagariam, que a única coisa que o amor trouxe de bom foi o bebê dela, e o bebê dela faria justiça por ela. Tempo depois o bebê nasceu e ela morreu.

Agora não dava mais pra controlar minhas lágrimas.

Adanna...
Uma menina cheia de sonhos, cheia de vontades e desejos... morta por amar.

Morta por querer.

Morta por sonhar.

Por ousar.

Dante me abraça enquanto eu soluço e minha "tia" me encara com os olhos marejados.

— Sempre soubemos do diário, sempre soubemos da maldição e sabíamos que enquanto uma descendente da Adanna não quebrasse isso, ninguém seria impune. A família do Dante você pode ver que todos terminaram de formas péssimas, seja pela doença, loucura ou tristeza. O próprio Dante viveu com depressão até o fim. A nossa família... Sempre pensávamos que a próxima mulher na família seria a Adanna que quebraria a maldição, mas nenhuma nunca era e a verdadeira descendente de Adanna não poderia traçar o mesmo caminho que ela, por isso você foi deixada no abrigo, mas sempre olhada de longe.

Isso era....

Deus...

Podia sentir minha cabeça doer.

— Como vocês tinham tanta certeza que eu era? Vocês podiam ter abandonado qualquer bebê! E que certeza era essa que eu poderia quebrar essa maldição? Caramba, vocês são todas loucas...

— Porque você tem a marca. Essa marca de nascença que você tem no seio esquerdo, é a mesma marca que a Adanna nasceu. É uma marca que liga vocês... pelo coração.

Nunca dei bola pra esse sinal porque achava que era normal. Todo mundo tinha um sinal pelo corpo, mas saber disso...

Compreender os motivos pelos quais fui abandonada tão facilmente...

— E minha mãe? Por que ninguém foi me ver? Me procurar? E se tudo tivesse dado errado e eu nunca parasse aqui?

Ayo tem a pelo menos a coragem de parecer culpada.

— Observávamos você em todos os momentos lá, estávamos prontas para te guiar, até que você foi adotada e começamos a pensar outras abordagens. Mas você nunca foi deixada de lado, Adanna. Nunca.

— E minha mãe biológica? Cadê ela?

Ayo muda o olhar e eu entendo na hora. Eu nunca tive uma chance, não é mesmo? Penso amargamente.

— Ela morreu, minha querida. Ela morreu no parto, mas sabia que você estava destinada a libertar sua antepassada e todas nós.

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ENFIM, LIBERTAWhere stories live. Discover now