CAPÍTULO 27

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ANA

Meu coração estava na boca, mesmo enquanto eu saia de lá. Olhei para o céu e vi que o tempo parecia uma porcaria, mas não queria arriscar ter que voltar pra lá e fazer alguma sandice.

Eu era uma maluca mesmo. Só fechei os olhos e cai que nem jaca podre no chão.

Dante podia até achar que não, mas eu havia sentido o momento exato em que ele me pegou em seus braços. Seu cheiro, sua respiração, o contato pele a pele... Tudo isso me assustou tanto que mal tive reação, a não ser ficar parada.

Se eu tinha alguma dúvida que esse Dante era a reencarnação do antigo, a dúvida foi sanada depois desse momento íntimo.

O toque da nossa pele... era surreal explicar as sensações que percorreram meu corpo.

E por isso eu sabia que precisava sair dali e digerir tudo que tinha acontecido. Desde ouvir sobre a ex dele até a suspeita de que dona Marina podia saber de algo.

Por que ela chamaria a ex dele aqui? Uma ex que pelo que vi nas manchetes, eles não se falavam a anos? Alguma coisa tinha acontecido para que dona Marina agisse assim, e a única diferença que teve foi a minha chegada.

E o Dante...

Deus, que bom que ele havia mandado a filha pra longe quando eu caí ou teria feito um papel feio na frente da Maya também.

Precisava pensar...

Mas tudo que eu lembrava era o toque sensível dele. O modo que a respiração dele mudou, como o cheiro dele era amadeirado e delicioso. Como eu queria tocar nele de volta...

FOCO, ANA!

Vou embora dali o mais rápido possível, sabendo que a caminhada é longa, mas vai fazer bem para pensar e colocar as ideias no lugar.

Estava distraída tentando entender tudo isso que quase perdi o carro andando devagar perto de mim.

Ótimo. Agora porque fui uma tonta, provavelmente vou ser sequestrada agora.

Respirei fundo e estava prestes a correr pela minha vida quando o vidro abaixa e uma voz familiar me chama.

— Por que não disse que precisava de carona? Algum segurança podia ter te ajudado. – Dante fala de dentro do carro, no banco do motorista. — Entra. Eu te levo.

Caramba! Por que ele estava aqui? Ele não estava brincando com a filha dele?

— Não precisa. Eu gosto de caminhar. - Respondo com um aceno de mão.

Ele faz um barulho com a boca que parece muito com escárnio.

— São quarenta minutos andando em uma estrada de terra.

Quarenta minutos? Por que de carro parecia tão rápido?

E como ele sabe disso?

— Como você sabe disso? Não tem cara de que gosta de ficar andando de carro por aí.

Ele faz outro barulho e eu acabo achando engraçado. Mesmo sabendo que não deveria.

— Acontece que eu também tenho os meus momentos. Mas agora é sério, entra no carro. O tempo não parece tão bom assim.

Olho para o céu cheio de nuvens carregadas pensando no meu azar se começasse a chover agora.

— Eu tenho guarda-chuva e fora isso, não sou feita de açúcar, vai dar tudo certo.

Ele faz outro barulho que parece muito com um rosnar, o que só pode ser loucura porque homens normais não rosnam e o carro para.

A tensão começa a se espalhar por todo o meu corpo quando ele desce do carro e eu começo a apertar meu passo.

— Entra no carro! – Como se o tempo quisesse concordar com o ponto dele, o barulho de trovão corta o céu.

— Não, obrigada! – Falo sem olhar para ele e continuo andando rápido.

Uns segundos se passaram e eu achei que estivesse tudo ok quando gotas de chuva começam a cair e eu percebo que estou realmente ferrada.

— Mulher teimosa! Entra no carro! A chuva já está caindo e você vai acabar doente ou seu telefone vai estragar! – Ele grita com a voz muito próxima pro meu gosto, mas não cometo o erro de olhar pra trás.

— Tô nem aí. Já disse que não quero entrar no seu carro e você precisa respeitar isso, Dante Lombardi! Não é porque você é meu patrão que eu preciso de obedecer piamente. Fora daquela casa você não manda em mim! – Grito já completamente estressada com ela. Me viro e encaro aquele homem bonito demais pro meu gosto com a chuva moldando no seu peito a blusa molhada.

Ele parecia ainda mais bonito com aqueles olhos tempestuosos me encarando, e eu provavelmente estava um desastre e sim, provavelmente estava estragando o meu telefone que não podia me dar o luxo de perder agora.

Dante parecia lívido enquanto nos encarávamos por alguns segundos que parecem horas, quando ele finalmente toma uma decisão e logo eu encarava o chão, porque ele tinha colocado o ombro forte na minha barriga e me levantado. Meu rosto rapidamente estava na bunda dele e sendo carregada.

— Me bota no chão! – Grito enquanto a chuva se aperta ao nosso redor.

— Só depois que te colocar no carro, sua teimosa!

Percebi que não adiantava ser tão irracional porque realmente a chuva piorava e eu precisava preservar meu celular.

Dante abre a porta e me coloca no banco do carona, já clicando o cinto em mim e fechando a porta com raiva antes de dar a volta e sentar no seu assento de motorista.

— Me da o seu endereço e não me irrita mais, Ana. Não sei o que eu faço se você me testar mais uma vez.

No fundo eu sei que não deveria revidar ou discutir com ele, afinal, eu estava realmente sendo irracional.

Mas não podia evitar.

— Não pedi nada disso, então pode parando, ok?

Ele me dá um sorriso torto que novamente não deveria achar fofo, mas é.

— Sua sorte é que eu tenho treinamento com mulheres teimosas. Já sei lidar muito bem com uma.

E caramba, não deveria sentir ciúmes disso, mas como mais um dos sentimentos idiotas que eu tentava não sentir, o ciúmes me corroeu.

— Alguma ex sua, aposto. – Murmurei virando para frente, sabendo que isso estava bem longe do profissionalismo que devia ter.

Ele ri baixinho e eu acabo olhando de relance para ele.

— Minha filha.

E por incrível que pareça, não posso deixar de sorrir também com essa informação.

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Essa carona vai render...
Até semana que vem, pessoal!

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ENFIM, LIBERTAWhere stories live. Discover now