CAPÍTULO 14

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Me perdoem pela demora, fiquei muito doente e não tive nem cabeça pra fazer mais nada 😅, mas já agora já voltamos aos trabalhos...

ANA

Ontem tive mais um sonho.

Ou seria lembrança?

Cada dia que passa percebo que as coincidências são muito gritantes para serem só isso.

Mais uma vez eu estava correndo desesperada pela mata, sentindo a terra no meu pé e o medo no meu coração. Mais uma vez sentia os pintos de chuva começarem a cair na minha pele e o relinchar dos cavalos atrás de mim.

Era como se estivesse lembrando de uma parte horrível e ainda assim, não conseguisse entender o motivo.

Mas deixei isso para lá por enquanto porque tinha uma situação mais real que viveria hoje.

Minha entrevista de emprego.

Por isso passei a tarde com a minha irmã treinando boas respostas baseadas nos serviços de uma babá e acordei cedo para me vestir.

Escolhi uma calça jeans de cintura alta escura que abraça minhas curvas e uma blusa de manga longa e com gola no pescoço verde escura. Coloquei minhas sapatilhas e ajeitei meu cabelo o melhor que dava com aqueles cachos todos gostando de seguir seu próprio rumo quase sempre.  Fiz uma maquiagem simples e decidi que estava bom o suficiente.

Respirei fundo mais algumas vezes antes de descer para o café da manhã.

Sara já estava lá embaixo, ela só tinha se arrastado ainda de moletom só pelo cheiro da comida. Éramos fominhas desde crianças.

— Uau, tá na cara que esse emprego já é seu! – Disse ao me ver.

Bufo.

— Baseado na minha aparência? Mana, você é bem seletiva.

Ela dá de ombros.

— O que posso fazer? As vezes só tenho uma intuição e geralmente estou certa nela.

Acabo rindo baixinho disso e sigo para a mesa exposta da mais variadas opções de café da manhã. Pego uma torrada e coloco um pouco de ovos mexidos por cima, pego um pouco de salada de fruta, um copo de suco de laranja e um café.

Talvez eu pegue mais depois.

— Incrível como situações nervosas me deixam mais com fome do que sem apetite. — Resmungo ao dar a primeira mordida na minha torrada.

— No nosso caso é bom porque fomos as primeiras a acordar e tomar café. Então pegamos ele fresquinho. Já comi um pouco de tudo, mas acho que vou pegar mais um pedaço de bolo de laranja.  – Ela levanta com um sorriso e fico feliz ao vê-la assim.

Depois que nossa mãe morreu, foi como se algo também tivesse morrido dentro da gente. Ou que estivéssemos revisitando aquela sensação de abandono que tínhamos desde pequenas. Bem, eu revisitei.

Estava sozinha no mundo de novo e precisava me agarrar ao presente sem mergulhar nas amarguras do passado. Por isso acho que essa viagem de detetive mesmo que se torne infrutífera, trouxe um respiro para nós duas.

Dona Agatha escolhe aquele momento para sair da cozinha com um homem maior do que ela em todos os sentidos e que tinha um sorriso caloroso no rosto e a barba branca. Sério, aquele senhor daria um incrível papai noel.

— Bom dia, meninas! Acordaram tão cedo assim? Achei que fosse descansar mais depois da longa viagem.

— É que minha irmã tem uma entrevista de emprego. – Sara responde depois de voltar a se sentar com três pedaços de bolo.

Dona Agatha nos olha curiosa.

— E as férias?

— A verdade é que talvez passemos mais tempo que o planejado dona Agatha. Precisamos de um tempo sério da cidade, e por mais que tenhamos uma reserva, trabalhar também vai ser bom. Gostamos de ser úteis. – Respondo tentando não levantar mais questionamentos.

— O que me lembra que posso sempre ajudar na cozinha, hein? Eu sou confeiteira e me considero boa nisso, mas caramba, esse bolo de laranja supera qualquer coisa que já tenha comido.

Dona Agatha e o Papai Noel atrás dela sorriem.

— Meu marido que faz, esse é o meu Gus. Temos um cozinheiro aqui, o Júlio, mas o Gus adora entrar na cozinha também sempre que possível. Eu sou uma negação, mas adoro experimentar tudo que ele faz.

— Assim como eu adoro experimentar os da minha irmã. – Compartilho um sorriso antes de lançar um sorriso para o marido dela. — Prazer, seu Gus. Eu me chamo Ana e minha irmã Sara.

Ambas acenamos para ele que acena de volta com um sorriso.

— Vou voltar pra cozinha porque logo o pessoal desce com fome e o Júlio quer monopolizar tudo. – Seu Gus se despede e volta pela porra que leva a cozinha.

Olho para o relógio na parede e engulo o resto do meu café antes de sair da mesa.

— Temos que ir, Sara. Faltam quarenta minutos pra entrevista e temos que escovar os dentes e quem sabe chegar lá com uns dez minutos de sobra.

— Entrevista? Desculpa pergunta, mas é que conheço todos os lugares por aqui e...

Cidades pequenas... sempre fofoqueiras.

Trabalhar com a honestidade com uma pitada de caô é a melhor saída.

— Pra família Lombardi. A vaga de babá. Sempre amei muito crianças e acho que seria uma experiência legal.

De repente a feição da dona Agatha muda e ela nos olha mais apreensiva.

— Tem certeza? Acho que poderia encontrar um emprego mais perto.

— Ah, não encontrei nada em minhas buscas por aqui. Mas por que esse tom, dona Agatha? A senhora não gosta deles? – Ela deu a abertura que eu precisava. Só pela cara tinha certeza que sabia de alguma coisa.

E agora, toda informação era boa informação.

Ela balança a cabeça e sorri como se nada tivesse acontecido.

— Não, não. Só curiosidade besta mesmo. Tenho certeza que tudo vai dar certo pra vocês! Boa entrevista! Agora com licença que preciso ir pra entrada. – Ela nos diz antes de sair de fininho.

Encaro minha irmã que parece tão chocada quanto eu.

Parece que já tínhamos uma pista para seguir aqui. O importante era, quantas mais precisaríamos antes de saber tudo?

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ENFIM, LIBERTAWhere stories live. Discover now