CAPÍTULO 35 pt 2

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ANA

— Como assim? Qual foi a maldição de vocês?

Minha "tia" volta a beber um gole d'água e dessa vez me olha mais séria.

— Nós mulheres somos fadadas a ficarmos sozinhas. Nenhum relacionamento vinga, nenhum casamento permanece intacto, e isso porque fomos amaldiçoadas a relações afundadas. Adanna em sua tristeza imensa, condenou todos aqueles que de uma forma ou outra estavam envolvidos nessa história toda. Nenhuma maldição deixa pontas soltas.

Penso nisso com o coração apertado lembrando que nunca pensei ou quis ter alguém. Nunca nem pensei nessa possibilidade até o Dante. Sempre achei que o amor de relacionemos era algo supérfluo demais.

Limitado e limitante.

Agora, depois de me envolver com o Dante, eu entendo que não era isso. O amor na verdade só não tinha ele envolvido.

Queria gritar.

Desde o começo essa história toda me fazia querer gritar de indignação.

Me levanto precisando andar, pensar.

Levanto do sofá e digo para todos ficarem. Saio da casa de Ayo e ando um pouco mais pra floresta. Tentando me conectar com a natureza.

Eu e Adanna. Envolvidas em tramas mais fortes que nós mesmas. Sem controle do nosso próprio amanhã. Uma ligada a outra. Outra ligada a uma.

Já não aguentava mais. Já não queria saber de nada disso e estava de saco cheio.

Saco cheio de toda vez que descubro mais dessa história, é a parte mais fraca que sempre se arrebenta. Que sofre mais.

Pensava que era o Dante que me seguiria, mas foi minha tia.

— Por isso que fui abandonada? Por questões além de mim. E se tudo desse errado? Tudo podia dar imensamente errado.

Minha tia tem a capacidade de pelo menos ficar constrangida.

— Foi como te falei, você sempre esteve sendo vigiada. Pode ter sido errado o nosso meio de deixar o destino guiar você e confiar nisso, mas se você parou aqui hoje, foi porque tudo deu certo no final.

Eu poderia argumentar durante dias como essa fala era problemática e essa confiança no destino podia ter acabado muito mal. Terrivelmente mal.

Mas agora não tinha tempo e honestamente, não tinha nem mais vontade ou energia de entender mais nada.

Como eu faria justiça a uma mulher se nem conseguia fazer justiça a mim mesma? A minha história? E quando finalmente a minha vida não estaria mais ligada a dela?

Era tanta coisa pra processar em tão pouco tempo.

— Eu... eu preciso de tempo. Preciso sair daqui.

Sabia que ela queria contestar e falar mais alguma coisa, mas acho que só de olhar pra mim ela entendeu que não ganharia em nenhum argumento ali comigo.

Precisava me reagrupar.

Voltei para a casa e todos pareciam preocupados comigo, por isso entenderam a minha decisão e partimos o mais rápido possível.

Dante também tentou argumentar quando chegamos na pousada e pedi que ele fosse pra casa.

— Você não está bem. Esse encontro... isso foi muito pra você e muito pra mim.

Suspiro e coloco minha mão no peito dele, que logo ele pega essa mão e da um beijo.

— Já negligenciamos muitas coisas. A Maya deve estar preocupada porque você passou muito tempo longe e eu também preciso voltar para os meus deveres de babá. E-eu só preciso de hoje. Passar uma noite comigo mesma e meus pensamentos para que enfim eu chegue em alguma conclusão. Preciso desse espaço e acho que você também.

Ele me olha contrariado, mas acena concordando.

— Amanhã nos vemos, prometo.

Nos damos um rápido beijo antes dele seguir para o carro.

O detetive Pinheiros tinha se instalado em outro quarto e tinha se despedido de nós mais cedo.

Entrei meu quarto exausta e pronta pra desmaiar na cama. Mas primeiro fui tomar um bom banho e me lavar de tudo que soube até ali.

Quando sai, minha irmã estava na cama com uma bandeja cheia de coisas que amávamos. Doces, sanduíches, frutas cortadas e o vinho que eu tanto precisava.

Com o cheiro de banho tomado e fresca depois disso, pego minha taça e dou um bom gole antes de pegar dois morangos.

— Era isso que eu precisava. – Murmuro depois de mastigar os dois morangos e indo pegar um mini sanduíche.

Sento de pernas dobradas na cama e encaro minha irmã.

— E-eu... eu nem sei por onde começar. — Consigo dizer.

Minha mente estava cheia. Cheia de informações, cheia de pensamentos e conjecturas.

Minha irmã faz um coque no seu lindo cabelo cacheado e balança a cabeça antes de pegar sua própria taça de vinho e uns pedaços de queijo.

— Acho que agora você precisa reagrupar e decidir seus caminhos até aqui. Viemos aqui pra isso, não é? Pra descobrir sobre seu passado e como isso se entrelaçava com o da Adanna. Agora que sabemos sobre isso, você precisa decidir e só você pode tomar essa decisão.

— Mas o que eu decido? – Tomo mais um gole antes de soltar um longo suspiro. — Eu já entendi que a família do Dante que arruinou isso de muitas formas, mas como provo isso? Será que... eles guardam alguma prova disso? E se for possível e se essa prova existir, isso não prejudicar o Dante? A Maya? Não quero isso.

— Mana, você não percebeu? Ele mesmo já falou que não se importa com isso. E outra, eu entendo que você queira protegê-los, mas a sua missão aqui não é essa.

Liberdade.

Era nisso que eu tinha que pensar.

Como podia libertar sem machucar?

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