CAPÍTULO 6

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ANA

Acordo com a mão no coração como se tivesse tomado um susto e agora ele batia loucamente contra minha caixa torácica.

O que tinha acontecido?

Que sonho foi esse?

Abri os olhos muito rapidamente e por isso me peguei cega por um instante com a luz do sol pelas cortinas. Tive que parar por um segundo e me reorganizar mentalmente.

Era eu? Não podia ser eu. Aquelas lembranças não eram minhas.

Não podia ser...

Sentei na cama e levei um segundo para perceber que ainda dormia com tudo espalhado e o relicário ainda na minha mão, fechado pelo meu punho como se eu não quisesse soltá-lo.

Proteção.

Use-o.

Uma voz repetia isso na minha cabeça enquanto eu encarava aquele objeto que até ontem representava nada pra mim e hoje era parte da história da minha família.

Sem pensar muito, pego abro o cordão e coloco em mim. O cordão que prende o relicário é longo, então ele logo bate no peito, um pouco escondido.

Amuleto.

Era essa a sensação que senti quando ele bateu no meu peito. Era tão estranho que antes quem não tinha nenhum bem da família, agora tinha algo que parecia significar demais.

Parecia quase significar... tudo.

— Bom dia, flor do dia! – Minha  irmã falou antes de abrir a porta do meu quarto um pouco. — Posso entrar? Ah, acho que posso sim.

Rio baixinho antes de falar que ela pode sim.

Ela entra com uma bandeja cheia de coisas deliciosas de café da manhã, e isso me faz abrir um sorriso.

Sempre que tínhamos um dia ruim, qualquer uma de nós, nossa mãe entrava no nosso quarto com uma bandeja de gostosuras e um sorriso no rosto.

Ela senta na minha cama e a bandeja no meio da gente antes de cada um pegar um copo de suco ou xícara de café e um pão de queijo.

— Esses últimos tempos foram uma avalanche de notícias, boas e ruins. – Ela termina de comer e continua. — Mas agora temos um caminho que podemos seguir e temos que decidir o que fazer depois daqui. E outra, você confiou no investigador? Acreditou nele?

— Não temos muita escolha né?! – Respondo resignada.

— Acho que pelo menos podemos ver as novas informações que ele trás. E depois disso podemos desenhar um plano. Ontem fiquei pensando e percebi se nossa mãe fez isso pensando no nosso bem, podemos pelo menos procurar sobre isso, não é? Em memória dela.

— Em memória dela. – Respondo com um sorriso.

— Qual o nosso lema? Uma por todas e todas por uma. – Terminamos ao mesmo tempo.

— As três mosqueteiras. – Murmuro baixinho, bem emocionada.

— Vamos ver a sua situação que é a prioridade. A gente já sabe a minha... mas acho que se tiver a possibilidade, quero procurar meu pai biológico.

Suspiro.

— É estranho sabe? Tinha feito as pazes sobre não saber, sobre não ter as respostas e isso foi até antes da mamãe entrar nas nossas vidas. Agora... agora tenho vontade de saber e ao mesmo tempo medo.

— Medo? – Sara franze a testa antes dela mesmo se responder. — Acho que é natural termos medo, mas não é melhor irmos com medo mesmo? Já que nossa mãe quis buscar as respostas pra perguntas que um dia poderíamos ter, nada mais justo de irmos atrás disso.

Balanço a cabeça concordando.

— Você botou o relicário! Ele é simples e lindo. Leu também o caderninho?

Com ela falando, havia me dado conta agora do caderninho surrado na minha mesa de cabeceira.

Estava tão cansada ontem que nem percebi que não havia lido nada ainda e nem visto nada com calma.

— Ainda nada. Foi tanta coisa ontem, tanta informação que acabei apagando na cama na primeira oportunidade. Mas nem tenho tempo pra pensar nisso agora, logo a minha licença vai acabar é preciso voltar pra editora.

Minha irmã balança a cabeça entendendo. Tínhamos nossas vidas mesmo com o tratamento da mamãe ocupando uma boa parte do nosso tempo, essa descoberta toda meio que virou tudo de pernas pro ar.

— Podemos então esperar a resposta do investigador sobre a pista que ele tinha e daí continuarmos. Enquanto isso, você decide no seu tempo se quer ler e seguir em frente ou não. Já tomei minha decisão sobre tudo isso, mas ainda falta você também decidir.

Sara me olha decidida e me permito sentir isso também. Chega de não saber. Era a hora de deixar o medo de lado e abraçar essa história, seja ela qual for.

**

Já tinham se passado das oito da noite e ainda esperávamos o investigador que estava duas horas atrasado.

Será que algo havia acontecido?

— Será que ele meteu um caô na gente? – Minha irmã me questionando sofá.

Tínhamos uma pequena mesa de café e biscoitos esperando Davi Pinheiros desde as seis.

— Acho que pode ter acontecido um imprevisto, não sei...

De repente o barulho do celular da minha mãe tocando interrompe o nosso silêncio e eu atendo.

— Alô? Senhor Davi?

— Eu tinha certeza, certeza que algo estranho estava ligado ao seu passado, como se alguém quisesse muito manter tudo isso escondido, mas acho que descobri uma pista. — Davi falava apressado e havia um barulho atrás que parecia de carros em movimento.

— Pista? Que pista?

— Aquela família... sempre ouve algo suspeito sobre eles... talvez seja melhor você não saber mesmo...

— Que família? O senhor já está vindo pra cá? Está passando mal?

— Me ouça bem, Ana. Estou sendo seguido, desde que fui na joalheira. Então sugiro fortemente que não vá lá ou vão seguir você também. Não posso passar aí para deixar o que descobri, deixei em um lugar seguro que não vão achar.

Quanto mais ouvia, maior era a loucura que pensava disso tudo. O que estava acontecendo? Sendo seguido? Joalheria? Lugar seguro?

Um calafrio tomou conta do meu corpo que quase me fez largar o celular e me afastar disso, mas continuei firme porque me comprometi a descobrir a verdade.

— Qual o endereço? Me passa. – Pedi, fazendo sinal pra minha irmã me entregar um papel e caneta.

— Ouça bem, Ana. Cuidado com o que vai procurar, cuidado com o que vai achar. Vou sumir por uns tempos e averiguar algumas coisas com mais calma, mas acho que mexemos num ninho de vespas. Rua Osório,157, apartamento cento e cinco. O porteiro já sabe que deve permitir vocês de entrarem. Pegue o que tem lá e saia. Daí você decide o que fazer com tudo isso.

— Mas e o senhor? O senhor está bem? Não é melhor vir aqui?

— Não! Adeus por enquanto e cuidado...

Ouço um barulho alto antes da ligação cair e meu coração começa a bater que nem louco.

No que havia me metido?

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ENFIM, LIBERTAWhere stories live. Discover now