Capítulo 1.5

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Horas antes

–Não se distraia. – Foi tudo o que ele ouviu antes da "bokken" emitir um estalo surdo contra sua bochecha.

Yuuta cambaleou antes estatelar no chão da pista de corrida como um saco de batatas, segurando o rosto, tateando as maçãs doloridas de olhos arregalados. Maki girou a espada de madeira, uma das mãos na cintura e nariz empinado em sua direção. Os óculos dela brilham contra o Sol poderoso, e a garota mal parece suar diante do excesso de exercício físico. Tudo bem que é janeiro, o inverno rigoroso sopra lufadas de ar frio a todo momento e mesmo o suor parece congelar em sua testa... mas já estavam treinando por uma hora, sem pausas e os pulmões de Yuuta ardiam em quente e frio a cada respiração esbaforida. Vão explodir, certeza, vão explodir.

O chão é gelado contra as roupas acolchoadas de frio. As luvas parecem absorver tudo aquilo, endurecendo a ponta dos dedos quando ele impulsiona o corpo para cima, sentando... atordoado.

O mundo sempre parece ficar mais lento depois de uma cacetada bem dada e aquele golpe foi o mais dolorido que Yuuta levou hoje. A pista de corrida lhe pareceu um tanto tentadora - treinar o corpo ao invés da técnica, ouvindo o som gostoso das árvores e suas folhagens chacoalhando com o vento e descansar da surra... mas com a pancada, ele sentiu, realmente sentiu, o cérebro dar uma tremida e zunir.

Ele cairia se começasse a correr.

–Maki! Não precisa ser tão dura com ele. – Panda adverte, tal qual um irmão mais velho, mas não move um dedo para ajudar Yuuta a se levantar. Diferente dele e os outros dois colegas, tudo que Panda usa é um gorrinho vermelho tricotado. Ele coça as orelhinhas felpudas com as unhas grandes e diz, agora voltado para Inumaki Toge: – O crânio dele vai rachar desse jeito.

Maki toma fôlego, as narinas dilatando. Ela parece um dragão prestes a baforar fogo.

– "Salmon" – Inumaki responde, a voz abafada contra as golas altas de seu uniforme, concordando com a fala de Panda. Ele baixa o mangá que estava lendo, exibindo o olhar esperto de um gato na direção de Yuuta.

Aquilo chega no rapaz na forma de um arrepio violento.

–Como vocês falam umas coisas assim de forma tão casual? – Ele choraminga, sobrancelhas franzidas.

Toge arregala os olhos prateados, a pele tão branca quanto o cabelo bagunçado ao apontar para o amigo.

–"Tuna"!

Aquilo foi um aviso.

Um movimento captado pelo canto do olho. Yuuta desvia, rolando na poeira do campo quando Maki ataca novamente, mechas do cabelo verde se soltando do rabo de cavalo apertado.

-Para de chorar e se levanta. E vocês - Ela aponta a "bokken" na direção dos amigos, sentados nas arquibancadas como um bando de desocupados. Não deviam estar treinando algo também? Soltando uma nuvem fria ao expirar, ela xinga - se não ficassem tagarelando na cabeça dele, isso não teria acontecido. Distrações podem significar a morte em um campo de batalha.

𝙍𝙀𝙌𝙐𝙄𝙀𝙈, 𝔒𝔨𝔨𝔬𝔱𝔰𝔲 𝔜𝔲𝔲𝔱𝔞Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz