Capítulo 6

386 59 126
                                    

O corredor parece se repetir em um loop infinito. São sempre as mesmas salas quebradas, janelas e corredores adjacentes. Não tem fim, é isso mesmo? Sakura corre ainda à frente, tropeçando nos próprios calcanhares enquanto chora e murmura razoavelmente alto "isso não tá acontecendo, não tá". Não consigo imaginar o desespero de uma pessoa "normal" (diga-se, não feiticeiro) em um momento como esse.

Eu mesma quero chorar.

Arisu se agarra às minhas roupas, já chorando em silêncio também. Seu peso cansa cada vez mais meus braços melados e meus pés descalços doem. Estão gelados, rígidos e formigando.

Deus, eu só quero ter uma vida normal. Eu só quero voltar para o orfanato, tomar um banho e dormir.

-Sakura! - Grito seu nome. Não podemos ficar correndo desse jeito sem rumo, não posso segui-la. Estou por conta de Arisu e não de uma adulta desesperada! - Por favor, por favor para, a gente não corre na direção do perigo...

E mesmo assim, me pego quase suplicando a ela para desacelerar, pensar um pouco, só um bocado. Por que ela parece estar jogando a vida dela fora? Quem arrisca tudo assim por alguém que nem é tão importante?

-Nós não podemos deixar ele sozinho aqui! - Reprimo uma série de xingamentos bem horrorosos com o resto de minha energia e paro. Os músculos de minha perna ardem só de ver a ruiva se afastar cada vez mais... até sumir de minha vista. Por favor... por favor...

-Kate? - Arisu puxa minha blusa, consigo ver o quão inchados estão seus olhinhos fechados. - Tá tudo bem? Onde aquela moça foi? É amiga sua?

-Ela... - Tomo fôlego. O cansaço me faz querer ficar em silêncio. - Sim... Ela... - a raiva é um borrão vermelho sangue em meus sentimentos. É claro que ela é minha amiga.

Posso não a conhecer tanto, ela é uma colega de meu novo trabalho e eu fui admitida só ontem! Mas... porra, que burrice! Como ela faz isso comigo? Como ela simplesmente corre na direção do perigo. Ela espera que eu vá atrás? Com uma criança no colo? Por Deus, é tanta coisa.

Choro, mas minhas pernas voltam a se mover pelo ou menos. Tem ranho, lágrimas e fios de cabelo na minha cara. Devo estar horrível, mas não parada. Nunca fique parada em um lugar como esse.

-A gente vai sair, Arisu. Eu vou te tirar daqui. Me desculpa, por favor, me desculpa.

Arisu não diz mais nada antes de voltar à mesma posição de antes. Ela é rigidamente obediente e isso me faz lembrar do momento em que a vi do meu lado, na porta do restaurante. Se meu corpo não estivesse sendo controlado pela maldição desgraçada, eu jamais teria trazido ela até aqui. Mas, honestamente? Não acho que ela foi arrastada.

A criatura provavelmente só pediu para ser seguida e Arisu aceitou sem desconfiar de nada. A maldição se aproveitou de sua inocência e confiança em mim para colocá-la em perigo.

𝙍𝙀𝙌𝙐𝙄𝙀𝙈, 𝔒𝔨𝔨𝔬𝔱𝔰𝔲 𝔜𝔲𝔲𝔱𝔞Where stories live. Discover now