Capítulo 3

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Meu telefone desperta e meu subconsciente me acorda, me situando da localização antes que eu abra os olhos. A fresta da janela aberta dá passagem ao ar fresco e a do luz do sol invade, contrastando a roupa de cama cor creme, com seus tons de alaranjado. Desligo meu despertador das oito da manhã e ligo para minha mãe , já que na noite anterior só deixei uma mensagem quando lembrei-me do fuso e cai na cama. Ela não me atende, deve estar em algum plantão cobrindo alguem. Meu estômago ronca, enquanto vagueio pelas redes sociais me lembro que ontem não jantei. Levanto da cama, vou até a janela e escancaro para apreciar a paisagem de árvores verde vivo. Os picos das montanhas ao longe e o vento fresco são uma combinação que faz meus pulmões vibrarem. Respiro fundo, aproveitando o que há de melhor em ter uma vista assim. Spokane é linda e tem lindos bosques, mas o ar daqui é diferente, é selvagem e revigorante.

Ponho a banheira para encher, vou até a mala e pego o short que um dia foi uma calça, que eu adoro. Tenho planos de explorar o exterior, por isso tiro também uma camiseta gasta e confortável e separo meu chuck taylor vermelho desbotado. Ponho a banheira para encher, vou até a cômoda e ajeito algumas camisetas, blusas e despejo o saco com toda minha roupa íntima para uma das gavetas. O armário tem espaço de sobra então arrumo os poucos pares de sapatos que tenho e vejo que eles dançam com todo o espaço a volta. Checo a banheira e ainda falta um tanto, então penduro jaquetas e algumas peças que precisam de cabides. Sou adepta de jeans então pego os meus e os ajeito no espaço do armário junto com algumas blusas e três vestidos que trouxe para ocasiões que talvez eu precise de algo mais especial. Tiro da mochila um casaco leve, meu laptop cansado que dá conta do recado, além documentos e coisas pessoais que encontro rapidamente um lugar para guardar. Enfio a mala dentro do armário e corro para o banheiro.

Despejo sais e tudo o que está à minha disposição, faço um coque no cabelo que ainda está sujo e aproveito a água deliciosa e relaxante. Observo a vista externa através da parede envidraçada. Cada banho será uma terapia. Trinta minutos depois, estou revigorada e pronta para encarar meu primeiro dia na casa nova, com meu pai e a família dele. Minha família agora. Desço as escadas em busca de comida com o estômago roncando cada vez mais alto e atravesso a sala rapidamente, decidida a encontrar comida. Passando pela mesa gigante da última ceia, observo o lustre luxuoso sobre ela e que eu não tinha notado ontem, o objeto alivia a pressão rústica da madeira, fazendo com que o ambiente não seja menos que chique e sofisticado.

Um movimento chama a minha atenção de volta para a sala. Raul está aqui. Passei pelo meu irmão e não o vi sentado no sofá. Com os olhos vidrados no telefone, ele parece relaxado e despreocupado. Embora eu saiba que Raul me adora, respiro fundo antes de me aproximar, minhas mãos começam a transpirar. Raul é alto, eu não o vejo desde que tinha 16 anos e algumas espinhas. Os cabelos estão muito maiores do que quando nos vimos por chamada de vídeo 4 meses antes, aliás, eu não lembrava que ele tinha os cabelos tão claros e ondulados. Vestindo branco com jaqueta jeans e calças pretas, meu irmão parece não se incomodar com o fato de eu ter passado direto por ele. Caminho em direção a ele com expectativas de começar a relação que eu sempre desejei ter com ele: proximidade e carinho.

— Raul, oi. — Antes que ele erga os olhos, ouço uma voz dizer atrás de mim. — Lys, finalmente irmã. — Eu congelo. O constrangimento de não reconhecer meu irmão e não ter a menor ideia de quem seja o garoto que estive prestes a abraçar, me faz paralizar.

Raul me abraça, levantando-me do chão, dando um giro de 360 ​​graus comigo nos braços. Sinto o calor do seu carinho por mim ao mesmo tempo que fico nervosa por estar na mira dos olhos do garoto sentado. Meu irmão, o verdadeiro, me põe no chão — Elysia Brooks Costa, você cresceu! Seja bem vinda, estávamos ansiosos pela sua chegada.

— Obrigada Raul, de verdade. — Eu digo ajeitando o coque bagunçado no topo da cabeça enquanto o garoto sentado me encara com olhos curiosos.

A presença de Raul me faz esquecer quem sou e onde estou, e por um momento, um breve momento, eu sinto uma alegria me invadir, uma sensação de conforto. Meu irmão me olha nos olhos, eu vejo carinho e amor nele. Segurando meus ombros com ambas as mãos, encara meus olhos com seu melhor e maior sorriso, eu tenho certeza. O verde vibrante dos olhos que herdou do nosso pai, são de satisfação e alegria. Seu cabelo escuro, volumoso e bem alinhado combina com seu rosto pequeno, e embora ele seja alto e tenha alguns músculos visíveis por cima da camiseta de gola polo, meu irmão tem traços femininos como nariz pequeno e maçãs perfeitas. — Vou te mostrar a cidade e apresentar alguns amigos. Você vai amar viver aqui Lys. — Ele diz e me abraça mais uma vez, beijando meu rosto dos dois lados. É tão genuino cada gesto dele que me faz sentir feliz, não que meu pai e Vivian não tenham me recebido bem, mas meu irmão me faz sentir algo que eu não sei explicar.

— Ah, antes que eu me esqueça, este é meu amigo Leon Castillo — ele gesticula com a cabeça na direção do garoto sentado. Olhos azuis penetrantes alcançam os meus quando ele se levanta e vem em minha direção. Muito alto, Leon Castillo tem corpo atlético, pele bastante clara, um queixo quadrado e nariz expressivo. Com o cabelo loiro e charmoso caindo na testa ele me encara e eu estendo a mão, mas ele ignora e toca meu ombro com as duas mãos, beijando os dois lados do meu rosto. — Elysia, prazer finalmente te conhecer.

Sentindo a pressão das enormes mãos nos meus braços, apenas sorrio, sem graça — O prazer é meu.

— Seja bem-vinda e conte comigo para o que precisar. — Uma charmosa piscadela escapa de seus olhos. Ele vira-se e com uma das mãos cumprimenta Raul com um movimento que parece ensaiado e íntimo entre eles.

Minha barriga roncou dando sinal, me tirando do momento em que babo olhando o garoto lindo se movimentando bem em frente aos meus olhos. Caramba, que olhos.

— Raulzito, as meninas chegaram — diz o loiro de olhar de oceano mortal, indo em direção a porta por onde Raul entrou três minutos antes.

— Irmã, tenho que mesmo que sair, me desculpe e fica a vontade, nós voltamos logo. Minha mãe e o papai saíram, eles contavam que você ficaria na cama até mais tarde.

Meu irmão dá dois beijos rápidos no meu rosto e sai em direção a porta seguindo o loiro, desaparecendo em instantes. — A casa é sua, por favor aproveite. — ele grita, sem que eu possa vê-lo.

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