Capítulo 1

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Depois de um dia longo e exaustivo de trabalho, finalmente cheguei em casa, sentindo cada músculo do meu corpo clamar por descanso. Deixei minha bolsa e sapatos na entrada e afundei no sofá, deixando um suspiro profundo escapar dos meus
lábios. O apartamento estava mergulhado em um silêncio acolhedor, e a suave luz de fim de tarde filtrava pelas cortinas, trazendo uma calmaria para meu peito. Era um alívio estar em casa, naquela tranquilidade, sabendo que finalmente poderia me permitir um momento de paz e recuperação na movimentada vida em Seul.
Enquanto relaxava em meu sofá perdida em meus próprios pensamentos, o som familiar do meu celular interrompeu o silêncio da sala. Levantei-me e peguei o aparelho, vendo o nome de Joon piscando em letreiro luminoso em minha tela. Com um sorriso curioso, atendi a ligação, me perguntando qual seria o motivo dessa chamada inesperada.
- Ei, Alice, tenho um convite e não aceito não como resposta! - A voz animada ecoou pelo telefone, instantaneamente me puxando para uma conversa que eu sabia que mudaria o curso do meu dia.
Após apenas cinco minutos de conversa, meu amigo de infância já tinha conseguido me convencer a comparecer à festa em sua casa. A situação era compreensível; afinal, Mariana, minha melhor amiga, estava prestes a chegar após um longo voo do Brasil para me visitar. Sabia que negar uma festa, que seria a maneira perfeita dela aproveitar seu primeiro dia na Coreia, poderia resultar em sua ira, algo que eu queria evitar a todo custo.
Assim, fiz o que era de se esperar: configurei o alarme no meu celular e tirei uma breve soneca revigorante, preparando-me para absorver toda a energia de Mariana e Joon para a longa noite que estava por vir.
...
Com o coração acelerado de antecipação, eu caminhei pelo corredor do aeroporto, meus olhos atentos a cada rosto que passava. A ansiedade crescia a cada passo que eu dava, sabendo que minha melhor amiga estava a apenas alguns instantes de sair daquele portão de desembarque. Depois de um voo tão longo do Brasil para a Coreia, eu mal podia esperar para finalmente vê-la novamente. Minha mente divagava entre lembranças de nossos momentos juntas e a expectativa da aventura que teríamos nos próximos dias.
Assim que nossos olhares se encontraram na multidão, um sorriso instantâneo iluminou meu rosto. Corri em direção a ela, sentindo meu coração vibrar com tanta alegria. O abraço que compartilhamos parecia conter todos os momentos que havíamos perdido desde o nosso último encontro. A risada contagiante de Mari preencheu o ar, como uma melodia familiar que trazia conforto imediato. Era incrível como, mesmo depois de tanto tempo separadas, nossa conexão permanecia inabalável.
- Você não faz ideia de quanto eu senti sua falta! - Exclamei, envolvendo Mariana em um abraço apertado. Ela riu, retribuindo o abraço com entusiasmo.
- Eu também estava morrendo de saudades! Passei horas pensando na comida coreana que vou devorar! - Rindo junto, soltei-a.
- Você não mudou nada, amiga. A comida sempre em primeiro lugar. - Ela fez uma careta divertida.
- Hey, prioridades, certo? E falando nisso, tem algum lugar bom para comermos?
- Nem me fale! Tenho um lugar em mente. Mas antes, adivinha o que mais temos planejado para hoje? - Falei, com um sorriso travesso.
- O quê? – Disse arqueando as sobrancelhas.
- Uma festa! - Anunciei.
- Sério? Você é incrível! No meu primeiro dia na Coreia? - Seus olhos se iluminaram.
- Claro! Sabe como é, uma recepção adequada para você. – Ela riu.
- Mal posso esperar para ver o que você aprontou!
- Prometo que será épico. Agora, me conte tudo sobre a viagem!
E assim, entre risadas e histórias engraçadas sobre a viagem, começamos a planejar nossa noite enquanto guiava a garota pelas animadas ruas de Seul.
Chegamos ao restaurante que eu tinha em mente, suas luzes vibrantes e a deliciosa fragrância de pratos coreanos tradicionais nos envolvia. À medida que nos acomodávamos, pude ver seus olhos brilhando de excitação e curiosidade, pronta para mergulhar em uma experiência gastronômica única.
Enquanto examinávamos as opções no cardápio, mal conseguia conter minha expectativa de testemunhar a reação dela ao provar os autênticos sabores coreanos pela primeira vez. Antecipava com grande interesse as expressões em seu rosto. Com as nuances entre a comida brasileira e a daqui, estava realmente ansiosa para que ela vivenciasse o impacto cultural diretamente através do paladar.
- Ok, desembucha logo! Onde vai rolar essa festa e que horas? Mal posso esperar! - Ela disparou com ansiedade.
- Vai começar as 22 horas – Disse tentando prolongar o que eu iria dizer a seguir, mas sem muita opção do que falar, fui direto ao ponto. - Então, lembra do Joon, meu amigo de infância?
- Aquele que te faz dividir a pizza e vive dizendo que as asiáticas são imbatíveis, enquanto as brasileiras nem aparecem no radar? - Ela perguntou fazendo uma careta.
- Não é bem assim, Mari. Ele só tem as preferências dele e... bem, as brasileiras não estão no topo da lista. - Tentei ajustar o entendimento dela.
- Pra mim, isso soa igualzinho. - Ela deu de ombros.
- Mas não é. - Rebati com um olhar repreensivo. - De qualquer forma, a festa vai ser na casa dele. Ele chamou alguns amigos, não vai ser nada grandioso, uma espécie de reuniãozinha, talvez. Mas tenho certeza de que você vai curtir, ele tem uma forma única de conduzir as coisas. Aliás, vocês vão se dar superbem. – Ela revirou os olhos.
- Tá bom, tá bom, então vamos encher a pança logo, só pra eu poder fazer minha transformação e arrasar, fazendo esse coreano convencido perceber que as brasileiras também dão um show.
- Isso aí! - falei, pegando um dos meus hashis e levando o primeiro pedaço de topokki até a boca.
Presenciar Mariana enfrentando a comida coreana pela primeira vez foi como assistir a um espetáculo de reações descontroladas em seu rosto. Seus olhos se arregalaram como se tivessem encontrado um alienígena no prato, seguidos por uma careta que parecia uma imitação engraçada de quem tinha acabado de experimentar algo ultra-picante.
- É... é um desafio para o paladar - Ela disse, com a voz oscilando entre o espanto e o humor. Foi como se estivéssemos em um episódio de um programa de TV, e eu só conseguia rir enquanto ela tentava desvendar os sabores do nosso tempero.

Além do EstrelatoWhere stories live. Discover now