Capítulo 16

39 4 0
                                    

Ao retornar ao apartamento, já era noite, e eu havia deliberadamente demorado na estrada para processar os eventos recentes que estavam tumultuando minha vida. Antes de entrar em casa, parei em um mercado para comprar alguns mantimentos. Nos últimos dias, com a correria e minha amiga ausente, tínhamos sobrevivido principalmente a entregas de frango, e a despensa estava quase vazia.
- Oiii, cheguei!!! - Exclamei, enquanto jogava as chaves do carro sobre a cômoda e tirava meus sapatos.
O carrinho de compras que o prédio disponibilizava estava logo atrás de mim, mas eu estava pouco disposta a empurrá-lo para dentro. Em menos de um segundo, não me restou escolha, pois Belinha correu na direção do carrinho para fiscalizar cada sacola de compras. Ela era incansável e não descansaria até farejar cada pacote.
- Ué, onde está a Mari? - Perguntei enquanto acariciava a cabeça da pequena. No entanto, ela não respondeu, como eu gostaria que tivesse feito e simplesmente caminhou em direção ao quarto da minha amiga.
Ao abrir a porta do quarto, ouvi o som do chuveiro e vi o vapor escapando pelo vão da porta. Decidi deixá-la em paz enquanto organizava as compras e preparava o jantar para nós.
A exaustão me acompanhava em cada movimento que fazia na cozinha. A comida estava quase pronta, mas a cama parecia me chamar muito antes disso. Peguei meu celular em busca de notificações, mas tudo o que encontrei foram e-mails relacionados ao trabalho e outras mensagens insignificantes em comparação com o que eu estava esperando.
...
Passada uma hora desde minha chegada, Mari ainda não tinha saído do quarto. Comecei a ficar preocupada com o que poderia ter acontecido e decidi enviar uma mensagem:

"Você está viva ou algo assim?" - perguntei.
"O quê?" - veio a resposta.
"A comida está pronta."
"Como assim?"
"Venha comer!"
"Mas onde você está, garota?"
"Na cozinha, caramba!!!"

Dentro de pouco tempo, ouvi seus passos e a vi surgir no corredor. Ela estava linda como sempre, mesmo de pijama. Mari tinha essa capacidade de ser linda o tempo todo. Sua cintura fina e quadris largos eram encantadores, assim como seu cabelo de fogo, seus olhos cor de mel e as sardas que salpicavam seu rosto. Ela era perfeita, e às vezes, olhar para ela era o suficiente para melhorar meus dias.
- A que horas você chegou? - perguntou.
- Há mais de uma hora - respondi.
- Como você está?
- Um pouco cansada, mas no geral estou bem. E você?
- Bem, graças a você - me lançou um sorriso sincero, olhando em direção a comida.
Ela se aproximou, e enquanto conversávamos, nos servimos do jantar. Mari começou a falar sobre seu dia, o trabalho e as notícias do mundo real. Era revigorante ouvi-la e mesmo com as recentes complicações em minha vida, eu sabia que estava em boas mãos com minha amiga ao meu lado. Mas a inquietude em sua perna me mostra que algo a estava incomodando.
- O que foi vai, fala logo – pedi.
- Você não vai contar tudo? - me olhou com curiosidade.
- Contar tudo?
- Sim, sobre essa loucura de viagem de última hora, o que aconteceu? Sei que está guardando algo, Alice.
Ela me conhecia muito bem, e eu não podia esconder nada dela por muito tempo.
- Eu conto, mas antes, quero saber um pouco mais sobre o seu dia amiga - Sorri, tentando adiar o momento de revelar os eventos recentes.
Ela suspirou e começou a descrever sua rotina em cada misero detalhe desnecessário, pontuando até suas idas no banheiro e sua preocupação com Belinha e a bagunça que havia feito enquanto eu estivera fora. E a cada palavra eu estava me arrependendo mais e mais de não ter ido direto ao ponto.
- Bom, então... – a cortei, respirando fundo. - Vou te contar tudo.
Assim que eu comecei a contar o semblante de Mari passou de curiosidade a preocupação. Ela ouviu atentamente, sem interrupções, enquanto eu descrevia tudo, desde minha partida repentina até o encontro com JungKook e as circunstâncias em que nos encontramos.
Quando terminei de relatar os acontecimentos, Mari ficou em silêncio por um momento, absorvendo tudo o que acabara de ouvir. Seus olhos refletiam apreensão e eu sabia que aquilo era preocupação de irmã, de família.
- Alice, isso é... muito. - Ela finalmente conseguiu falar. - Você não acha que está se envolvendo demais nisso? Sabe, ele é alguém público e isso já é fodido para caramba por si só. Ser amiga dele já está sendo complicado, imagina... imagina se vocês deixarem algo acontecer, imagina se esse sentimento que você sente por ele, esse negócio de fã, virá algo mais?
- Eu sei – acabei por me sentir culpada por arrastar minha amiga para o meu caos. - Eu não planejei tudo isso. Apenas aconteceu e não foi nada de mais, é só minha mente sozinha criando fanfics e paranoias.
- E o que você planeja fazer agora? – perguntou.
- Nada, combinamos que esqueceríamos isso.
- Talvez você devesse conversar com ele sobre o que está sentindo – sugeriu.
- Nunca! Somos amigos e vamos continuar assim. Eu não quero nada com ele e nem ele comigo. Simples assim.
- Tabom teimosinha. Só não fale que eu não avisei.
Após a conversa, terminamos o jantar, a mais nova decidiu que iria lavar a louça para que eu pudesse me banhar e descansar e foi exatamente isso o que eu fiz, caindo sobre os braços de Morfeu.
...
A manhã seguinte trouxe um sopro de normalidade à minha vida. Assim que o despertador tocou, saltei da cama e me dirigi diretamente ao chuveiro. Deixei a água quente relaxar meus músculos cansados e acalmar a confusão mental que estava me consumindo.
Após o banho revigorante, dediquei um tempo para minha rotina de cuidados pessoais, aplicando maquiagem e vestindo um elegante vestido midi que realçava minhas curvas. Completei o visual com um par de saltos confortáveis, o que me fez sentir uma verdadeira empresária. Olhei para o espelho e soltei um assobio de aprovação antes de seguir para a cozinha.
Mari já estava lá, preparando o café da manhã. A atmosfera estava consideravelmente mais leve do que na noite anterior.
Enquanto nos sentávamos para comer, ela continuou contando sobre seu dia de trabalho e suas atividades cotidianas. Era reconfortante ouvir histórias normais e temporariamente deixar de lado os eventos caóticos dos últimos dias.
Meu celular vibrou, chamando minha atenção, e vi o nome de JungKook piscando na tela. Ele havia me enviado uma mensagem, pedindo desculpas por não ter entrado em contato antes e perguntando se eu havia chegado bem de viagem.
- Ah, Kookie me mandou uma mensagem. - Comentei, levando um gole de suco à boca.
- Sério? O que ele disse? – ela estava claramente interessada.
- Ele só está perguntando se eu cheguei bem de viagem - respondi, tentando parecer indiferente.
- É um gesto legal. Você deveria responder - sorriu.
- Claro, vou fazer isso. – Digitei uma resposta rápida, agradecendo-o por sua preocupação.

Além do EstrelatoWhere stories live. Discover now